• Repet - material para campanha eleitoral - 16 de maio de 2024
sábado - 23/01/2010 - 20:57h

Acorde

Sábado. A sensação de que poderia dormir um pouquinho mais tendo em vista que passara a semana acordando cedo, se desfez. Acordo com fogos e uma turba ensandecida…

Assusto-me!

Imediatamente levanto e olho pela janela: Uma voz ecoa: "Lá vêm eles abraçando seu povo!", esgoelava-se o locutor para comunicar que os candidatos estavam chegando…

Carros de som, mini-trios, centenas de bandeiras que se embaralhavam confundindo a mente com tantos números… Dou-me conta que nos é chegada mais uma eleição, mais um ano de decisões onde temos a chance de mudar a cara do nosso país.

Ainda meio atordoado e atônito, arrumo a cama e observo aquele cenário: chegam os candidatos e seus asseclas subservientes. De quatro em quatro anos eles levantam-se de seus acolchoados assentos, saem do ar-condicionado para as ruas e com um grande sorriso no rosto e a mão estendida tentam novamente persuadir e ludibriar o povo.

Doce ludíbrio…

Crianças correm atrás da multidão, encantam-se com tantos fogos… Crianças essas, que muitas vezes não têm o devido acesso à educação ou, quando têm, esse se mostra insuficiente e precário.

Escolas desestruturadas, professores despreparados e alunos sem um futuro para trilhar… Mas a corja está lá, com uma mão estendida e um pseudo-sorriso no rosto…

Já não existe mais diferença entre o rico e o pobre, entre o empresário e o favelado; todos têm o mesmo poder nas mãos. Voltando a dissimulação, o que se vê são beijos, abraços, crianças são levadas ao colo, idosos são tratados com carinho, catadores de lixo são visitados, e até mesmo favelas são invadidas por essas comitivas de hipócritas farsantes.

O preceito é o mesmo de outrora: perpetuar-se no poder e lutar contra meios e reformas que possam ensejar uma sociedade plural, consciente, conhecedora dos seus direitos e deveres, inteligente, que faça ponderações, que conteste, afinal, isso poria em risco suas posições e assentos políticos. Políticos não, politiqueiros rasteiros, sem o mínimo de decência e hombridade, à exceção de poucos, que felizmente ainda existem.

O locutor esforça-se para fazer seu trabalho: profere com empolgação e entusiasmo o nome e número dos respectivos candidatos. As bandeiras balançam, eles acenam… As ruas são poluídas por ‘santinhos’, panfletos… Agora são "do povo" e deles vieram; são "gente da terra", exaltam a voz para alardear.

Até outubro será esse o panorama em vigor: aula de hipocrisia e desrespeito para com o cidadão. Casas, escolas, empresas, tudo é minuciosamente visitado; agora todos importam, seja bastardo ou abastado… Pelo menos até Outubro, todos serão tratados em pé de igualdade, com equidade…

Após esse período eles voltam, não para o povo, ou de onde vieram, mas para seus assentos acolchoados e suas salas com ar-condicionado com vários assessores, amoucos, rodeando-os e puxando-lhes o saco…

Agora já não mais existirão os sorrisos e abraços, não serão mais do povo e dele querem distância. Enquanto isso, o “povo” novamente volta à sua miséria e descaso, nosso país segue em decadência, continua com seu “eterno desenvolvimento”, a população vivendo em condições miseráveis; educação de péssima qualidade; saúde que mata nos corredores lotados dos hospitais; segurança que não existe… 

É tempo de mudança, mais um ano de decisões, e o poder está em nossas mãos. Sabemos usá-lo, basta querer, basta fazer! A mudança dar-se-á quando iniciarmo-na por nós mesmos. Façamo-la, então!

Mudemos e façamos mudar o próximo, façamos mudar o país, o mundo! O poder é nosso! Ninguém pode tirá-lo, use-o da melhor maneira, elejamos quem merece, observemos os fatos, candidatos, o que realmente mostra preocupar-se com o povo e seus problemas; elejamos certo, para que nossos netos possam não conhecer essa realidade que vivemos; elejamos certo para que um dia possamos ver as mesmas crianças que corriam atrás da turba, correndo para seus lugares na festa de formatura, ocupando seu lugar de direito na sociedade, correndo e realizando seus sonhos, nossos sonhos, sonho de um país plural, sonho de uma vida melhor e mais digna para todos.

Lázaro Fabrício é cientista social e produtor cultural – www.lazaroffsouza.blogspot.com

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Categoria(s): Nair Mesquita

Comentários

  1. José Silva diz:

    A culpa de políticos sem futuro serem eleitos, não é do eleitor, afinal, se estes políticos que compram votos nas épocas de eleição, não fizessem essas verdadeiras compras de votos, que eles chamam de rede de apoio, ou seja, compram o chefe político, que por sua vez tem o controle dos seus cabos eleitorais, que por sua vez vai até onde o povo está, povo este, cheio de necessidade de toda ordem, esse tipo de político não teria vez. Esse cenário de miséria é um prato cheio para que esses políticos se elejam e se reelejam. Se o povo tivesse o mínimo para sobreviver, esse tipo de politiqueiro não teria vez, pois são pessoas sem competência para administrar, ou no caso do legislativo para fazer leis. Quase a totalidade desses políticos são verdadeiros aproveitadores da miséria do povo, pois, se assim não o fossem, não invadiriam o RN em buscar de formação de verdadeiras equipes de compra de votos, para comprar o voto de quem está na miséria.

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