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domingo - 05/06/2022 - 12:10h

A solidão dos deuses

Por François Silvestre

Ponho todos em letra maiúscula por respeito e reverência à condição humana de ser maternidade de Deuses. O ser humano, só, ou na tribo, não se explicava nem se compreendia. Era preciso pedir ajuda à sua capacidade inventiva de justificar-se, de nascer, de pensar. E se descobrindo pequeno, indefeso, incapaz de abastecer-se de informações sobre si mesmo, pediu socorro à angústia de si próprio.formacao_1600x1200-a-fe-coragem-pra-caminhar-sem-ver

Foi por aí que se assumiu criatura, na comodidade de dispensar respostas, e culpou o criador. Estava criado o responsável pela sua própria miserável dúvida.

Deuses dos sumérios, dos etruscos, dos fenícios, dos caldeus, dos gregos, dos romanos, dos hebreus, dos africanos, dos chineses, dos silvícolas. Há Deuses de todas das certezas e banhados de todas as dúvidas.

O Deus hebraico é o que pontifica, coitado, no turno da nossa cultura daqui desse Ocidente de moral decadente, de moralistas amorais. Na pesquisa de RosenstockHuessy, sobre a origem da linguagem, a palavra Deus, desde o sânscrito e antes do pré-senmítico não significa aquele que cria, ou seja, o criador. Não. Significa aquele que fala. E se você for ao texto da Torá, nas suas duas versões, verá a confirmação dessa assertiva.

O que diz lá? “No principio era o verbo e o verbo era Deus”. A outra versão da Torá informa: “O princípio era o verbo e o verbo era Deus”. Numa, o princípio é adjunto adverbial de tempo. Na outra, é sujeito. Em ambas, Deus não cria. Fala. Consta dos livros do Pentateuco, atribuídos a Moisés, dos quais Moisés nunca escreveu uma página.

Da Torá nasceram três doutrinas filo-religiosas. O Judaísmo, professado por Jesus, o Cristianismo, criado por Constantino, e o Islamismo originado por Maomé.

Dos Deuses das mitologia destacam-se os gregos e latinos. Numa correspondência quase simétrica. Zeus, Deus maior dos gregos. Júpiter, dos latinos. Baco, da farra, vinho e arte, dos latinos. Dioniso, do vinho e arte dos gregos. Apolo, da retidão, sofria, como apolíneo, a oposição do dionisíaco.

Mas não posso deixar sem registro a mitologia caldaica; que em matéria de Deuses, pra mim é tão ou mais exuberante do que as referidas. E lembro de A’Nuhr, o Deus supremo dos céus dos caldeus, que sofria a cobrança constante da Deusa Is’tahr, senhora das paixões e fertilidade. E num desses embates, ela ameaçou: “Ou faz como peço ou cortarei por um segundo o fio do amor, quebrando a sinfonia do erotismo universal”.

Ponto e vírgula.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Amorim diz:

    É.,caro F. Silvestre, não comento pois não tenho conhecimento de tanta aula cultural, mais .e leio com muita atenção vossas crônicas, supostamente, aprendo.
    Ass: Desconhecido Iguinorante.
    Um abraçaço?

  2. Ramalho Medeiros da Costa diz:

    É verdade. Cada povo, em cada época e em cada local, tem seu deus que criou.

  3. A de Andrade diz:

    Aprender é uma das medicações contra a velhice. Palmas.

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