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domingo - 09/12/2018 - 10:50h

De pesadelos e sobressaltos

Por Paulo Linhares

A despeito de toda a lógica, nas mentes das pessoas concretas remanescem sempre a esperança de que tudo pode ser diferente, bastando acreditar: às vezes sim, às vezes não, a depender de como os fatos e circunstâncias são encadeados. Daí que, nas coisas humanas, a incerteza tende a prevalecer e se faz uma definitiva alavanca para superação de vários obstáculos  que atravancam a concretização das expectativas projetada

É nesse eterno jogo de luz e sombra, de dúvidas e certezas, aliás, de compleição dialética, que as mentes humanas, na busca de uma zona de conforto, constroem atalhos e encontram saídas para os problemas que as afligem. Claro, os enganos, nas escolhas, são também inevitáveis.

No mundo da política o figurino é o mesmo. Nos governos hauridos das urnas, qualquer que seja a sua orientação ideológica, emerge uma noção  primária de que a legitimação conferida pelo corpo eleitoral  autoriza aos ‘ungidos’ (equiparáveis  a semi-deuses, de direita ou de esquerda, pouca importa) a fazer o quê ninguém imagina como apenas razoável.A “entourage” do presidente eleito Jair Bolsonaro mostra isso. De princípio, bateu  duro nos parceiros do Mercosul e na China, tudo seguindo a fórmula Donald Trump, que estraçalhou todo o esforço diplomático norte-americano na difícil relação com tradicionais parceiros europeus, orientais e os do conturbado mundo árabe. Um detalhe que alguns podem até achar de somenos:  as costas de Trump são bem largas, presidente que é do Estado mais poderoso do planeta.

O Brasil não pode nem precisa abrir tantas frentes de conflito, sobretudo, com tradicionais parceiros comerciais imprescindíveis para o agronegócio do Centro-Oeste (as exportações de soja para a China) e do Sul, Paraná e Santa Catarina em especial (carnes para os países árabes e China), aliás, colégios eleitorais onde Bolsonaro  obteve resultados  superiores a 60% do votos válidos.

Assim, parece inevitável que chacoalhar chineses e árabes poderá resultar em enormes prejuízos para esses setores do agronegócio brasileiro. O pior de tudo é que não há razões plausíveis para isso: tudo decorrente de posturas ideológicas bocós ultradireitistas que desprezam a assertiva de que países não têm amigos, mas, interesses. E quais são os interesses do Brasil neste momento: vender o mais possível para chineses e asiáticos em geral, árabes, russos, europeus e nossos ‘hermanos’ latino-americanos, neste caso, inclusive, cubanos e venezuelanos.

Claro que os Estados Unidos da América são parceiros estratégicos do Brasil. No entanto, deve-se recordar que foi ogeneral Ernesto presidente Geisel, penúltimo dos generais-presidentes da ditadura militar implantada em 1964 – governou de 1974 a 1979 -, que botou um ponto final na política de alinhamento automático com os norte-americanos, inclusive, com o rompimento do acordo de cooperação militar, pelo qual os EUA ofereciam ao Brasil armamentos e treinamento militar.

Ressalte-se que esse rompimento do acordo militar EUA-Brasil inspirado na Guerra Fria dos anos 1950/1960, foi apenas um pretexto usado pelo hábil general-presidente e formatado pela competente equipe do Itamaraty, para camuflar o verdadeiro objetivo do governo brasileiro de então: a celebração do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, celebrado em 27 de junho de 1975, o que quebrou a supremacia no campo tecnológico-industrial do Tio Sam, em especial na utilização da energia nuclear.

Note-se que Geisel matou dois coelhos com uma só cajadada: possibilitou que o Brasil tivesse acesso à tecnologia nuclear, algo que o governo norte-americano fez tudo para impedir desde o início dos anos 1950, além de demonstrar que o Brasil tinha plena capacidade de buscar por si mesmo outros Estados parceiros nas suas relações bilaterais.

