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sábado - 20/07/2019 - 07:48h
Mossoró

Os 100 anos da histórica Igreja de São Vicente

Por Geraldo Maia

A Igreja de São Vicente de Paula, que fica na Avenida Alberto Maranhão, no Centro de Mossoró-RN, foi  inaugurada no dia 20 de julho de 1919, e vem prestando serviços religiosos até os dias atuais. A ideia da sua construção surgiu mais ou menos no ano de 1915, no seio das confrarias vicentinas, sendo a sua pedra fundamental lançada a 3 de outubro de 1915, com ato oficiado pelo padre Elesbão Gurgel.

Os idealizadores da capela foram: Manoel Tavares Cavalcante, que era mais conhecido por Capitão Zeta, Francisco Borges de Andrade, Natanael Luz, Silvino Bernardino de Souza, Genuíno Alves de Souza, Antônio Francisco da Costa e Domingos Matias da Costa.

Igreja de São Vicente foi ponto decisivo da resistência de Mossoró em 13 de junho de 1927 (Foto dos anos 20: reprodução)

Dois fatos, no entanto, marcaram a existência daquele templo: a seca e o cangaceirismo.

Como já foi dito, o início da construção da Igreja de São Vicente deu-se no ano de 1915, ano esse em que o Nordeste brasileiro sofria com uma terrível seca. O historiador Raimundo Brito, em trabalho publicado sobre a Igreja de São Vicente diz que “os serviços da construção do templo serviram para amenizar o sofrimento das numerosas levas de retirantes que aqui chegavam tangidos pelo flagelo da grande estiagem”.

Das mãos fracas de famintos retirantes surgiram os tijolos e a cal que foram usados para erguer o templo.  O dinheiro que ganhavam, apesar de pouco, era o que amenizava a fome.

O professor Almeida Barreto, em um dos capítulos das suas memórias dizia: “Aquele templo é uma dádiva de suor, sangue e lágrimas dos retirantes de 1915. Merece um poema à memória de um êxodo forçado”.

E o próprio professor Barreto faria esse poema, quando apelava: “Mossoroenses, quando passardes diante da Igreja de São Vicente de Paula, prestai o vosso culto, não só ao orago do templo, como aos seus construtores, quase todos desaparecidos já, porém, ainda mais rendei o vosso preito àqueles humildes grandes, que fabricaram, de graça, o material para o citado templo”.

O templo permanece até hoje com o mesmo estilo idealizado pelo arquiteto Francisco Paulino. Quase nada mudou em sua arquitetura.

Um outro fato marcante é que em 13 de junho de 1927, quando a cidade de Mossoró foi atacada pelo bando de cangaceiros chefiados por Lampião, a Igreja de São Vicente serviu como trincheira para os defensores da cidade, sendo de sua torre que partiram os tiros que mataram o cangaceiro Colchete e feriram Jararaca, que posteriormente veio a ser justiçado em Mossoró.

A resistência encontrada pelos facínoras fez com que os mesmos fugissem no que ficou conhecida como sendo a primeira grande derrota de Lampião, derrota essa que fez com que até o fim dos seus dias, não mais perturbasse a paz no Rio Grande do Norte. Foi uma grande vitória do povo mossoroense, vitória essa que é lembrada até os dias atuais, e que teve como comandante maior o prefeito Rodolfo Fernandes.

Daí porque muitos se referem à Igreja de São Vicente como sendo a Igreja de Lampião, ou a “Igreja da bunda redonda”, por assim ter sido chamada pelo chefe dos bandidos.

Da luta dos flagelados da seca de 1915 para erguer o templo, nada se comenta. Esse fato a poeira do tempo apagou. Da importância da Igreja na defesa da cidade contra os cangaceiros, sim.

Esse episódio fez com que a Igreja se tornasse um ponto turístico da cidade de Mossoró. Sua imagem ficou associada a esse fato de tal maneira, que não se fala em cangaceiros em Mossoró sem se referir a Igreja de São Vicente.

Por tudo isso é que a Igreja de São Vicente de Paula é considerada um monumento histórico da cidade de Santa Luzia de Mossoró.

Geraldo Maia é escritor e pesquisador

* Texto originalmente publicado em O Mossoroense Online.

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Categoria(s): Gerais

Comentários

  1. Q1Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Texto bonito. Traz a lembrança de pessoas importantes na construção da Igreja São Vicente de Paula. Aquelas que, fugindo da seca impiedosa, aplacavam sua fome enquanto erguiam o templo.
    Parabéns, Geraldo Maia. Registro necessário que o tempo não pode apagar.

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