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quinta-feira - 06/04/2017 - 10:46h
Abandono

“Coleção Mossoroense” retrata face real da “Capital da Cultura”

Por Caio César Muniz

Conheci a Fundação Vingt-un Rosado um ano após a sua criação. Fui levado por Cid Augusto para iniciar o processo de publicação do meu primeiro livro. Naquele ano também surgiriam para a nossa literatura os poetas Marcos Ferreira e Genildo Costa, Cid Augusto já estava na seara, já era gente grande.

Em 1999 fui procurado por Vingt-un Rosado para digitar UM livro, depois, sem uma conversa prévia, digitei dois, três, mil livros… Me tornei um auxiliar próximo de Vingt-un. Que sorte a minha! Não pelo emprego, mas pela oportunidade da convivência. De 1999 a 2005 tive um aprendizado sem igual.

Acervo da "Coleção Mossoroense", um trabalho de muitas décadas, virou amontoado de papel e caixas (Foto: Caio César Muniz)

O dinheiro da Fundação vinha de pequeno convênio quase permanente com a Prefeitura Municipal de Mossoró. Nos tempos de Vingt-un ele comprava de papel, de insumos gráficos, depois, com a necessidade de sairmos do ambiente familiar da casa de Vingt-un e ocuparmos um espaço mais neutro, este pequeno convênio servia para pagar o custeio da Fundação: (aluguel, água, luz, telefone, funcionários).

Nunca foi pago em dia, mas saía. Firmamos convênios paralelos, mas específicos para fins de publicação, não podiam ser aplicado e outros fins.

Desde o final do último mandato da prefeita Fafá Rosado (PMDB) a coisa começou a ganhar conotações catastróficas. Os atrasos se tornaram muito grandes e as renovações não aconteceram. Também foram ignorados por Cláudia Regina (DEM) e por Francisco José Júnior (PSD).

Com isto, há cerca de quatro anos, a coisa se tornou insustentável. Era preciso Reduzir custos ao máximo e a Fundação deixou uma sede ampla e acolhedora para ganhar rumos incertos.

Uma organização do acervo, realizado por professores e alunos do curso de História da UERN, foi por água abaixo. Três ano de trabalho e recursos jogados fora.

Aquela mudança dividiu o acervo: uma parte para o Museu do Sertão, na comunidade de Alagoinha, mal acondicionado, empilhado, exposto à umidade e poeira. Outra parte foi para uma residência em um bairro de Mossoró.

Nestas mudanças, sem pessoas qualificadas para tal, só Deus sabe o quanto foi perdido de obras raras da biblioteca particular de Vingt-un, de documentos, de obras da Coleção.

No final do mandato de Francisco José Júnior, para dar uma resposta, mesmo que rasa e paliativa, os acervos foram novamente transferidos de ambiente, agora para o piso superior do Museu Lauro da Escóssia.

Empilhado, empoeirado, sem acesso ao público. Novamente imagine-se no quanto se perdeu do acervo pela má condução.

Nós, os funcionários, fomos dispensados, não havia mais como arcar com a bola de neve que estava se tornando o atraso de salários. A gráfica foi desativada.

Há de se ressaltar aqui o empenho do diretor-executivo Dix-sept Rosado Sobrinho. Somos testemunha do seu esforço, até aqui em vão para erguer a Fundação.

Retirou do seu próprio bolso, comprometendo inclusive seu patrimônio pessoal, recursos consideráveis até aqui.

Agora o acervo faz a sua quarta mudança de local. Vai para a Biblioteca Pública Ney Pontes Duarte. Confio na inteligência e experiência de pessoas como Eriberto Monteiro e Maurílio Carneiro, além de Raniele Costa,que continua realizando o seu trabalho junto à Fundação.

Acho que, enquanto a Fundação Vingt-un Rosado não tiver uma sede própria, ela não estará segura. Assim, mesmo sem apoios financeiros, ela estará guardada em definitivo em local apropriado.

Aos chefes da política e da da cultura de Mossoró, só um pedido: não deixem este patrimônio se perder (mais ainda), tenham sensibilidade para com o nosso passado para que tenhamos um futuro mais digno.

PS: Hoje (06 de abril) a Fundação Vingt-un Rosado completa 22 anos. Em sua história, nada, nunca foi fácil, mas agora está muito, mas muito pior.

Nota do Blog – Em Mossoró, há a disseminação errônea de que vivemos numa “Capital da Cultura”. O epiteto não lhe cabe. É outra falácia, outra mentira deslavada que faz parte da construção de um imaginário de poder, carregado de personalismo politiqueiro.

Na verdade, Mossoró é cemitério da cultura. Os casos se multiplicam, com destruição do seu corredor cultural arquitetônico – também por muitos Rosado, que se apresentam em propaganda como seus guardiões.

E tudo pode ficar ainda pior, pois a prioridade é a “política de eventos”, para parecer que se faz cultura e continuar mitificando gente que entende e gosta de cultura, tanto quanto eu de física nuclear.

Pobre Mossoró!

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Categoria(s): Artigo / Cultura

Comentários

  1. Marcos Pinto. diz:

    Relato comovente de uma triste e inadmissível realidade, que tem como funesto palco a tal “Capital da Cultura”. Parece até que vivemos cenas dantescas, cheias de labaredas de indiferença e vil letargia, onde quem mais deveria fomentar a cultura (município de Mossoró e estado do RN) se transformaram em alucinantes e lancinantes algozes. Imagino como devem estar sofrendo os nossos saudosos historiadores Raimundo Soares de Brito e Vingt-Un Rosado – O Mecenas de todos os tempos. Até quando perdurará esse dolente espetáculo de abominável abandono ?. Oremos, pois, para que alguma alma caridosa se compadeça e envide esforços para que, como a lendária ave Fênix, a indômita e magnânima COLEÇÃO MOSSOROENSE ressurja das cinzas e resplandeça outra vez os raios da cultura, deixando um rastro de luz intelectual e cognitiva nas paralelas da cultura mossoroense. O amigo e Poeta Caio Muniz, de tanto lutar contra esse desalentador cenário, mais parece o Cavaleiro Sancho Pança, montado em seu cavalo Rocinante, enfrentando moinhos de ventos movidos por verdadeiras almas sebosas, que cruzam os braços e nada fazem pela cultura mossoroense.

  2. Carlos André diz:

    Isso é uma vergonha, o acervo deveria ter uma andar exclusivo na biblioteca municipal de Mossoró, espaço tem de sobra o que falta é boa vontade dos parentes do finado Vingt-un Rosado.

    Uma vergonha!!!!

  3. Elves Alves diz:

    Lamentável saber que quase tudo em Mossoró funciona na base do compadrio. A “Terra da Liberdade” precisa abolir esse modelo tosco, que desestimula e tolhe o surgimento de novos valores na comunidade.
    Já passa da hora de o povo mossoroense apropriar-se de sua cidade e tomar posse de si mesmo.

  4. George Duarte de Lima diz:

    Parece que já arrumaram esses livros, cultura em Mossoró inexiste, com algumas exceções, Mossoró sonha ainda em ser a capital da cultura, nem secretario tinha a poucos dias do maior evento da cidade.

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