• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 16/05/2021 - 13:10h
"Complô"

A tenebrosa história da prisão e tortura de centenas de médicos

Da BBC News Brasil

Natasha Rapoport ainda era criança, mas se lembra bem do dia em que um grupo de agentes de segurança soviéticos entrou em sua casa procurando por seu pai.

Os policiais prenderam o homem – o professor e renomado médico Yakov Rapoport – e o levaram a uma prisão para interrogá-lo.

Rapoport e sua esposa, que também era cientista, foi vítima de perseguição torturas (Reprodução)

Rapoport e sua esposa, que também era cientista, foi vítima de perseguição torturas (Reprodução)

O caso aconteceu em Moscou, em 1953, e fez parte do que ficou conhecido como “o complô dos médicos”.

“Isso aconteceu durante o último ano de vida de Stálin, quando ele se tornou extremamente paranoico”, disse a Natasha Rapoport ao programa Witness, da BBC. “Ele (Stálin) mandou prender os principais médicos do hospital do Kremlin.”

Inicialmente, cerca de 40 médicos foram detidos, mas outras centenas também foram levadas posteriormente à prisão em Moscou. Por quê? Segundo Stálin, os especialistas estavam por trás de um complô para assassinar os principais líderes soviéticos.

Ele também os acusou de serem espiões do Reino Unido, dos Estados Unidos e de Israel.

Mas a verdadeira causa das prisões seria revelada pela história: a maioria dos detidos era de judeus e Stálin, na verdade, promovendo uma “limpeza antissemita”.

Propaganda

O plano do líder soviético ia além de prender os médicos.

Uma forte propaganda também foi lançada contra os chamados “médicos judeus assassinos”.

“Você não podia ligar o rádio sem ouvir falar desses ‘médicos judeus assassinos, escória da terra, que venderam suas almas ao diabo'”, lembra Natasha.

O "complô dos médicos" ocorreu durante o último ano de vida de Josef Stálin, em 1953 (Reprodução)

O “complô dos médicos” ocorreu durante o último ano de vida de Josef Stálin, em 1953 (Reprodução)

Tudo havia começado em 13 de janeiro de 1953, quando os principais jornais soviéticos publicaram um relatório da agência de notícias oficial Tass, sobre a detenção de nove médicos.

“Algum tempo atrás, os órgãos de segurança do Estado descobriram um grupo terrorista de médicos cujo objetivo era encurtar a vida de estadistas ativos da União Soviética por meio de sabotagem durante tratamento médico”, dizia o relatório.

Os médicos em questão foram chamados de “agentes mercenários de uma potência estrangeira”.

Eles foram acusados ​​de envenenar Andrey Zhdanov, secretário do Comitê Central Comunista, que havia morrido em 1948, e também um dos chefes do Exército soviético, Alexander Shcherbakov, morto em 1945.

Segundo a imprensa, todos confessaram ser culpados.

Antes de falecer em 1996, Yakov Rapoport contou à BBC como, depois dessa notícia, começou-se a falar sobre o que aconteceria com outros médicos suspeitos de fazer parte do complô.

“Espalhavam-se rumores sobre o tipo de punição que receberiam. Havia ameaças de enforcamento na Praça Vermelha”, disse ele.

Torturas

Rapoport imaginou que não demorariam a ir buscá-lo e foi exatamente o que aconteceu.

Cerca de um mês depois do primeiro relatório sobre o suposto “complô”, ele foi preso. Eles o torturaram para que assinasse uma confissão, mas não conseguiram. Ele se recusou a atender.

Em uma autobiografia que escreveu décadas mais tarde – e que acabaria sendo publicada sob o título O complô dos médicos de 1953 – ele descreveu seu período de detenção na prisão de Lefortovo.

Yakov Rapoport escreveu um livro sobre seu calvário: "O complô dos médicos de 1953", publicado em 1988 (Reprodução)

Yakov Rapoport escreveu um livro sobre seu calvário: “O complô dos médicos de 1953”, publicado em 1988 (Reprodução)

Nessa unidade, ele permaneceu algemado e não tinha permissão para dormir. O interrogavam dia e noite, até as 5 da manhã. E então o obrigavam a ficar imóvel até as 6, para então começarem tudo de novo.

