• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
sábado - 09/10/2010 - 19:03h

Cangaceiro Massilon e a República do Patamar de São Vicente


Acho que compreendo a dificuldade de Carlos Santos em escrever no seu blog sobre "Massilon – Nas veredas do cangaço e outros temas afins", o livro de Honório de Medeiros sobre o cangaceiro que foi um dos protagonistas mais importantes do ataque de Lampião a Mossoró em junho de 1927, mesmo ele tendo acompanhado o autor no primeiro lançamento do livro, no sertão do Cariri, durante um seminário sobre o tema Cangaço.

Não é fácil escrever sobre aquilo que acicata nossa memória e nos remete à infância, à turma do Patamar, ao que ele próprio, Santos, tratou de nomear como a "República Independente do Patamar da Igreja de São Vicente" da qual somos remanescentes, como o autor Honório de Medeiros que diz assim, na introdução do livro:

“Nasci e cresci à sombra da Igreja de São Vicente, a igreja da “bunda redonda”, brinquei, assisti missa, novena de Santo Antônio, sem perder o contato com as marcas que o combate contra Lampião deixou em suas paredes e na sua torre”.

Centralizando a figura do cangaceiro potiguar que foi parceiro de Lampião no ataque que foi rechaçado da torre da igreja, Honório de Medeiros remonta a engrenagem do coronelismo e do Poder político no Nordeste rural e  repagina e estimula a revisão crítica da história da invasão do Rei do Cangaço a Mossoró em 1927. (…) um novo conceito para o cangaço, dentro de uma perspectiva científica que identifique o geral no particular e afaste, de vez, o estudo do cangaço do mero “contar casos”.

Surpreende no livro também, além desse viés do pesquisador sobre o cangaço, o caráter genealógico e emotivo que o autor revela na introdução: (…)se agregou o interesse de sempre acerca da história da minha família materna, da qual é o momento precioso, desde a fundação de Martins até a resistência oposta por Rodolpho Fernandes à Lampião”.

Ao mesmo tempo em que escreve sobre o roteiro geográfico e factual de Massilon que passa pela Paraiba e Ceará, estados por onde andou em busca de informações, Honório constrói um arcabouço emocional da marcante trajetória e origem da família materna dele, os Fernandes do Rio Grande do Norte, do qual ele faz questão de revelar que é a nona geração do patriarca que fundou e deu nome à cidade serrana de Martins.

Mas para leitores como nós, eu e Carlos, fica difícil não ver em cada capítulo a imagem da Igreja de São Vicente. Mesmo que não seja o capítulo em que Honório descreve, preciso como um roteiro cinematográfico, a hora do tiro  disparado por Manoel Duarte e que matou o cangaceiro Colchete.

O patamar hoje está mais curto e mais baixo do que aquele em que os republicanos brincavam pela manhã e à noite. Apenas dois degraus e chão pedregoso  como nunca. Arrancador de chamboque nos dedos dos pés.

Os canteiros, construídos por padre Sátyro no auge da perseguição aos jogos de bola dos meninos,  estes permanecem intactos sendo que agora têm  plantas. As crianças foram rareando nas residências em torno do Patamar. A cidade. O tempo. Os hábitos.

O jogo de bola acabou-se muito antes da capelinha da bunda redonda tornar-se cult e festejada.

Estivemos lá na igreja, na missa e quermesse dos 80 anos de idade do Careca com a entrega aos fiéis da capela pintada, restaurada, nova como em 1919. E amarela, bem amarelinha. Foi muito interessante.

Padre Sátyro no altar: "Eu vi São Vicente sorrir! Eu vi São Vicente sorrir!"

O octogenário e sua retórica vibrante, sabedoria dos oradores sacros, tradição dos copistas do conhecimento e da liturgia.

Depois tivemos que ouvir a Prefeita da Cidade.

Mas nos compensaram os doces vicentinos vendidos no meio da rua lateral, a Francisco Ramalho, defronte à casa de Marcos Porto, esse já tornado memória e lenda do Patamar que já carece de um livro. Ele também um Fernandes.

No Rio Grande do Norte esse lado familista é muito importante. O livro de Honório permite ver que laços ancestrais construíram esse orgulho familiar que de certa forma marca o Estado do Rio Grande do Norte.

Jânio Rêgo é jornalista – janiorego@blogdafeira.com.br

 

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Categoria(s): Nair Mesquita

Comentários

  1. itamar de sousa diz:

    TENHO MUITO ORGULHO,DE SER DESCENDENTE DE MANOEL FÉLIX,IRMAO DA MINHA AVÓ,ANTÔNIA FÉLIX,ELE TAMBÉM ESTAVA EM CIMA DA TORRE DA IGREJA DE SAO VICENTE.
    B DOMINGO E BOM FERIADO P TDS.

  2. Nilson Gurgel Fernandes diz:

    Já que falou em Chico Honório, nada contra ele que só escreveu o que foi referenciado pelos outros. Falo no que foi dito de Papai Tilon que ia me buscar quando pequenininho no Poço de Tilon e me levava para Pedra de Abelha na garupa de seu cavalo de nome motor. O que foi dito dele, de verdade, só bate a parte que ele era adversário ferrenho dos pintos, principalmente de quem ele falava sempre, Lucas Pinto que conheci muito. Só para dar uma amostra da minha memória, ele Lucas Pinto ía para Mossoró e, na hora do almoço, lanchava um pacote de bolachas que trazia de Apodi, debaixo de um pé de Ficus Benjamim que havia quase na esquina feita pela da rua da “Paraíba” com a Alberto Maranhão na calçada da firma Alfredo Fernandes com quem, acho, mantinha negócios. Não vou esticar, pois pretendo tirar a lipo a historia, mas adianto o seguinte: Papai Tilon lutava para tornar o hojr Felipe Guerra independente de Apodi, era conhecido pela docilidade, unanimidade de toda família, amigos e conhecidos vivos e mortos que convevi e conversei, inclusive recentemente (Depois de chico Honório). Tenho memória de acontecimentos desde os meus 03 anos de idade quando fui a aula de tia Silvia la no Brejo (Pedre de Abelhas), Eu, Assis de Ferrerinha (cobrão) e outros que ainda me lembro, inclusive detalhes do dia para quem interessar possa. Finalmente, sei, inclusive,onde seu Décio Holanda (este era realmente traquino)está interrado, segredinho meu contado por tia Chicuta, irmã de mamãe, viuva dele (tenho foto). tem muita gente famosa no Brasil que descende do tio, afim, Décio e Papai Tilon doido para conversar comigo sobre o assunto. Ao amigo Honório, agradeço pelo trabalhão que teve para levantar a história e digo: Tem muita coisa que bate e, a dica é, rato de fuga tem coincidências iniciais, mas depois tem coincidências mais fantásticas com outras histórias que sei muito bem. Que mundo fantástico esse de se levantar histórias de nossos antepassados.
    Ah! lembrei tenho foto do meu primeiro dia de aula e, outra dica, Gesumira Gurgel de Alencar, mãe de Humberto de Alencar Castelo Branco era prima legitissima de Papai Tilon. OK?

    Nilson Gurgel

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