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domingo - 18/03/2012 - 09:32h
Conversando com... Ney Robson

Diretor do Tarcísio Maia vê avanços nos serviços do órgão

O cirurgião-dentista Ney Robson Vieira de Alencar – natural de Alexandria-RN – tem em mãos um dos órgãos mais críticos do serviço público no Rio Grande do Norte: a direção geral do Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM). A unidade hospitalar está sempre na pauta do dia, em face do volume de atendimentos que faz e a visível incapacidade de dar resposta satisfatória à sociedade, em seu papel. É uma herança que passa de governo para governo. Neste bate-papo, ele – que já foi secretário de Saúde de Alexandria, é inquirido sobre alguns pontos delicados de funcionamento do HRTM e aponta o que tem sido feito para tentar minimizar esse agonizante cenário.

Blog do Carlos Santos – Como o Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM) tem um Pronto-Socorro de emergência-urgência pediátrico sem leitos de UTI para atender todo o Oeste do Rio Grande do Norte? É possível atender à demanda que costuma ser alta?

Ney Robson – A falta de planejamento e ações estratégicas ao longo dos anos promoveram várias situações críticas dentro do HRTM. Entre elas, está a falta de leitos de UTI pediátrica. Aos poucos, estamos conseguindo mudar esta história com a implantação desta rotina em todos os setores do hospital, dentro da necessidade e disponibilidade financeira e assim contemplar as situações mais críticas. No entanto , o HRTM é o único hospital público no município que é referência em urgência e emergência. Além disso, atende vários municípios da região Oeste, bem como pacientes procedentes de outros estados, como CE e PB. Dispomos de equipamentos para este tipo de atendimento, inclusive UTI adulto, que não tem leitos suficientes para a demanda. Porém, utilizamos os leitos de UTI/SUS dos outros hospitais. Temos no município leitos de UTI neonatal: 06 na Casa de Saúde Dix-Sept Rosado e agora mais 07  no Hospital da mulher que recentemente foram ativados. Em Mossoró não dispomos de UTI pediátrica ainda, porém em breve este serviço será implantado, inclusive com 10 leitos no Centro de Oncologia que servirá para Mossoró e região. Enquanto estes leitos não estão disponíveis temos realizado transferência para Natal quando se fez necessário. Também já temos disponível o Serviço de urgência Móvel pediátrico – o SAMUSINHO – que está todo equipado para prestar o atendimento de urgência e transportar até o serviço de referência.

Ney é ex-secretário de Saúde de Alexandria-RN

BCS – Como o HRTM está fazendo para dar andamento ao tratamento dos pacientes, visto que não existe onde sejam realizadas as cirurgias eletivas?

NR –Definitivamente, o HRTM não tem o perfil de fazer procedimentos “Eletivos”, sobretudo pela deficiência de leitos e de Recursos Humanos . O Município de Mossoró tem viabilizando estes procedimentos nos hospitais Wilson Rosado, Centro de Oncologia e Hematologia de Mossoró e algumas, principalmente obstétricas, na Casa de Saúde Dix-Sept Rosado. Para os pacientes dos outros municípios , alguns deles tomam a iniciativa para solucionar e os demais são cadastrados na Central de Regulação do Estado e aguardam o chamado. Porém, esse ainda se constitui um grande problema para o município. Não possuímos leitos disponíveis (Cadastrados) na rede pública de Mossoró para atender esta demanda.  Apesar de várias reuniões com os secretários de Saúde dos municípios vizinhos e Mossoró, o HRTM  ainda continua recebendo muitos pacientes que poderiam ter os seus problemas resolvidos nas unidades de Atenção Básica e Pronto Atendimento. Isso provoca a superlotação dos nossos leitos, que já são poucos. Hoje,  60% de pacientes internados no HRTM são munícipes de Mossoró e  90% destes aguardando procedimentos eletivos. Estamos, através do Médico Coordenador do Pronto-Socorro  e da  UGV-Unidade de Gerenciamento de Vagas, intensificando o trabalho da ”porta do Hospital” com as atribuições da Classificação de Risco. Além disso,  precisamos avançar nos entendimentos com as Secretarias de Saúde de Mossoró e região para juntos podermos continuar melhorando esta situação que já foi bem pior.

BCS – Por que o Sistema Único de Saúde (SUS) paga 100% dos leitos de UTI do Hospital Wilson Rosado (cerac de R$ 4,4 milhões/ano) mas não regula estes leitos? Não lhe parece existir aí uma considerável distorção, em prejuízo à coisa pública e ao próprio usuário-cidadão? Ou seja, pagamos, mas quem decide se interna ou não é o dono do HWR.

