Por Carlos Santos
Diante de tragédias recorrentes que testemunho no paÃs, com gente soterrada por lama em Minas Gerais, outras tantas vitimas de chuvas no Rio de Janeiro e adolescentes queimados vivos também em solo carioca, logo vem à minha memória um episódio ocorrido em Mossoró em 2004.
Lá se vão 15 anos.
Potiguar e América decidiriam o Campeonato Estadual de Futebol daquele ano. A primeira partida do confronto seria no Estádio Manoel Leonardo Nogueira (Nogueirão), que acaba interditado pela Justiça.
Condições de segurança precárias colocariam em risco milhares de vidas, no estádio, segundo denúncia que foi fartamente sustentada pelo Ministério Público e acatada pelo Judiciário.
O jornalista Cézar Alves fez ampla cobertura do assunto e puxou questionamentos, atestando necessidade de prevenção para se evitar a perda de vidas humanas.
Com ânimos exaltados, paixão aflorada, torcedores revoltados passaram a ver em seu trabalho profissional uma forma camuflada de prejudicar o clube local, favorecendo paralelamente o América.
Alves chegou a temer pela própria integridade fÃsica. Com razão.
Decisão liminar garantiu a realização do jogo, com vitória de goleada do Potiguar por 4 x 0. Dias depois, o tÃtulo seria confirmado no então Estádio Machadão em Natal, quando o alvirrubro mossoroense perdeu por 0 x 1, levando a taça no critério de saldo de gols do duelo.
De lá para cá, mesmo depois de tanto tempo, o Nogueirão continua sob interdição de boa parte de sua área de arquibancadas. Até hoje, laudos técnicos e inspeções regulares vetam o pleno uso de toda sua estrutura para acomodação de torcedores e profissionais diversos que trabalham numa partida de futebol.
Nesse Ãnterim, surgiram inúmeras promessas polÃtico-eleitorais, como reforma e ampliação do estádio pela então governadora Rosalba Ciarlini em 2011, “obra” que entrou pro folclore polÃtico-esportivo, pois nunca saiu do papel e da propaganda oficial.
As lições daquele tempo nunca foram aprendidas. Como outras tantas que envolvem seres humanos paÃs afora.
De verdade, não temos a cultura da prevenção. Isso ocorre desde o desleixo de muitos de nós com manutenção do próprio carro à naturalidade com que encaramos eventos festivos em áreas sem condições mÃnimas para aglomeração humana.
Há quase um ano (veja AQUI), camarote caiu em plena festa do Mossoró Cidade Junina, ferindo algumas pessoas. No episódio, a própria prefeita Rosalba Ciarlini escapou por muito pouco de ser uma das vÃtimas.
Quem foi punido? Ninguém! Quem o será? Provavelmente ninguém, ou algum borra-botas para parecer que existe lei e ordem numa cidade sem lei e sem ordem.
Quando um dia o Nogueirão for completamente recuperado (se isso acontecer), é bom não esquecermos desse caso. Melhor não. Pior seria termos que prantear mortos, como acontece hoje em Brumadinho-MG, Rio de Janeiro e em tantas partes do Brasil, porque não aprendemos a lição.
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A cultura da prevenção passou longe daqui. A dor monstruosa que estamos vivenciando, sentindo, talvez nos ensine o que é precaução.