O “camaradinha” Caby Costa Lima procura-me para ingente tarefa. Ciente de que estou sempre com “um monte de coisas para não fazer”, cobra-me o prefácio do seu mais novo livro: “Azougue.com 5”.
Na verdade, até hoje não entendo o porquê do nosso autor não ter sido ungido à Academia. De tiro, claro. Como alvo, que se diga.
Prefaciando-o, logo me constituo seu cúmplice. Sob ameaça, pois.
Caby, tirando todos os defeitos, é gente boa.
Com Azougue.com 5, derivação de site que o sustenta há anos, ele ratifica um trabalho continuado de memorialista, sob um viés incomum. Não conta história, não exuma gente e fatos como os autores clássicos.
Ele reproduz o que ficou congelado no tempo, lá atrás, num trabalho de reconstituição documental fascinante. A gente se reencontra em cada esquina, rua, praça ou naquele carnaval que passou.
Somos flagrados “desabonitados” ou apolíneos. Deparamo-nos com um lugar qualquer do passado e, nessa linha do tempo, somos lágrimas diante da imagem de quem partiu ou rimos de nós mesmos.
Reminiscências e experiências passadas eclodem numa mistura palpável e sistêmica em cada página de sua publicação.
Na era cibernética, em que todo o mundo está em nossas mãos, num Smartphone, ele confronta o virtual com a matéria: papel, gente, coisas e fatos parecem que batem à nossa porta; convidam-nos para entrar.
Seu livro, o 36º, tem robustez própria para servir de calço para porta e fazer volume na estante. Mas ninguém ouse utilizá-lo embaixo daquela perna de mesa que insiste em não se equilibrar no chão.
Brincadeirinha, caríssimo leitor.
O lúdico e a troça também fazem parte dessa obra, como espelho do próprio autor. Seu livro, então, é um pouco ele: feito, pronto, mas mesmo assim inacabado.
É um título para a gente dividir com a família, ser folheado entre amigos ou mandarmos para a Faixa de Gaza. Serve para realimentar antigas antipatias, refazer afetos dispersos ou estimular armistícios.
Com seu jeito despojado e “fora de época”, que caberia como uma luva na série “Do bumba”, Caby encarna um tipo de vida e de indivíduo escasso por aqui. Consegue ser a mesma pessoa há décadas ou séculos, mas com uma espantosa capacidade de adaptação ao moderno.
Paradoxal, paradoxal!
Talvez ele seja mais uma prova de que o darwinismo esteja certo. Mantém-se vivo por aprender cotidianamente a se encaixar nas exigências de cada dia, no ecossistema humano. Mas por favor: não o tenham como a evolução da espécie.
O publicitário, o editor de livros, o promotor de eventos musicais, o dirigente e narrador esportivos, o radialista que teima em tratar Roberto Carlos intimamente por “Bebeto Carlos”, parece personagem saído de alguma crônica de Antônio Maria, rabiscada – à madrugada – no balcão de alguma boate carioca nos idos de 50.
Luís Fernando Veríssimo adoraria conhecê-lo. Não tenho dúvidas. Confrontaria-o com o “Analista de Bagé” ou a “Velhinha de Taubaté”. Botaria-o sobre tamancos, como o “Camaradinha de Mossoró”.
Seria o nada “óbvio ululante” de Nelson Rodrigues, tricolor como ele e eu.
O pai de Alice e Alice, não é nenhuma maravilha, concordo. Contudo é o que temos por enquanto.
Sujeito de muitos livros e de algum cabelo, sua idade é inconfessável – mesmo sob doses cavalares de Campari (argh!). Nada que um exame de carbono 14 e goma na bacia não identifiquem, acredito.
Antes que ele corte meu texto e me demita da condição de prefaciador oficial, sem pagar meus cevados honorários, paro por aqui.
Com licença. Vou virar a página e começar a folhear “Azougue.com 5”.
A missão.
Carlos Santos, escritor mundialmente desconhecido e jornalista nacionalmente ignorado.
* Texto originalmente publicado como prefácio do livro “Azougue.com 5”, de Caby da Costa Lima, lançado no dia 13 de março de 2015. A foto que ilustra essa postagem é mais recente, em que eu e Caby emolduramos Padre Sátiro Cavalcanti Dantas. Singela homenagem a quem me tratava com profunda reverência e caudalosos elogios, por “Do suspensórios” ou apenas… “Carlão”. Obrigado, Camaradinha! Vá em paz.
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Carlos ,
Não poderias ter escolhido nenhuma outra forma melhor, que esta pra homenagear o nosso ex-companheiro de rádio de Mossoró, o eterno, irreverente e insubstituível CAMARADINHA, através deste Prefácio transcrito.
De e onde Kaby se encontra neste instante estará a te aplaudir e reconhecer como um génio das letras. Neste momento, com certeza ele estar a somar no universo celestial para viver na bem-aventurança dos justos. E com cecerteza tambem aqui, irá nos fazer falta, por que sua maneira de viver só ele sabia desempenhar com maestria.
Com sua permissão Carlos nós “colamos” ESSE TEXTO NO BAR DE FERREIRINHA.Olha meu irmão esse cara vai fazer muita falta,pode ter certeza.
NOTA DO BLOG – Obrigado, meu caro amigo. Vai, sim. Nós sabemos.
Abração a todos do Bar de Ferreirinha aí em Caicó.
Por esses dias arrancho por aí novamente.
Só fiz chorar, Carlos Santos, lendo sua “crônica despedida”.
Lembrei de Caby aqui no Rio e de nosso encontro na Feira de São Cristóvão, para a qual nos convidou. Noite maravilhosa. Não podia ir a Mossoró, então, Caby trouxe Mossoró para mim. Sérgio e eu pisamos em solo mossoroense e nos divertimos à valer, ao som da alegria inteligente de Caby, de sua versatilidade encantadora.
Gostaria que a família dele soubesse que essa noite foi uma das melhores de nossas vidas .
Caby, sua presença no meu coração é preciosa!
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A morte de Caby, assim como a de outros nomes que nos tem deixado (Tasso Rosado, Milton Marques, Lupercio Azevedo, Manoel Barreto…) é a imagem de uma Mossoró que está indo embora.
” Mundialmente desconhecido e nacionalmente ignorado”. Excluindo o “jornalista”. Se eu citação da mesma, adicionarei o crédito. Amei essa frase.