“Se ele tivesse assinado a falsa confissão, teria sido sua sentença de morte”, disse sua filha ao programa Witness.

Em suas memórias, Rapoport contou que sua única arma era o tempo: esperar, fantasiando sobre a possibilidade de seu calvário terminar no exílio e não na morte.

Salvos

Sua salvação e a dos outros médicos acabou chegando, entretanto, da forma mais inesperada.

Um dia, em abril, um novo agente de segurança chegou à prisão. Em vez de interrogá-lo, o que ele fez foi repreender o investigador anterior pela má condição física em que havia encontrado o preso.

Pouco depois o médico foi levado para ver um general, que lhe disse: “Você foi completamente reabilitado e pode ir para casa”, lembrou Rapoport em entrevista à BBC.

Só quando voltou para casa é que soube, da esposa, o que tinha acontecido: Stálin havia morrido, pondo um fim ao seu calvário.

Um mês depois da morte de Stálin – ocorrida em 5 de março de 1953 – seu sucessor, Nikita Khrushchev, contestou as acusações contra os médicos e ordenou que estes fossem libertados.

O jornal Pravda anunciou que o caso havia sido reavaliado e descobriu-se que todas as confissões haviam sido obtidas sob tortura.

Todos os médicos foram exonerados – dois haviam morrido – e o julgamento e a “limpeza” que supostamente Stalin planejava não deram em nada.

Em 1954 um funcionário do Ministério de Segurança do Estado e alguns policiais foram executados por terem fabricado as acusações.

Dois anos depois, durante um discurso, Khrushchev assegurou que o próprio Stalin havia ordenado pessoalmente a perseguição aos médicos e que ele planejava incluir membros do Politburo (o comitê do governo comunista) no expurgo que pretendia fazer contra judeus.

Morte acelerada

Natasha Rapoport ironiza circunstâncias da morte de Stálin (Reprodução)

Natasha Rapoport ironiza circunstâncias da morte de Stálin (Reprodução)

Natasha Rapoport, que até o pai ser preso era uma admiradora do sistema soviético, nunca perdoou o que aconteceu.

No entanto, ela disse à BBC acreditar que o plano de Stálin havia custado caro ao ex-líder.

Josef Stálin governou a União Soviética de meados dos anos 1920 até sua morte em 1953.

“Estou convencida de que o ‘complô dos médicos’ acabou acelerando a morte dele”, afirma.

Segundo ela, quando Stálin sofreu um derrame no início de março daquele ano, “não havia médicos por perto para ajudá-lo”.

“Isso não é incrível?”, diz, sorrindo.

Acompanhe o Blog Carlos Santos pelo  TwitteAQUIInstagram AQUIFacebook AQUI e Youtube AQUI.

Compartilhe:
Categoria(s): Gerais

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    E é isto que querem implantar no Brasil.
    Já notaram que nos ataques que fazem áos alertam para o perigo do comunismo sempre citam como elementos perigosos os JORNALISTAS, EMPRESÁRIOS e MÉDICOS?
    Só coincidência?
    NÃO!
    Tudo é feito de forma orquestrada.
    Repetem sempre o mesmo roteiro porque são totalmente desprovidos de inteligência e a lavagem cerebral sofrida os tornam meros executantes que lembram robôs de filme de terror.
    Nossa esperança é que vai entrar em circulação o carro da revalidação a fim de recolher os que sofreram lavagem cerebral e ainda exibem número de alguma ordem.
    OLHE O CARRO DA REVALIDAÇÃO PASSANDO NA SUA RUA…
    Um abraço

  2. PAULO EDUARDO FERNANDES DE NEGREIROS diz:

    Amigo Carlos Santos,
    Stálin, o general de ferro, um dos maiores genocidas da terra,
    era portador de PSORIASE, uma doença , que acomete
    pele, ossos, articulações, e , não respeita nenhum órgão.
    É uma doença genética.
    Piora e muito com o alcoolismo.
    Stálin era alcoolatra, ou dipsomaníaco,
    Stálin já tinha feito dois grandes expurgos,
    o da Ucrania, em 1933, e o do seu estado maior, em 1940.

