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domingo - 19/05/2019 - 04:20h

Drogas, mitos e ciência na era dos absurdos

Por Roncalli Guimarães

Proponho-me a prestar alguns esclarecimentos à população em geral sobre a dependência química, assunto esse muito propagado nos últimos dias em nossa cidade pela mídia e redes sociais, de forma distorcida. Infelizmente, essa polêmica acabou sendo produzida por um colega psiquiatra.

Antes de tudo há uma diferença entre usuário de droga e dependente químico. Droga não é prática ou problema da sociedade atual. Praticamente todas as civilizações tiveram uso de alguma droga, seja ópio ou maconha – desde a antiguidade.

No início, o uso de drogas tinha um motivo místico, religioso e servia inclusive como um dos motivos de organização social. As pessoas acreditam que a alteração da consciência era um presente dos deuses.Com o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, as sociedades foram se organizando e começaram a migrar do campo à formação de cidades; surgiram as grandes navegações e com ela a destilação de álcool em alta escala. Ou alguém poderia imaginar que aventureiros desbravassem os oceanos, enfrentando medos e tempestades de cara limpa?

Com a Revolução Industrial, a divisão de classes ficou mais nítida, com os trabalhadores imprensados em guetos sub-humanos. Daí, passaram a enfrentar esse enorme nível de estresse e sofrimento com o uso de drogas de forma recreativa e também pelos motivos sociais e psicológicos.

Evoluindo mais adiante veio a contracultura na década de 60 e com ela a explosão do uso de drogas em todas as camadas sociais, sem citar os períodos de guerra, como a do Vietnã, onde houve uma disseminação do uso de heroína.

Relatei esses fatos para neutralizar a hipocrisia quando se fala de drogas.

Cientificamente o uso, abuso e males provocados por substância foram investigados e hoje à luz dos conhecimentos atuais foram descobertos fatores genéticos e psicossociais. No caso da diferença química, critérios clínicos bem fundamentados definem a doença que acomete um percentual  dos usuários das mais diversas substâncias. Portanto há uma tendência atual de descriminalização, de políticas de redução de danos e prevenção do uso em algumas populações como adolescentes portadores de deficiência mental e grávidas.

Quero enfatizar com isso a minha preocupação com possível retrocesso quanto a políticas sobre drogas, já que um médico psiquiatra e presidente de partido divulga informações delicadas, culpando drogas como pano de fundo para a desestruturação do ensino público, que para mim caminha paralelamente com a absurda tentativa desde governo de acabar o ensino de filosofia e sociologia.

Não podemos formar advogados, juristas, sem que eles saibam filosofia clássica. Não podemos formar engenheiros sem que conheçam a geometria analítica descoberta por René Descartes, que era um filósofo. Não podemos formar psiquiatras que desconheçam as ciências sociais ou os conceitos filosóficos de fenomenologia que até hoje pautam os critérios diagnósticos de psiquiatria.

Se a forma de pensar dos representantes desse governo continuar com esse posicionamento, iremos regredir. Excluir a ciência é voltarmos a acreditar nos mitos, se é que me entendem.

Roncalli Guimarães é médico Psiquiatra do Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas CAPS AD II – Mossoró

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. François Silvestre diz:

    Muito bom. Parabéns pela aula. Texto para ser repercutido!

    • Francisco César. diz:

      Bem diferente da opinião do defensor e chefe do partido e sábio presidente Bolsonaro aqui em Mossoró. Ao tentar justificar a aberração dos cortes na educação brasileira.

  2. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Com já enfatizou o grande François Silvestre, belo, conciso e necessário artigo à ser devidamente repercutido….!!!

    Em resumo, o médico Psiquiatra Roncalli Guimarães, de maneira sucinta e didática e brilhante, nos falou da imprescindibilidade das Ciências Humanas, filosofia e sociologia, dentre outras, na formação de qualquer profissional que no seu agir, tenha no seu mister, responsabilidade profissional e cidadã.

