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domingo - 19/10/2014 - 07:55h

Campanha ou canelada?

Por François Silvestre

Com certeza o mais desonesto é o que vende o voto. Irmão gêmeo do que compra. Isso é ponto pacífico. A nojeira da compra e venda de voto nada tem a ver com incultura ou despolitização. É ladroagem mesmo. “Cultura” política da ilegitimidade representativa.

Mas este texto quer tratar da briga de foice, que não é desonestidade; aí sim, fruto da despolitização ou má-fé política.  Essa praga que acompanha passo-a-passo nossos intervalos democráticos, como aquele personagem de Marguerite Hadcliffe, n’O Poço da Solidão, cujos passos tinham sempre a confusão a segui-los.

E nesse quadro, o elenco da ignorância política forma-se entre letrados. Ou bem informados. Ou até formadores de opinião. Que não se enquadram na conceituação do analfabetismo político de Bertolt Brecht; ao contrário, são politicamente instruídos.

O quadro referido se forma por uma deformação. Dialética que compõe, entre afirmação e negação, o cenário de uma prática de militância que desserve ao amadurecimento democrático.

Já foi dito, e é verdade, que campanha eleitoral não é uma disputa de grêmio escolar num internato clerical. Claro que não. Nem se pede que seja um concurso de boas maneiras. Ou de hipocrisia e mesuras falsas. Também não.

Porém, “entretanto mas porém”, não precisa ir à fronteira oposta. Transformar a campanha eleitoral numa sarjeta sem limites morais. Seguindo a lição cretina e amoral de que “em política o feio é perder”. A “máxima” foi usada para justificar fraudes; as famosas brejeiras. Mas tem servido para abastecer “estratégias” de marqueteiros, profissionais na arte de vender produtos, como se candidatos fossem sabonetes ou embutidos de carne moída.

E quem acaba sendo moído, em vez da carne, é o eleitor consciente, que não se vendeu; e depois mal lavado, pelo saponáceo bem vendido.

É triste ver formadores de opinião, na mídia, bem articulados, bem informados culturalmente, descerem ao nível de torcedor de futebol, daqueles mais ignorantes; como se a campanha eleitoral fosse uma decisão de torneio de várzea. Mesmo disputada num estádio da Copa, belamente abandonado, entre ex-grandes times.

No Brasil, dada à imprevisibilidade de suas formações, tudo parece ser possível. A ética é tratada como instrumento de propaganda; por partidos, por políticos e até por algumas instituições. Não é um bem natural, como deveria ser. É um medalhão a ser exibido, como se a honestidade fosse um favor. Ou um troféu banhado a hipocrisia.

Ainda bem que as “torcidas organizadas”, dos dois lados, não vão aos debates nem se encontram nos comícios. Se os comícios fossem realizados em conjunto, como as partidas de futebol, certamente os embates seriam sangrentos.

Posto que, no Brasil, país violentíssimo, não se faz revolução, mas se esbanja sangue derramado.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no periódico Novo Jornal.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. AVELINO diz:

    Agora o voto certo é o voto 100: 45 pra lá + 55 pra cá!!! …100 acordão, 100 propina, 100 terrorismo, 100 PTrolão e principalmente 100 os cinco zumbis (Wilma Maia, Sandra Rosado, Larissa Rosado, Leonardo Nogueira e Fafá Rosado), né, não??? Eitcha, piula!!!

  2. jb diz:

    “Mas os corruptos? Aonde ficam os corruptos?
    Bom seria não polluir a penna com esta hedionda palavra, mas a cousa existe e o seu nome é este; e, como se está seguindo um filão de verdades, força é que se atravesse esse immundo deposito de abjecções, pois de tudo ha na mina,—ora tapetada de esplendidos crystaes, ora vertendo lamas infectas infectas—a que vulgarmente se chama eleição.
    E mina é, ou parece, para quem faz commercio de votos; commercio que, devendo ter tido por berço provavelmente um armario sem pão, vai hoje tambem querendo matar a fome de vaidades ou de interesses, nos salões da abastança.
    Não é o peor corrupto quem se vende por alguns reaes.
    É-o muitas vezes quem compra.
    Porque, salvas honrosas excepções, a diploma comprado deve corresponder deputado vendido.
    Ora a corrupção eleitoral cresce de anno para anno.
    O sublime do genero é comprar a fazenda com a algibeira do vendedor!
    O que parecia molestia esporadica vai-se transformando em epidemia.
    É corrupto:
    Da penuria—-o que se vende a dinheiro;
    Da estulticia—-o que se vende a promessas;
    Da vaidade—o que se vende a fitas;
    Do odio—o que se vende a vinganças;
    Da pieguice—o que se vende a mesuras;
    Do interesse baixo e sordido—o que se vende, remediado de bens de fortuna, a qualquer favor que lhe poupe, ou faça ganhar alguns reaes, ou o dispense de alguns ligeiros incommodos.
    Ainda ha outra especie de corrupção, não tão cynica, porém mais perigosa:
    A corrupção collectiva em nome da utilidade publica […] Todos os votos, emfim, que se hypothecam ao lucro.” Claudio José Nunes, em ‘VERDADES AMARGAS — ESTUDO POLITICO
    DEDICADO ÁS CLASSES QUE PENSAM, QUE POSSUEM E QUE TRABALHAM’

  3. João Claudio diz:

    Enquanto em países sérios a honestidade é obrigação de todos, no Brasil a honestidade é considerada como um privilegio para uma pequena minoria da população.

    Esse bom e grande exemplo de desonestidade, parte lá de cima, dos presidentes e ex presidente. Imaginem o tamanho dos exemplos que dão os que estão na rabeira do poder.

    Um “belo” exemplo as futuras gerações.

    Criado há pouco tempo, já existem maracutaias no Pronatec. É mais uma bomba preste a explodir a qualquer momento. Se pé que vão deixar explodir.

    Com a frase “Acho que ninguém está acima de qualquer suspeita no Brasil”, a presidente confirmou o que há muito já se sabe:

    A desonestidade está no DNA de cada um dos brasileiros. Inclusive no dela, segundo ela mesma diz (releia a frase).

    Roubar no Brasil vale a pena. É triste, feio e vergonhoso, mas é a mais pura das verdades.

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