NR – Este modelo já existe há algum tempo  e apesar de considerá-lo eficiente, o meu  entendimento é que deveria ser regulado  pelo SUS através de uma Central de Regulação. Esses leitos surgiram como uma necessidade para atender à grande demanda por leitos de UTI em nossa região, pois não havia disponibilidade suficiente. Para melhorar esta situação, o Hospital da Mulher  dispõe de 08  leitos de UTI e que alguns destes  também  estarão disponíveis para as nossas pacientes da Clínica Médica. Quanto à regulação, pelo menos os leitos solicitados para pacientes do HRTM, são realizados através da  UGV junto ao Serviço Social do Hospital  Wilson Rosado.

BCS – O senhor tem previsão de quando haverá investimento de R$ 1,6 milhão garantidos em 2010 pelo Ministério da Saúde para climatizar o HRTM??? E como será distribuído esse benefício em sua estrutura física, sob que prioridades?

NR – É bom que todos saibam que este programa foi uma grande frustação. Na verdade só existia um Projeto  Arquitetônico de Climatização e reforma em alguns setores do Hospital. Logo após assumirmos a direção (há 14 meses) fomos em busca deste e só tive decepções. Buscamos informações na Caixa Econômica Federal (CEF) em Natal e a mesma alegou que faltava os  projetos complementares (hidráulico e elétrico), buscamos  a empresa responsável para executá-los a qual alegou falta de pagamento e  não finalizou. O Estado contratou uma outra empresa para executá-los e logo em seguida foi entregue à CEF, finalizando todos os requisitos. No final do ano passado, o setor de contratos da SESAP (Secretaria de Estado da Saúde Pública) foi informado que o recurso (financeiro) para este fim não estava disponível e sim o orçamento previsto. Para não perder este  programa, foi renovado o convênio por um  período de 01 ano para tentarmos viabilizar este importantíssimo projeto.

Dentro do Plano de Metas para o ano de 2012 , a governadora autorizou algumas melhorias para o HRTM. Entre elas, está sua parte física que inclui ampliação da UTI (mais 07 leitos), Construção de mais leitos de Enfermaria (40 leitos) , Ampliação do setor da Cozinha, além da climatização da Lavanderia e Postos de Enfermagens das clínicas que já foram  iniciados. O projeto de reforma esta sendo finalizado e em breve será licitado.

BCS – Clínicas médica e cirúrgicas, além dos repousos, estão lotados no HRTM. O que o HRTM está fazendo para amenizar este quadro que se arrasta há anos, não sendo um ‘privilégio’ de sua gestão e da era Rosalba Ciarlini (DEM)?

NR – Além dos repousos e clínicas cheios, o corredor do PS estava sempre lotado com pacientes internados, deitados em macas ,cadeiras e até no chão, uma situação de agonia e indigna, transformando-se assim no ponto mais crítico do Hospital. Esta situação era o maior desafio daquele momento. Elaboramos  então um novo modelo de trabalho no ponto mais crítico do Hospital com a  implantação da Coordenação Médica e do médico Diarista. O médico coordenador age nas transferências intra e inter hospitalar,  otimiza altas em outros  hospitais inclusive  de UTI, agiliza  procedimentos e exames pendentes; o médico diarista promove a assistência ao paciente de forma mais rápida e humanizada, agilizando assim a cura das patologias.

Diretor apresentou projeto de 'Colegiado Hospitalar"

No início , muitos não acreditavam mas foi e está sendo um sucesso. Há mais de quatro meses não possuímos nenhum paciente internado no corredor do PS-HRTM, sazonalmente, pacientes são mantidos neste setor aguardando exames, mas a meta de “corredor zero” tem sido atingida. No início de janeiro, em reunião com a governadora Rosalba  e com o Secretário Domício Arruda, apresentei um projeto para melhorar a rede hospitalar, incluindo Leitos de Retaguarda, Salas de Estabilização, Equipar UTI do Hospital de Pau dos Ferros, Capacitação dos profissionais, entrosamento contínuo com as farmácias e os setores de transferências destes Hospitais.

O projeto foi aprovado, denominado “Colegiado Gestor Hospitalar” e esta servindo de modelo. Várias reuniões em diferentes hospitais já aconteceram entre os diretores e técnicos  destas unidades, contando com a presença da secretária-adjunta da Saúde, Dorinha Burlamaqui, Diretora da UNICAT, Coordenadora  e técnicos da COHUR. Foi também apresentado e aprovado na última reunião regional  dos Secretários municipais de Saúde, realizado na II URSAP (Regional de Saúde.

