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domingo - 25/08/2019 - 06:44h

Área com 496 cavernas precisa ter proteção federal

Por Josivan Barbosa

No último dia 09 de agosto aconteceu o primeiro Seminário do Turismo de Felipe Guerra. O encontro contou com a brilhante participação dos principais expoentes da Secretaria Estadual de Turismo, representantes do Governo Municipal e da Assembleia Legislativa e teve, ainda, uma expressiva participação da sociedade local, envolvendo microempresários e ONGs e a comunidade em geral (veja AQUI).

O foco do evento foi a Área de Proteção Ambiental (APA) Pedra de Abelha ou outro modelo jurídico que venha a ser adotado para o parque de cavernas, cachoeiras e o Lajedo de Felipe Guerra.

Caverna do Crote, fotografada por Canindé Soares, é um dos espaços à espera de exploração sustentável em Felipe Guerra

A criação de Unidades de Conservação (UC’s) tem sido o principal instrumento para a manutenção da biodiversidade, tendo se mostrado eficiente e necessária até que a sociedade seja capaz de gerenciar os recursos naturais de maneira sustentável. As primeiras UC’s foram criadas durante o século XIX objetivando preservar paisagens de relevante beleza cênica para as futuras gerações, mas foi durante o século XX que este instrumento se popularizou devido ao conhecimento das altas taxas de extinção de espécies, resultando na criação da maioria das áreas protegidas atualmente existentes.

APA Pedra de Abelha II

Áreas como essas cavernas, cachoeiras e lajedos de Felipe Guerra apresentam severas dificuldades quanto à definição de estratégias de conservação em virtude da fragilidade intrínseca dos sistemas, que dependem da permeabilidade hídrica, e das distintas características da biodiversidade associada. A presença de espécies com alto grau de endemismo, com especializações evolutivas ao sistema subterrâneo, em geral dependentes da importação de recursos do ambiente epígeo e que apresentam uma elevada sensibilidade a flutuações climáticas ambientais, são alguns dos fatores que indicam a fragilidade destas comunidades.

APA Pedra de Abelha III

Esta área que representa a maior concentração de cavernas do Estado, 496 (de acordo com o CMBio) nos municípios de Felipe Guerra, Governador Dix-Sept Rosado e Caraúbas, permanece fora de áreas protegidas. A área apresenta ainda o patrimônio espeleológico com a maior relevância no RN. Portanto, precisamos nos unir e acelerar o processo de transformação da área num modelo jurídico adequado e que seja um catalisador do turismo regional, trazendo benefícios para a população local e tornando o município de Felipe Guerra como diferenciado na atração de turistas.

APA Pedra de Abelha IV

Nesse sentido já há um importante artigo científico publicado com o objetivo de apresentar a proposta de criação de uma UC Federal, a Área Proteção Ambiental (APA) Pedra de Abelha, visando à conservação e uso sustentável do patrimônio espeleológico da região. No artigo são apresentados uma caracterização da área e compilação das informações atualmente disponíveis sobre o patrimônio espeleológico ali existente, um levantamento dos impactos, atuais e potenciais, aos quais esse patrimônio está exposto, a relevância da área frente ao atual cenário da conservação da Caatinga e do patrimônio espeleológico e, por fim, o trabalho mostra a área proposta para a criação da UC e as justificativas da escolha do grupo e categoria de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

APA Pedra de Abelha V

No artigo científico (veja referência no final da coluna) é revelado que são conhecidas atualmente 496 cavernas na área da proposta, sendo 354 em Felipe Guerra, 125 em Governador Dix-Sept Rosado e 17 em Caraúbas, totalizando 52,3% das cavernas conhecidas no RN.

Caverna Catedral no Lajedo do Rosário em Felipe Guerra, uma atração turística pouco explorada (Foto: Fernando Chiriboga)

Os atributos biológicos elevam a maioria das cavernas à relevância máxima: 24 podem ser consideradas habitats de troglóbios raros, endêmicos ou relictos. Em Felipe Guerra: gruta dos Troglóbios, caverna dos Crotes, gruta dos Três Lagos, caverna da Rainha, caverna Abissal, gruta da Carrapateira, caverna da Rumana, caverna do Complexo Suiço, Lapa I/Engano, caverna da Seta, caverna do Chocalho, caverna do Urubu, caverna do Pau, gruta do Geilson, caverna da Descoberta, caverna do Trapiá e caverna Boa. Em Governador Dix-Sept Rosado: gruta da Boniteza, gruta da Capoeira de João Carlos, caverna do Marimbondo Caboclo, caverna da Água, gruta do Poço Feio, caverna Boca de Peixe e caverna do Lajedo Grande.

APA Pedra de Abelha VI

O artigo científico mostra ainda que em relação a impactos em função de visitação desordenada até o momento não foi identificada na área da proposta nenhuma caverna com turismo sistemático, ocorrendo apenas visitação esporádica e na quase totalidade dos casos realizada por pessoas das comunidades próximas às cavernas.

Em função disso, apenas quatro cavernas (0,8%) apresentam impactos causados por visitantes: a gruta dos Três Lagos e a caverna da Catedral, em Felipe Guerra, e a gruta do Poço Feio e a gruta do Cabaré, em Governador Dix-Sept Rosado. Apesar do pequeno número de cavernas, com exceção da gruta do Cabaré todas as outras são de relevância máxima, o que torna necessárias medidas urgentes visando à conservação das cavernas e entorno.

APA Pedra de Abelha VII

Finalmente o referido artigo mostra que a criação da APA Pedra de Abelha resultaria em um acréscimo de 26,75% na área oficialmente protegida no Estado, percentual que se elevaria a quase 94% se considerados apenas ambientes terrestres. Considerando apenas a área protegida sob regime federal o acréscimo seria de 165,5%, mas o enorme ganho seria para a conservação do Bioma Caatinga, já que a área oficialmente protegida sextuplicaria (aumento de 604,4%).

Isso, no entanto, apesar de ser um enorme avanço, mostra o quanto o bioma permanece esquecido no que se refere à conservação já que a área de Caatinga protegida representaria apenas 2,25% da área de ocorrência do bioma no RN.

Fonte: ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL PEDRA DE ABELHA: PROPOSTA PARA A CONSERVAÇÃO DA MAIOR CONCENTRAÇÃO DE CAVERNAS DO RIO GRANDE DO NORTE

Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa)

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Honório de Medeiros diz:

    Excelente!

  2. Q1Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Prof. Josivan, sempre brilhante. Que beleza extrema a dessas cavernas! Ecossistemas delicados, merecem amparo federal para que sejam preservadas não apenas pela lindeza cênica como também pelas informações que podem fornecer no estudo da arqueologia, geologia, paleontologia, etc…
    Vale ressaltar o aspecto da atração turística que resulta em divisas para o município onde se encontram.

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