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domingo - 24/01/2021 - 06:44h

Saudade (muita e prazerosa) que não passa

Por Paulo Menezes

Estou hoje, início de 2021, na varanda do meu “cantinho” na Praia do Meio em Natal, que como se vê na foto maior nessa crônica, tem uma vista privilegiada da ponte Newton Navarro, estuário do rio Potengi, dunas, e das lindas águas verde-azuladas do mar.Praia do Meio, Ponte Newton NavarroCurtindo uma boa leitura e sentindo suave brisa numa rede branca com lençol bastante usado, bem macio, cheirando a guardado. A visão panorâmica de uma beleza sem par do majestoso oceano sempre me leva a Tibau. Retorno aos meus sonhos. Esteja eu onde estiver.

Tibau foi e sempre será a primeira sem segunda, musa dos meus encantos, razão maior dos meus devaneios. De repente, surgem incontinenti algumas interrogações motivadas pela grande desolação que senti.

Por onde andam as falésias que na minha juventude eram conhecidas por “morros dos urubus”? E os pingas d’água doce ?

Cadê as areias coloridas?

E os arrastões sobre o comando de Tidó e Ananias, trazendo milhares de peixes e camarões para a praia nas primeiras chuvas de janeiro? Qual terá sido a causa de não mais serem vistos os papagaios de papel que ao sabor dos ventos coloriam o céu e faziam a festa da criançada? Para onde foram as velas brancas da mais frágil das embarcações? Ainda há o galanteio das serenatas?

E as tertúlias no início das noites? Os forrós no final delas? É verdade que foram substituídos pelo barulho ensurdecedor e infernal dos “paredões de som”? Ousaram fazer isso? As reuniões no morrinho? Será que ele ainda existe?

As inúmeras mesas com panos verdes onde rolavam disputadas partidas de pif-paf ainda estão sendo formadas ? E as “peladas” antes do banho de mar? A misteriosa “Furna da Onça” foi aterrada?

E os coqueirais, porque diminuíram tanto? Será que foi o motivo do desaparecimento das graúnas com seus maviosos cantos nas frias madrugadas?

A luta para acabar com tanta coisa boa de um passado ditoso e feliz na linda praia tem sido grande. Vão terminar conseguindo. E para quem viveu como eu os anos dourados da antiga e encantadora vila, verdade seja dita, sente falta e saudade de tudo isso.Tibau - Fotos antigas

Sei que faz parte do progresso, mas até a areia fina e fria em que pisávamos nas caminhadas noturnas, trajeto de nossas inenarráveis serestas, foi substituída pela tarja negra e quente do asfalto.

Resistindo, mesmo assim um pouco desgastada pelas altas cíclicas das marés e intempéries inexoráveis, restou apenas a “Pedra do Chapéu”, símbolo maior e cartão postal da orla esplendorosa.

Apesar disso, Tibau continua sendo minha querida e preferida praia.

As lembranças aqui relatadas vêm acompanhadas de uma imensa saudade. Muita.

Prazerosa.

Paulo Menezes é meliponicultor e cronista

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Ramalho Costa diz:

    Bom dia. Parabéns.Continua nos brindando com suas crônicas.

  2. Nilson Brasil diz:

    Estimado amigo Paulo Menezes, aproveito o espaço não apenas para reiterar os meus parabéns pela belíssima crônica, mas também, para dizer que também fiz parte dessa geração. Como seu amigo há mais de 60 anos, justamente por ter tido o privilégio de dividir com você, muitos desses momentos, principalmente das serenatas, sinto esse mesmo sentimento: Saudade. Principalmente daquelas “de uma dor que não sei de onde vem” como nos versos da canção que tanto cantávamos. Abs. NB

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