    Nessa tangente, a cultura da leitura,e, conseqüentemente da possibilidade de reflexão sobre temas centrais da chamada era moderna, não só se faz necessária como inescapável na busca da formação cidadã, e, por via de consequência da formatação de uma sociedade que ao mesmo tempo, divirja e se respeite na condução do debate, seja ele com relação ás drogas e os cidadãos eventualmente dependentes, bem como todo círculo familiar e social, que de forma direta e indireta tem relação coma possibilidade compreensão e de mitigação dos vários problemas inter relacionados e interdependentes.

    Infelizmente, o chamado senso comum, ainda em pleno século XXI, não possui a devida compreensão de como e do porquê , dessa relação tão paradoxal e conflituosa da sociedade com as drogas, se ela própria, fabrica, consome e ao fim e ao cabo demoniza e criminaliza de forma absolutamente autoritária e irresponsável, todo o processo do qual ela, de uma forma direta e indireta é parte, indissociável.

    Nesse contexto, oportuno não esquecermos que a maneira estúpida, tacanha e alienada como tradicionalmente se combate as drogas em grande parte do mundo e, especialmente no Brasil. Deveras é a grande responsável por esse redemoinho de infindáveis conflitos, no que resulta essa colossal bola de neve de crimes, corrupções e mortes violentas que dia- a-dia se renovam tal e qual uma fênix das trevas coletivas.

    Nesse sentido, indico a leitura do LIVRO – PRINCIPIO DA PROPORCIONALIDADE E GUERRA CONTRA AS DROGAS, do Professor e Advogado: OLAVO HAMILTON FREIRE DE ANDRADE, disposto através do site da Amazon, à qualquer cidadão que verdadeiramente queria LER, se informar, refletir e tomar uma posição civilizada sobre o tema em foco.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  3. Altamira Soares diz:

    Texto excelente!!!

  4. Rosilene Rocha Soares Pinto diz:

    Excelente texto!! Espero que seu colega psiquiatra seja leitor desse blog, pra ver se ele aprende e deixe de dizer asneiras!!!

  5. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Parabéns, Dr.Roncalli Guimarães. Texto explicativo, aula .

  6. daniel lima sampaio diz:

    venho esclarecer como médico psiquiatra formado na UFRN, professor universitário do curso de medicina da UERN, membro da associação brasileira de psiquiatria, membro da comissão de defesa profissional da associação norte rio-grandense de psiquiatria, psiquiatra concursado do hospital psiquiátrico são Camilo de Lellis e do ambulatório das prefeituras de Mossoró e Assú, que a opinião do colega Roncalli não acompanha a opinião da associação brasileira de psiquiatria pois estamos conseguindo vários avanços em relação as políticas públicas sobre drogas, a exemplo da lei Osmar Terra PLC 37/2013 que reorganiza a atenção da saúde pública em relação as drogas. o colega Roncalli, por não participar das reuniões das associações de psiquiatria, não sabe que fizemos reuniões com o senador Styvenson e o deputado federal General Girão, assim como com os presidentes das associações brasileira e sulamericana de psiquiatria onde foram tratadas as questões das droga e do suicídio. o Colega Roncalli, por não trabalhar no hospital psiquiátrico são Camilo pois foi convidado a sair por todos os psiquiatras os quais mantém uma relação de desconfiança e falta de empatia, não esta bem informado das novas diretrizes da saúde mental no Brasil emitiu uma opinião onde faltou com a verdade em relação a uma entrevista concedida por mim a TCM na qual declarei que o contingenciamento de verbas para as universidades federais era uma medida infelizmente necessária, a governadora Fátima esta fazendo o mesmo contingenciamento na UERN, pois o pais está quebrado e não tem recursos, mas, peço ao mesmo que assista a entrevista na integra, entrevista que que não foi colocada por completo no blog de pouca credibilidade que a divulgou, peço também que as pessoas que emitiram opinião assistam a entrevista da TCM pois recebi críticas por frases que foram descontextualizadas mas que na entrevista esta muito claro. também me surpreendi com você Carlos Santos pois estivemos juntos em uma reunião há 15 dias e me coloquei a sua disposição para entrevistas, falei com você no gabinete do deputado Alyson, o qual você frequenta, que estou disposto a falar sobre saúde mental e espero que em outras oportunidades você lembre de Dr Daniel.