A atitude de Geisel causou enormes abalos no relacionamento dos EUA com o Brasil, mas, preservou a soberania nacional e inaugurou a postura independente da política externa brasileira que chegou aos dias atuais. Esse bom exemplo do presidente Geisel, a despeito de desvestido da legitimidade da Soberania Popular, merece ser observado nos dias que correm. A quem interessar possa, vale lembrar que o velho general Geisel jamais bateria continência para outra bandeira que não fosse a auriverde flâmula do Brasil, nem tampouco o faria para um funcionário civil de terceiro escalão do governo norte-americano…

Por estes exemplo históricos importantes é que seguramente não nos cabe assumir brigas bobas de Donald Trump que implicam enormes prejuízos à combalida economia brasileira. No mais, o  discurso de Bolsonaro e de seus filhos, ademais de alguns auxiliares, como os do futuro chanceler, podem causar estragos enormes na área internacional. Ainda bem que o general Mourão, vice-presidente eleito, tem demonstrado grande habilidade e parcimônia no trato com essas sensíveis questões da futura política exterior brasileira.

O futuro presidente Bolsonaro deve atentar que o Brasil tem uma das melhores diplomacias do mundo e que nada tem a ver com ideologias de ocasião. Na formulação inicial  do ícone maior das relações exteriores do Brasil, o vetusto Barão do Rio Branco, reside a altaneira postura que, nas últImas décadas, tem pautado a condução da defesa dos interesses nacionais. E  pelo belo legado de José Maria da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco.

Com efeito, tem-se aqui a convivência pacífica de povos que, noutras latitudes, se fazem inimigos mortais. Em nada o. Brasil ganha em assumir um ou outro lado, por exemplo, da disputa territorial entre judeus e palestinos. A quem pertence Jerusalém? Esta será sempre um questão que tem de ser decidida pela comunidade internacional em justa equidistância dos lados envolvidos na disputa.

No front internacional já começa uma dura reação aos arroubos de Bolsonaro. Em recente passagem por Buenos Aires, por ocasião da COP-24, o presidente francês, Emanuel Macron, foi  incisivo em afirmar que a União Europeia não negocia com Estados que abandonem o Acordo de Paris (o Acordo de Paris é um tratado multilateral patrocinado pela ONU sobre a Mudança do Clima, que rege medidas de redução de emissão dióxido de carbono a partir de 2020.

O acordo foi negociado durante a COP-21, em Paris e foi aprovado em 12 de dezembro de 2015.), a exemplo do que fizeram os EUA, na gestão Donald Trump e, pelo Brasil, deverá fazer o futuro governo de Jair (se acostumando) Bolsonaro. Uma coisa é certa: o doido do Trump pode encarar brigas desse porte, algo que não pode ser dito do tatibitate capitão Bolsonaro. Na dúvida, valha-nos o ‘sensato’ general Mourão, cada vez mais a demonstrar que, nas organizações militares como na vida mesma, hierarquia é posto…

Tomar partido nessa inglória disputa que remonta aos tempos das Cruzadas, não deixa de ser um enorme equívoco.  O Brasil, nas suas relações com o mundo tem sido visceralmente plural e de respeito  às escolhas internas das nações amigas. Daí que, qualquer orientação que vulnere essa postura de respeito à soberania dos Estados com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas, hoje e amanhã, será um enorme e grave equívoco. É o que o futuro próximo revelará

Paulo Linhares é professor e advogado

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. João Claudio diz:

    opmiL e oralc. idnetnE – Ou a quadrilha do PT reassume o poder ou o brasil ‘sifú’.

    ?uiV ,odrocnoC

  2. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Antes de tudo, parabenizar o Professor Paulo Linhares pelo brilhante artigo, onde além das assertivas pertinentes assertivas acerca do nosso atual norte de ordem política, nos premia com uma aula de história, mormente no âmbito das relações internacionais que o governo BURRO NARIANO se diz disposto ignorar, antes mesmo de tomar posse.

    Nessa toada,peço vênia para transcrever artigo do Comentarista Político e Cientista Social JOAQUIM XAVIER, artigo aliás, bastante semelhante e tão ou mais provocativo à reflexão, como fez o Professor Paulo Linhares em linhas translatas, senão vejamos:

    Política

    Página Inicial / Política / Governos que acabam antes de começar
    Governos que acabam antes de começar
    Ética do faroeste é o programa de Bolsonaro
    publicado 09/12/2018

    O Conversa Afiada publica artigo sereno (sempre!) de seu exclusivo colUnista Joaquim Xavier:

    No Brasil, tudo é possível. Sem recuar muito no tempo, em 31 anos (1985-2016), já tivemos um presidente morto antes de assumir, 2 impeachments, inflação de 80% ao mês. Num breve intervalo, vivemos também um período de 12 anos em que o país finalmente parecia começar a amenizar feridas seculares.

