• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 30/03/2008 - 00:33h

Descubra sua vocação e seja feliz

Há pouco tempo, conversei com meu amigo Flávio Gikovate sobre um tema em que se especializou – felicidade. Achei interessante o que ele me disse sobre como ser feliz a partir da vocação profissional.

Segundo Gikovate, entre outros motivos, é feliz a pessoa que consegue descobrir sua vocação profissional e tem condições de se dedicar a essa atividade. Concordo com ele. Trabalhar com prazer é sinônimo quase perfeito de felicidade.

Por isso, cada um deve perseguir o sonho de encontrar uma profissão pela qual se apaixone e sinta prazer em se dedicar a ela. A realização desse sonho depende de vocação, preparo, oportunidade, sorte e muita dedicação.

De nada adianta se preparar se não existir vocação. A oportunidade talvez nem seja percebida se não houver preparo. A sorte só mostrará sua face diante da oportunidade. A dedicação só será produtiva se a sorte indicar o caminho certo.

Minha história é uma conjugação de todos esses ingredientes. Não planejei ser professor de oratória. Na verdade eu nem sabia da existência dessa atividade até o dia em que o destino me levou à escola do professor Oswaldo Melantonio.

Eu tive um amigo que era extremamente tímido – ficava ruborizado só pelo fato de ser apresentado a alguém. Ele sofria muito por ser assim e me confidenciou que gostaria de mudar, de ser diferente, mais desembaraçado e comunicativo.

Procurei um meio de ajudá-lo e descobri que na Rua Bela Cintra, em São Paulo, havia o curso de comunicação verbal do professor Oswaldo Melantonio. Eu nunca ouvira falar nesse tal professor e no seu curso, mas disseram-me que ele era muito competente.

Em uma quarta-feira à noite fomos assistir a uma aula de apresentação do curso para saber qual era a proposta do professor. Meu amigo gostou da aula, mas não teve coragem de continuar. Eu, entretanto, que não tinha a mínima intenção de participar de um curso que ensinava a falar em público, fiquei maravilhado com o que presenciei.

Nunca na minha vida vira nada igual. Naquela noite, ao voltar para casa, não consegui dormir, repassei mentalmente cada detalhe daquela experiência – os temas que foram abordados, a atmosfera da sala de aula, a inteligência, a cultura, a competência e o carisma daquele professor.

Foi uma noite que mudou minha vida.

Durante muitos anos freqüentei aquela escola como aluno, depois como assistente e posteriormente como professor do curso. Quando penso no professor Oswaldo Melantonio, a primeira imagem que me vem à cabeça é a da sua figura sorridente, esfregando as mãos ao entrar pela porta da frente na sala de aula.

Com barba sempre bem-feita, terno impecavelmente passado, camisa branca de colarinho engomado, sapatos lustrosos e bochechas rosadas, reluzentes. Diante da sua figura, ninguém mais continuava falando, os alunos emudeciam em uma espécie de reverência àquele que tanto admiravam.

Sua figura era eloqüente e às vezes eu chegava a pensar que muito desse magnetismo era produzido pelas suas bochechas rosadas, que davam mais vida ainda à sua expressiva fisionomia.

Posso afirmar que o professor Melantonio era eloqüente o tempo todo – desde os momentos de maior arrebatamento, quando os temas viajavam entre a história, a política e a filosofia, passando pelos momentos mais plácidos (se é que placidez alguma vez esteve presente no seu comportamento), até os instantes em que estava em silêncio, apenas querendo ouvir e observar.

Às vezes o professor Melantonio parecia ser eloqüente pela voz, em outros momentos pelos gestos, em outros ainda pelo olhar, permanentemente vivos por trás das lentes dos óculos, mas me surpreendia ao notar que sua eloqüência existia ainda no silêncio.

Sua eloqüência estava em cada detalhe da comunicação. Na maneira correta de usar a linguagem, sem afetação. Pelo estilo natural e elevado como se dirigia aos alunos. Falava com alma, com vivacidade. Como ele mesmo dizia – com anima e cuore.

Em época recente, ao visitar nossa escola, do alto dos seus 80 e tantos anos, usou a palavra para falar diante de um público numeroso que lotava o auditório e, com o mesmo sorriso simpático de sempre, como se avisasse que já tinha a platéia na mão, empolgou a todos – com anima e cuore!

Durante todos esses anos ouvindo o professor Melantonio nunca o vi tratar de um tema pelo qual não estivesse apaixonado. Falava com paixão da esposa Margot, dos quatro filhos, dos pais, dos alunos, do Corinthians, do socialismo e da sua eterna e inseparável amante, a oratória.

Essa era sua pregação às dezenas de milhares de alunos que preparou: – Apaixone-se por uma causa, não importa qual seja, a religião, a política, a família, o trabalho, a educação, enfim, apaixone-se por uma idéia que julgue valer a pena defender.

De todos os méritos do professor Melantonio, o mais admirável foi sua habilidade em descobrir qualidades nas pessoas. Impressionava ainda mais a maneira como as elogiava. Sempre com sinceridade.

Se alguém pegar carona no meu carro provavelmente irá ouvir um dos CDs com uma aula do professor Melantonio, que gravei há mais de 30 anos, na época em que trabalhei como professor na sua escola. Se olhar atentamente na minha biblioteca, encontrará um enorme livro de capa preta, em que encadernei as apostilas do seu curso no período em que fui seu aluno.

Se assistir às minhas aulas, ou às minhas palestras, e já tiver tido algum contato com o mestre, ficará surpreso com a semelhança do estilo e da maneira de falar.

Sinto orgulho de ser seu discípulo e seguidor do seu trabalho. Tive muita sorte em tomar a iniciativa naquela longínqua quarta-feira de levar meu amigo tímido para conhecer sua escola.

O mestre não me ensinou apenas a falar em público, preparou-me para fazer o que ele mais sabia – me ensinou a ensinar.

Foi o professor Melantonio quem propôs meu nome para ser um dos membros titulares da Academia Paulista de Educação. Na minha posse tivemos um momento de grande emoção ao nos abraçar. Naquela noite, mesmo sem precisar dizer palavras, sabíamos que em algum lugar no tempo o destino havia reservado algumas páginas comuns para a história das nossas vidas.

Espero que você tenha tido a sorte, ou ainda venha a ter, de encontrar uma pessoa que sirva de referência e de estímulo para suas realizações. Às vezes essa pessoa já existe e não nos damos conta – pode ser uma antiga professora lá do curso primário, um chefe, um amigo, um tio, enfim, alguém que com seu exemplo e orientação nos ajude a pegar o rumo da vida com as mãos firmes e o coração confiante.

Acima de tudo, tomara que, como eu, você encontre a pessoa que o ajude a descobrir sua verdadeira vocação, que lhe sirva de estímulo para que se apaixone por uma atividade. E que você seja feliz, muito feliz com a profissão que abraçar.

Reinaldo Polito, professor de oratória

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Categoria(s): Fred Mercury

Comentários

  1. Eriberto Suassuna diz:

    Prezado amigo Carlos Santos. Acabo de ler o seu texto para Laura. Ela vive atormentando-me com esse tema, querendo que eu indique para ela a profissão que deverá escolher. Tenho certeza que daqui para frente ela irá pensar diferente, e, ver que não é tarefa dos pais escolher a profissão dos filhos. Muito obrigado pela ajuda e um grande abraço.

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