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quarta-feira - 24/11/2010 - 19:13h

A “metrópole” do livro “no metro” e seus valores fúteis

 

Por Carlos Santos

Como são estúpidos os parâmetros que o grosso da sociedade mossoroense tem adotado, para dimensionar sua ascensão social. Tudo baseado na superficialidade e babaquice do “parece ter”.

Estamos medindo esse novo status nos prédios que sobem, nos milhares de carros que invadem ruas, avenidas e ocupam até calçadas. Naqueles que muitas vezes para subir, precisam descer aos subterrâneos.

Ontem eu tive mais um testemunho do atraso e da distância em que nos encontramos, da inversão de valores e confusão em que nos metemos, em nome do hipotético progresso.

Fuçando livros em um sebo, seu proprietário me fez um relato que fica entre o bizarro e o jocoso. Vamos a ele.

Há algum tempo, esse sebista foi procurado por uma “nova rica”, interessada em comprar “um metro de livro”. Isso mesmo. Não era um título específico, coleção ou tomo de encadernamento especial. Tinha que ser no metro, sim.

Explico, reproduzindo o que ouvi: a deslumbrada precisava preencher um espaço em estante desenhada por sua arquiteta, sendo recomendada a colocar livros com a mesma dimensão estética. O espaço disponível pro “enfeite”? Um metro. Um metro de livros simetricamente alinhados.

Mossoró, até o início do século passado, vivia a influência europeia do movimento conhecido como “art nouveau” – daí nascendo até a corruptela de sua área de prostituição, transformada em “Alto do Louvor”, décadas depois.

Era uma cidade com requintes em roupas, moveis, arquitetura, mas também na cultura, desde o teatro ao hábito da leitura e música. Tínhamos cerca de 100 pianos. E as moças bem educadas tocavam. Eles não serviam apenas de ornamento na decoração.

Falar francês era normal para os jovens de ótima extração. Muitos eram poliglotas. Os janotas transitavam sempre impecáveis e ser rico, em verdade, era transformar dinheiro em bem-estar e referência de conteúdo.

Hoje testemunhamos a “Metrópole do Futuro” exultante com seu “crescimento” baseado em carrões pra exibição, TV de LCD e home-theater na sala do apartamento, gente mal-educada saracoteando ao som de “lapada na rachada” e enchendo  sacolas com bugigangas de grife.

Os que se salvam dessa manada são tratados como estranhos e afetados, ou seja, anormais.

Portanto não é por acaso que da atividade produtiva à política, estejamos “dominados” pela ignorância que mesmo rica, não reluz.  É opaca ou furta-cor, mas certamente abobalhada e fútil.

Empobrecemos, em verdade, porque na ânsia de ser diferente, a grande maioria é apenas mais um  nessa multidão pasteurizada, uniforme, feita em escala industrial: modelo standart. Faz da aparência a sua essência, da borra cosmética a sua alma.

Acredita que Paris é “a cidade luz” por ser muito iluminada; toma Old Parr com Coca-cola, mas preferia um legítimo “Odete”, por ser mais barato.

A propósito, bota uma bicada de Serra Limpa aí, amigo. O sertão é aqui.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Frank Dantas diz:

    Muito boa crõnica amigo. Bota uma de serra limpa pra mim também.

  2. Lia Queiroz diz:

    kkkkkkkkk, livro comprado por metro é demais!!! caro jornalista, isso não é nem a metade das baboseiras e babaquices que essas estagiárias de socialite, que por aqui estão proliferando horrores, são capazes! assista a alguns programas da TCM local e vc fica stupefacto com as futilidades e besteirol veiculado como cultura e informação! causa perplexidade e até pensamos que estamos em outro planeta e não na nossa combalida terra! fazer o que?? o supérfluo, o fútil, a ignorância e a incultura dar ibope, portanto…. ainda vamos ouvir muito desse tipo de coisa, livro a metro para enfeitar estante kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk leitura que é bom heim………

  3. G Dias diz:

    Carlos, essea sua postagem fez-me reportar a um questionamento óbvio, “nova rica” é o mesmo q”dondoca”?!sic…logo, dondoca vem a ser substantivo próprio, o mesmo q mulher inútil, soberba, arrogante, “metida à besta”¿ sendo assim a expressão DONDOCA pode ser utilizado no feminino como no masculino ou seja, há muitos dondocos fazendo o mesmo ou seria DODOCAS? kkkkkkkkkkkk coisas da patotinha agora “verde” camuflada de smurfetes

  4. Rui Nascimento diz:

    Achei legal essa idéia, vou comprar meio metro de livros, mas vou procurar numa livraria, assim encontro uns livros mais novinhos. Ah! Vou comprar só meio metro porque minha estante já tá cheia, pois tem uma TV LCD de 96 polegadas, um home-theater com 68 caixas de som e mais alguns enfeites da moda, portanto, não há mais espaços para “porcaria” de livros. A propósito, será que lá no SHOPPING eu ainda encontro o CD de “lapada na rachada”? Quero curtir essa zoeira no sonzão do meu HYUNDAI I30.

    Pobre “Metrópole do Futuro”!!!