    Chega? Nem pensar. Como diz a incomparável jornalista Tereza Cruvinel, por aqui o impensável definitivamente decidiu montar acampamento.

    O governo de Jair Bolsonaro, sejamos realistas, acabou antes de começar em primeiro de janeiro. Não se trata de opinião ranheta, vingança de supostamente derrotados. São os fatos, simplesmente os fatos, que comprovam.

    A saúde do militar presidente é um mistério. Poucas dúvidas em relação à capacidade da equipe que o trata. O Dr. Macedo é reconhecidamente um dos mais competentes médicos do Brasil, para não dizer do mundo. Falo isso não exatamente por experiência própria, mas por conhecer gente séria e muito próxima tratada por ele que venceu desafios considerados impossíveis por outros clínicos. Espero não ser desmentido no futuro.

    Ocorre que razões de Estado, em casos semelhantes, sobrepõem-se à ciência e ao determinismo da medicina. Uma nuvem de mistério cerca o estado de saúde do oficial, assim como François Mitterrand escondeu durante anos ter sido atacado pelo câncer e Tancredo Neves, pouco antes do funeral, ilustrava fotos montadas como atleta. Será que ninguém percebe como é estranha a situação de um “eleito” que terá de ser operado menos de um mês após tomar posse? Tomara esteja exagerando, pois aprendi com chefes experientes que com morte não se brinca. Respeito isso até hoje, inclusive com relação a Bolsonaro.

    Esta é a parte humana, digamos assim. Mas o que sobra é rigorosamente desanimador e catastrófico.

    Bolsonaro foi ungido com base numa fraude identificada e documentada, graças a uma rede de mentiras orientada por um assessor de Donald Trump. Quem finge não enxergar a fancaria, pode me chamar de Cidadão Kane a partir de hoje. Ou de Miriam Leitão e assemelhados, à escolha do freguês.

    A família Bolsonaro foi recém-pilhada em falcatruas utilizando um motorista. O valor da roubalheira, por exemplo, supera o que supostamente o ex-presidente Lula teria amealhado para reformar um sítio que nem dele é. Um cheque voador em nome da futura primeira-dama daria para comprar quase uma dezena de barcos de alumínio iguais ao atribuído sem provas à dona Marisa. As justificativas oficiais são risíveis: empréstimo, amizade – só faltam a Fiat Elba de Collor ou um empréstimo no Uruguai providenciado por algum irmão de Abílio Diniz.

    Vamos em frente.

    Onyx Lorenzoni é descoberto como cliente cativo de caixa-dois. Não se sabe o que é pior: o crime ou o perdão. Este último é obra-prima do imparcial Sérgio Moro. “Ele errou, reconheceu o erro. Portanto, isto não vem ao caso. Assunto encerrado”.

    A propósito, comunico ao novo superministro da “Justiça” que devo a bancos. Errei ao me endividar acima de minhas posses para ajudar um irmão, pois não esperava ficar desempregado. Liguei ao banco pedindo perdão com base na jurisprudência curitibana. Aguardo a resposta sobre a anistia a minhas dívidas. Espero que Moro não me deixe na mão…

    Quanto ao que sobra do gabinete redentor, as notícias são aterradoras. Paulo Guedes é um especulador de ofício acusado de tramoias à custa do dinheiro público. O general Heleno, algoz do Haiti, vibra com operações de extermínio em massa sob pretexto de perseguir um único criminoso como fez em Port-au-Prince.

    Os novos “chanceler” (crente de que Mao-Tsé-Tung está vivo e tem pesadelos com Lênin) e “ministro da Educação” são discípulos de um astrólogo que, segundo sua própria filha, a impedia de estudar, cultuava a poligamia e hoje se refugia nos Estados Unidos.

    Bem, não sejamos tão pessimistas, consideram alguns. Há uma bancada bolsonarista robusta e, quem sabe, pode frear a maré de insanidade. Fracasso: nem Polyana acredita. Os últimos acontecimentos exibem uma malta de despreparados, ególatras e oportunistas. O grupo inclui familiares presidenciais incultos, ex-“jornalistas” descompensadas e uma advogada adepta de surtos esotéricos quando se trata de derrubar presidentas eleitas.

