• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 27/09/2015 - 05:46h

A política na vida

Ou a vida na política. Impossível nas relações da vida a ausência da política. Posto que sua interferência na convivência humana independe da nossa vontade.

Assim como ocorre na fisiologia orgânica, cujas necessidades estimuladas, manifestadas na vontade, fogem do nosso controle; tanto na intensidade quanto no momento escolhido pelo organismo.

É bem verdade que aqui não se fala de política estritamente eleitoral, partidária ou participativa. Essa sim, pode ser descartada pela vontade ou enfado. Porém, a política, no sentido amplo do conviver familiar ou social, está presente de forma tão indispensável que nem notamos. Da mesma forma que não percebemos o ar ao respirarmos. Só sentimos sua falta no afogamento ou na asma.

Politizar-se é uma forma de aprimoramento da dignidade. Seja pela participação ostensiva ou pelo simples observar conscientemente. E essa observação consciente se dá pela crítica.

A crítica é o mecanismo instrutivo que liberta. Da lição de Karl Marx: “A crítica não pretende enfeitar as grades, com flores, para atenuar o cárcere. Mas quebrá-las, para a colheita da flor viva”. Inclusive para quebrar amarras ideológicas. Marx não era marxista.

O que tem produzido certo enfado, ou até mesmo asco, com a prática política é a deformação do seu exercício, piorada a cada pleito. De tal forma que leva suas consequências ao embate primitivo das campanhas. Nesse teatro onde viramos ancestrais dos símios. De moderno, só o jogo das moedas.

Torcidas organizadas de times de pernas-de-pau. O que garante à demagogia a dominação do mando. E asseguram aos inquilinos dos palácios um atestado de quase usucapião.

Mesmo estando presente em tudo, na vida, a política não é ciência. Colega do Direito, no campo da arte/técnica. Para que um conjunto cognitivo se configure ciência é imprescindível a presença de Leis. O que há na matemática, física, química, biologia.

No Direito e na Política não há Leis. Há normas. A Política produz normas e o Direito as aplica. É uma impropriedade semântica a expressão “cientista político”. É comentarista de política. A sociologia não é ciência; não há Leis nas relações sociais e humanas. Só normas, jurídicas ou consuetudinárias.

Há uma linha tênue e invisível que une a política à literatura. Toda ela no campo da ficção. Poucos romancistas conseguem inventar roteiros tortuosos e falsos quanto os políticos. Se bem que estes estão mais para mentirosos do que ficcionistas.

É raro o país que consegue o milagre brasileiro de sobreviver à instabilidade institucional. Onde a vaidade dos membros das instituições as reduz ao tamanho do ridículo individual.

Quanto maior o ego dos componentes, menor a eficiência da instituição. Para essa gente, a exigência de impessoalidade, na Carta Magna, só serve para o povão. Não se aplica aos pavões.

Té mais.

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Infelizmente meu Caro François Silvestre, por razões de ordem histórica e cultural, para boa parcela da sociedade brasileira onde ainda viceja o coronelismo suas práticas e arranjos, sob a alcunha e o pomposo nome de Doutor…, o princípio da impessoalidade não está na nossa carta Magna e sim na “LEI” das abstrações, podendo ser objeto de aplicação, a tempo e modo, a depender do contexto e das conveniências de sempre.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

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