Muitas  destas ações já estão acontecendo. Fomos em busca de “Leitos de retaguarda” nos Hospitais Regionais de Pau dos Ferros, Assu, Angicos, Apodi e Caraúbas onde conseguimos colocar na rede hospitalar mais 50 leitos que têm sido diariamente ocupados  através do sistema de transferência adotado a partir do HRTM. As farmácias intensificaram o intercâmbio com permutas de medicações e as capacitações focando a Urgência iniciarão em 11 de abril contemplando profissionais de todos os hospitais regionais. Aguardamos agora os investimentos financeiros. Feito isso e mantendo  a constante abertura para discutir e avançar neste projeto, considero um excelente trabalho e um ganho valioso para a assistência da população da nossa região, sendo um marco de gestão .

BCS – A Secretaria de Estado da Saúde Pública (SESAP) e o HRTM falam em finalmente implantar a tão necessária Central de Regulação. Essa é uma discussão antiga, que deriva de outras gestões e governos, mas nunca sai do noticiário e nunca vira realidade. O que temos de concreto quanto a esse delicado tema?

NR – Considero a Central de Regulação Estadual o fator determinante de toda esta “fila” iatrogênica de pacientes que “aguardam” as suas cirurgias, uns internados nos hospitais em longos períodos e outros já em casa, muitas vezes até sequelados. Não basta só tê-la, tem que ser eficaz e contínua. Tenho cobrado do setor de Planejamento da SESAP isto de forma incisiva. A última informação é que será implantada ainda neste semestre. No entanto, enquanto isso não ocorre, criamos um intercâmbio entre os Hospitais Regionais que até vem dando certo, mas é necessário ser regulamentado estadualmente. Mesmo assim, já existe no municipio uma central de regulação. Porém, o que ainda não temos é a regulação de leitos, que será implantada quando tivermos leitos suficientes para a nossa demanda. Regulamos os leitos do HRTM através da UGV – Unidade de Gerenciamento de Vagas e das medidas anteriormente elencadas.

BCS – A relação entre direção do HRTM e médicos (individualmente ou através de suas associações e cooperativas) costumeiramente revela conflitos. Não faltam denúncias aqui e ali, contra médicos que negligenciam atendimento, plantões etc. O senhor também tem sido objeto de queixas. Como tem sido essa coabitação e quais os reflexos disso no papel estratégico do HRTM?

NR – Ao assumir o HRTM, já sabia que iria enfrentar estes conflitos. Encontramos no inicio da nossa gestão um hospital com problemas que se arrastavam por 25 anos, como recursos humanos deficientes, equipamentos obsoletos e insuficientes e recursos financeiros também insuficientes para solucionar tantos problemas. Tivemos que eleger prioridades. Estabelecer metas e montar estratégias de trabalho. Certamente,  enfrentamos algumas situações de “conforto” em alguns setores que eram danosas para o serviço público e evidentemente ao combater isto, não somos bem recebidos.

As defesas destas situações  em muitas vezes  utilizam de outros caminhos para tentar impedir as  mudanças, escondendo-se e colocando outras pautas como escudo. Considero isso natural. Mas temos que continuar colocando em prática o nosso planejamento, que muitas vezes não é ideal, mas é o possível naquele momento. A nossa gestão é focada em  proporcionar os melhores resultados “possíveis” para  o usuário e para os servidores do Hospital Regional Tarcisio Maia .

Ney (centro), com autoridades de Saúde do Estado e município, discute gargalos do setor

Com a implantação de Coordenação do PS procuramos reduzir os atendimentos que não eram de urgência e emergência e evitar uma grande sobrecarga de trabalho para equipe. Realmente temos recebido denúncias de pacientes e familiares quanto ao tipo de atendimento dado pelos profissionais. As pessoas hoje estão todas atentas, pois os direitos das pessoas além de garantidos pela Constituição, estão cada vez mais próximos de todos e as  portas do Ministério Público estão abertas para receberem estas situações. Acredito que o entendimento sempre é o melhor caminho, porém quando não logramos êxito, realizamos procedimentos administrativos e quando se fez necessário encaminhamos para o MP e CRM (Conselho Regional de Medicina) para as devidas  providencias.