  5. Odemirton Filho diz:

    Impecável. A sociedade degenera a passos largos. Falta-nos cultura e, sobretudo, visão do macro. Poucos dizem a verdade, como você asseverou. Os valores, como sabido, estão invertidos. Pobre povo brasileiro.

  6. couto neto diz:

    q ao menos desse “um metro de livros” “meio metro” fosse ou seja indicativo de uma boa leitura com ênfase na diplomacia e democracia com a coisa pública p/determinadas pessoas q ocupam cargos públicos, passageiros, efêmeros e sem retorno a repetições… afff elas nunca leram nada tenho certeza a não ser livrinhos de bolso ou de etiqueta à mesa ou como receber convidados. o resto é aquilo q jogaram na geni…

  7. Togo Ferrário diz:

    Caro amigo/jornalista Carlos Santos. Creio que seria de bom alvitre para essa ‘nova rica’ adquirir um metro de discos pois, se colocar na estante do aptº dela cds de bundas, ops! bandas de forruim como bundinha rachada, calcinha furada, saia rasgada, cornos do forró, e muitos outros assemelhados, fácil fácil ela completa mais de metro de (in)cultura para se deleitar com o ricardão. Ops! desculpe-me novamente Carlos, eu quis dizer maridão. A propósito culto jornalista e Frank Dantas, dividam comigo uma de serra limpa, ou dilma limpa, por favor. Tô nessa!

  8. Monaliza diz:

    Excelente reflexão… Confesso, fiquei surpresa com essa do “metro”. O que mais nos falta?! Todavia, infelizmente, na nossa tentativa estúpida de sermos diferentes, nos tornamos, apenas, mais iguais.

  9. Carlos Fialho diz:

    Surreal isso. Mas em Natal é do mesmo jeito. Pode ter certeza.

  10. itamar de sousa diz:

    caro jornalista CARLOS SANTOS,enfelismente vemos que a “metropole do futuro”so avançou em materia de atraso ,e
    de mau gosto,o nosso unico museu fecharam,e se esqueceram
    de abrir,as nossa radios,99% so tocam um estilo de musica,se e
    que pode se chamar aquilo de musica.
    a cada dia nos aprofundamos mais no fosso da mediocridade,
    eles “convidam pagando”,”artistas de pèssimo comportamento
    para denegri~los,PRETA GIL,O PESSOAL DO PANICO NA TV,EX BBB”.
    deixam de dar valor ,a artistas da terra,para contratar porcarias,
    sem falar do pessimo,e unico estilo musical,que empurram para
    a nossa juventude absorver,na estaçao das artes…….que de
    artes nao tem nada.
    b noite p tds[as]

  11. Lima Junior diz:

    Olá Carlos,
    Onde, já se viu comprar livros por metro. Isso só acontece no “País de Mossoró”.

  12. Fabio Valentim, webleitor e Filósofo diz:

    Bom texto caro Carlos! Eis aí um cronista de mão cheia!

  13. Lenilda Sousa diz:

    Execelente reflexão. Gosto quando afirma mesmo rica não tem cor

  14. silva diz:

    A diferença está só no objeto: o livro. Quanto à modalidade do estado psicológico é o mesmo: alienação. Pode haver outras razões.

  15. Carlos diz:

    É por essas e por outras que a frase do meu velho pai está sempre atual: “Mossoró, terra de muros baixos”.

  16. Mário Gerson diz:

    Pelo menos ela não comprou 10 centímetros! Agora, falando sério, essa de livro no metro é hilária, cômica mesmo. Tomara que esta senhora leia uns 20 centímetros, já seria proveitoso e pagaria o seu investimento. Na próxima, compre 10 metros de livros de autores locais!

  17. Girlane diz:

    Uma Crônica de bom agrado.
    Gostaria de lembrar ela “crônica” representa a mais autentica realidade dessas “pobres moças” que nunca leram sequer ALICE NO PAIS DAS MARAVILHAS.
    Gostaria de saber se ela escolheu um metro do Tesouro da Juventude ou ficou com um metro de Augusto Cury ou escolheu livros com capas coloridas. Ambos são bons, mas cada um com sua essência.
    Como diz o poeta.
    Esses moços, pobres moços
    Oh, se soubessem o que sei..

  18. Sandra helena Gurgel D. Medeiros diz:

    Carlos, sou de Mossoró e há anos moro em João Pessoa depois de ter morado também em Lyon e tive a oportunidade de conhecer Paris. Afirmo que o povo da nossa capital do oeste potiguar está há “anos luz” à frente da “cidade luz” nos quesitos: luxo e soberba. Por outro lado, os denominados “anormais”, por não possuirem estas “qualidades”, são os que tornam nossa cidade uma beleza, dou-lhe um exemplo: o meu irmão Carlos Magno (maninho) que com sua simplicidade e inteligência me faz sentir saudades e vontade de retornar ao meu torrão natal. Adorei sua matéria e serei uma leitora assidua. Abraço

  19. WILLIAM PEREIRA diz:

    Quê que tem, cansei de tomar cerveja em metro e tô vivim, a muié só compra livro em metro, a diferença é que cerveja eu bebia todinha e oslivros seiláo que ela faz, vá lá que falte papel higiênico….

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