    A piora da sua PSORIASE, causou-lhe intensa revolta com
    os médicos do KREMLIN e de todo o mundo científico
    Russo, o expurgo dos médicos era para matar (isso mesmo)
    mais de cinquenta mil médicos da ex URSS.
    A morte, atraves de um AVC ou ENVENENAMENTO, não se sabe
    até hoje o motivo da sua morte, não houve necropsia, salvou
    toda a medicina russa, que só teve de expoente em toda a sua
    história IVAN PETROVICH PAVLOV, que descobriu o reflexo condicionado
    e levou o NOBEL EM 1904.

    FOI O ÚNICO MÉDICO RUSSO, A TER UM NOBEL

    abs

    Stálin hoje é pagina virada na história.

  3. Fernando diz:

    Ditadura é pra ser contestada, não apoiada. Já vimos esse filme em terras brasileiras.

  4. Pedro Rodrigues diz:

    Essa estória não faz sentido por um único ponto: limpeza étnica que mira apenas em méicos? E nem eram todos judeus?
    Isso cheira mais a revisionismo histórico, daqueles que saem das páginas ficcionais do Brasil Paralelo.

  5. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO diz:

    Nada mais oportuno que alimentar o GADO ANTI-COMUNISTA, nesse momento em que o país, aos trancos e barrancos tenta superar a implantação…de uma espécie de teocracia ANTI-COMUNISTA composta por Pastores Picaretas/Evangegues, que, aliás, de fato, não sabem, o que SUPOSTAMENTE teria sido, o que é e, sobretudo o que seria comunismo..!

    O PEDRO RODRIGUES, foi bem na mosca, a quem interessa o revisionismo histórico a lá LEANDRO NARLOCK …?!?

    Senão aqueles que atualmente travam uma guerra de INFORMAÇÃO, utilizando-se de armas de disseminacao de FAK NEWS…entre o sul real e o ridículo da malversacao…dos fatos..!

    Nesse contexto, não esqueçamos dignissimos Web-leitores, no SUPERMERCADO DO OBSCURANTISMO, DIFUSOR DE IDEIAS PRE-CONCEBIDAS E A FAVOR DOS INTERESSES DA VELHA CASA GRANDE,.vender o biscoito anti-comunista, sempre foi, não só conveniente, vantajoso..como agregagador de prestígio e valores monetários e não monetarios, especialmente neste mundão..da prensa de uma nota só e das CAPITANIAS HEREDITARIAS que ainda persevera em pleno século XXI!

    Esperemos os próximos CAPÍTULOS…ELES, COM CERTEZA…VIRÃO…!

    Um baraco
    FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO
    OAB/RN. 7318

  6. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO diz:

    A propósito, por que será que o jornalismo dito de opinião, nao se dispõe investigar as entranhas, sobretudo dos interesses inconfessáveis da classe médica brasileira, mormente quando da VEXAMINOSA e vergonhosa expulsão dos médicos Cubanos do nosso país..

    Afinal, eleitores da Cavalgadura Mor, SABIDAMENTE os médicos brasileiros, claro em sua maioria, jamais se dispuseram discutir, por exemplo, porquê da existência de tantos médicos em terras Brasília e, contraditoriamente, falta de acesso a esses médicos, em especial a absoluta falta de assistência médico/hospitalar nós mais distantes rincoes do nosso pais. ?!?

    Com a palavra os Deuses vestidos de jaleco e seus asseclas, sabujos e ignorantes vassalos que pululam nos quatros cantos da TERRA DE PINDORAMA, sobremodo nas ante-salas do jornalismo de Ocasião.

    Que o diga a médica negacionista Roberta Lacerda e seus KITS CLOROQUINAS E IVERMECTINAS DA VIDA, largamente DISSEMINADOS como infalíveis no combate a PANDEMIA DA COVID-19 e patrocinados dia após dia pela imprensa Potiguar, sobretudo a imprensa Da CAPITAL DO RN..SEM SORTE!

    Um baraco
    FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO
    OAB/RN.

  7. Inácio Augusto de Almeida diz:

    A VERDADE SEMPRE TRIUNFA.

Deixe uma resposta para FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO Cancelar resposta

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2024. Todos os Direitos Reservados.