Várias reuniões são feitas com profissionais, diretor técnico, diretor  médico e profissionais das diversas categorias, para solucionar alguns problemas. Sem dúvida a classe médica e demais categorias vivenciaram de perto esse problema e teve repercussão no serviço, para pacientes, para os profissionais, bem como para gestão hospitalar. Quanto aos médicos vários entendimentos foram feitos no sentido de suprir a escala deficiente  e algumas outras situações, mas pela burocracia estatal as coisas não caminham na velocidade que pleiteamos e temos que nos abraçar com o que temos e garantir a assistência ao usuário. Estaremos implantando em Abril o sistema de Ouvidoria no HRTM que será mais um canal de comunicação entre servidores, usuários e gestão. O importante é manter sempre o canal aberto para  escutar as pessoas , mantendo  o diálogo e as ações serem executadas dentro da legalidade, com racionalidade, transparência e justiça. É este  o pensamento que tenho e procuro passar para toda a minha equipe de trabalho.

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Comentários

  1. William Pereira diz:

    O homi é um milagroso. Ver para crer…

  2. Rafael Soares diz:

    Parabéns Carlos pela entrevista.
    Como funcionário deste hospital há 3 anos, tenho percebido uma diferença muito grande na condução dos processos entre as duas direções a que tive acesso como funcionário público (Marcelo Duarte e Ney Robson).
    Apesar de ter feito uma ampla oposição a diversos aspectos da gestão do odontólogo Marcelo Duarte, assim como o faço à atual gestão do também odontólogo Ney Robson, há duas diferenças cruciais entre ambas:
    1 – Interferência política: Nos dois anos que passei servindo ao Estado do RN, lotado no HRTM eu não vi um décimo das interferências políticas e dos jogos sujos que se fazem para “acoitar” toda uma turma de pessoas que não tem sequer vínculo com o Estado e que recebe “salários” (entre aspas mesmo) das formas menos transparentes possíveis;
    2 – Falta de Democracia e ideais republicanos: Quem não concorda com os desmandos vira alvo de perseguição. Assédio moral mesmo. Vira alvo de pequenos dossiês que visam intimidar os funcionários e tentar amordaçar o servidor e forçá-lo a aceitar os erros e improbidades tomadas.

    Novamente Parabéns Carlos por seu ótimo trabalho jornalístico. É o único blog que leio todo dia aqui do RN (digo isso, porque leio o blog do Eliomar de Lima do meu estado natal, Ceará), pois faz um jornalismo ético, competente e com ótima redação.

  3. Diego Dantas diz:

    Parabens ao entrevistador pelos oportunos questionamentos. A sociedade precisa saber e se aproximar de seus gestores. Mitigar duvidas e um dever do jornalismo serio.
    Quanto ao entrevistado, pode-se perceber a dificuldade e o desafio de gerir um complexo hospitalar tão importante, e ao mesmo tempo tão intrigado, e amarrado a burocracia estatal. Há desafios enormes, avanços a serem conseguidos, mas percebo ações concretas que vão a favor dos interesses da sociedade, que tanto anseia pelo atendimento digno.
    Boa sorte nessa missão!
    Diego Dantas
    Webleitor

  4. TASSO MOURA diz:

    GOSTARIA DE SABER DO DR O QUE ELE DIZ A RESPEITO SOBRE OS VARIOS PEDIDO DE CAÇASSÃO DO SEU REGISTRO DE ODOTONLOGIA NO CRO EM NATAL, COMO O CASO DO SR. GIRINALDO QUE ANDA SOFRENDO AU DEUS DARÁ.

  5. Geraldo Júnior diz:

    Estamos torcendo pra ver se pelo menos isso acontece de bom no governo das placas.

  6. jussirene oliveira diz:

    gostaria de saber o que e mais importante para os pacientes e para os funcionarios .as camaras que o diretor colocou em todo o hospital , medicadicamentos ou condiçoes de trabalho ? o diretor instalou camara em todo o hospital e tem dias que falta lençois para pacientes ,medicamentos e ate macas para transportar pacientes das ambulancias que ficam horas esperando pelas suas macas ,atrapalhando as ocorrencias do samu.

  7. Geraldo Júnior diz:

    * O governo das águas vendeu a COSERN e não financiou o melhoramento do serviço aos que até continuam com sede por causa da falha CAERN;
    * O governo de todos deixou muito a desejar quando permitiu que o pouco que fez fosse publicado como obra de outrem;
    * E o governo das placas? Meu Deus! Até quando vamos suportar tanta incompetência?
    Depende de nós…

  8. keliane varela diz:

    Gostaria de saber se com a implantação de mais leitos nessa unidade serão convocados téc. de enfermagem para atuar nessa unidade ate o fim do ano,pois existem comentários que o hospital necessita de mais funcionarios

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