    Parece suficiente, não?

    Não. Todo este pessoal está disposto a insistir na ética de faroeste, com o apoio da mídia grande, do supreminho, do congresso de opereta e, principalmente, do grande capital financeiro internacional que comemora a xepa de feira em que o Brasil se transformou… Chamam isto de “alternância democrática”.

    Por acidentes da vida, fiquei dois dias acompanhando a “grande imprensa” oficial via rádio, TV e internet. O Brasil vive uma epidemia de intoxicação de mentiras embalada como “verdade” ou vendida como fato relevante. Mataram um cachorro num supermercado de São Paulo. Manchinha. Só um primata deixaria de condenar tal ato brutal e que deve ser punido de modo exemplar.

    Mas e o entorno? O Brasil tem pelo menos 50 milhões de desempregados de fato. A vereadora Marielle e o motorista Anderson foram executados a sangue frio. Daqui a pouco, o crime fará um ano sem solução. Quer mais? As ideias do general Heleno ganham corpo sem que as pessoas prefiram se dar conta: no Ceará, houve um massacre em que morreram vários reféns inocentes de assaltantes de banco. Um dos policias envolvidos na chacina afirmou: “mas o que os reféns estavam fazendo lá”?

    Eis aí o Brasil que se promete. Quem sabe um dia a Oposição acorda.

    Joaquim Xavier.

    Nessa teia,respeitosamente, sobretudo aos BURRO NARIANOS,…Conclamo-vos à leitura….!!!

    Por favor senhores, leiam e reflitam um pouco que seja. Mesmo por que, que eu saiba, ler e refletir não tira pedaço, ainda não está proibido, e mais ainda , não tem contra indicação.

    PS. Quem sabe vossas senhorias comecem engatinhar o processo de compreensão histórica (QUEM SABE ALGUMA SINAPSE ENTRE OS RAROS E PERDIDOS NEURÔNIOS, NÃO COMECE A OCORRER, E AÍ,VOSSAS INSOLÊNCIAS COMECEM PERCEBER O REAL SIGNIFICADO DE GEO-POLÍTICA) do que, DE FATO, significa governar um país continental, heterogêneo, assimétrico e pontuado historicamente em um monumental e multifacetado caldeirão de raças, culturas, religiosidades, costumes e valores.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  3. Menezes diz:

    É muita baboseira para um homem q se diz jurista.

  4. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Caíramos no precipício da desonra e da amargurada situação econômica, empurrados por governos que nos saquearam ao extremo, acabando por deixar graves vestígios da ganância. Empobrecêramos não por cessarem nossas riquezas e, sim, porque fôramos vilmente roubados. Precisávamos nos reerguer e assim o fizemos, através do voto. Não votamos em São Jair Bolsonaro, mas naquele que nos pareceu melhor.
    De fato, muitas vozes falaram por ele. De início, por conta de seu estado de saúde. Depois, porque gostaram e já estavam se habituando. Não houve comedimento. A sensação do poder pode se transformar em lástima. O preceito da liturgia do cargo não foi observado. Nem pelo próprio eleito. Extrapolou porque não é São Jair Bolsonaro. Temos ainda tempo para colhermos os frutos de nossa escolha pois o novo tempo, ou tempo vindouro ainda não começou. Esperança permanece.
    O Brasil é, conhecidamente, bom vizinho e de ótimo relacionamento com outros países. Temos a nossa “Águia de Haia”, Rui Barbosa, que proclamou a igualdade dos Estados, diante de um mundo que se entusiasmou com suas palavras.
    Não podemos melindrar o relacionamento alcançado, até porquê não nos equilibramos nas próprias pernas, necessitamos do mercado internacional. Em palavras mais simples, não temos voz para ” cantar de galo”. Uma boa diplomacia nos é essencial.

  5. João Claudio diz:

    Menezes, o que me chama mais a atenção, são os cidadãos que defendem bandidos sem receber nada em troca. E o que é pior: Os bandidos não conhecem esses tipos que os defendem com unhas e dentes. São defensores anônimos.

    Figa pés de pote à serviço da bandidagem. Figa!

  6. J. Cícero Costa diz:

    Artigo precioso, relevante, bastante oportuno. Parabéns ao Professor Paulo Linhares.

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