    • Carlos Santos diz:

      NOTA DO BLOG – Boa tarde, doutor Daniel.

      Recomendo que o senhor escreva um artigo, assim como ocorreu com seu colega de profissão, Roncalli Guimarães, sustentando suas teses.

      Em momento algum tratei ou tratamos dessa questão, quando conversamos pela primeira vez há cerca de nove dias. O senhor deu entrevista à TCM e o assunto sequer foi postado minimamente em nossa página.

      Conversamos sobre política e questões do PSL local e no RN. Ficamos até de dialogar posteriormente, para amiudar determinado ponto de abordagem. O senhor Alexandre Nóbrega, do seu partido, certamente lembra e endossa minhas palavras.

      Abraços.

  7. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Em resumo, o mavioso DANIEL SAMPAIO, que por que quer que voltemos à idade média, inclusive no que concerne ao tratamento de pacientes acometidos por dependência de drogas, os chamados adictos.

    Não à toa, posto que, todo e qualquer brasileiro de bom senso, independente da sua posição política, sabe que, principalmente os milicos e os eleitos pelo PSL, querem literalmente rasgar a Constituição de 1988, e claro, imporem sua visão absolutamente obscurantista em todas as vertentes convivência social em nosso país.

    Pra quem não sabe, a Constituição de 1988, é, deveras uma Carta Política, por demais bem formatada e com viés eminentemente cidadã. Com um norte político/ideológico à lá social democracia implantada na Europa nos anos 50, quando o Estado de Bem estar Social, efetivamente começou a ser construído em grande parte dos países, não só europeus, bem como alguns países asiáticos.

    No caso, claro, óbvio e ululante, que jamais o teor da Constituição de 1988, ainda não efetivamente implementado de fato e de direito em nosso país, interessaria nem à direita política em nosso país, e muito menos à extrema direita, atualmente institucionalmente representada na figura obtusa, reacionária e nazifascista, chamada JAIR MESSIAS BOLSONARO.

    Observem que o nominado, obscurantista e atabalhoado médico contraditado em sua maviosas posições à procura de caça às bruxas, faz questão de enumerar os inúmeros e supostos grandiloquentes diplomas que possui e adquiriu no curso da sua breve e oportunista carreira, com certeza pautado no tradicionalismo excludente e mercantilista da formação medica em nosso país, no qual as grades ensinadas nas faculdades de medicina, efetivamente, são elaboradas plea industria farmacêutica internacional, onde se afigura cada dia mais, o paciente, deveras, tão somente como um número.

    O fato da desmedida e desumana expulsão dos médicos cubanos (MÉDICOS SABIDAMENTE HUMANISTAS, OS QUAIS, DE FATO, TÊM COMO PRÁXIS MEDICINA, DEVERAS PREVENTIVA, AO CONTRÁRIO DE GRANDE PARTE DOS MÉDICOS BRASILEIROS, CUJO DESIDERATO, É TÃO SOMENTE, ENRIQUECER ÀS CUSTAS DA MISÉRIA E DO ABANDONO DA MAIORIA DOS BRASILEIROS) , deixando ao leu e ao manifesto estado de calamidade milhões de brasileiros vulneráveis, bem explicita o suposto humanismo e a capacidade de pensar dessa maviosa figuras políticas.

    A fala do Sr. DANIEL SAMPAIO, quando fala da arregimentação de vários milicos e laranjas travestidos de parlamentares federais, em clara tentativa de legislar em prol da aprovação leis Obscurantistas, deixa claro e, sem nenhuma margem de dúvidas, ao fim e ao cabo, do quão acertado foi a sintética fala/sintético do médico psiquiatra: Roncalli Guimarães.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

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