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domingo - 11/07/2010 - 12:10h

Massilon e o ódio de Décio Holanda contra Chico Pinto

Décio Holanda era genro de Tylon Gurgel, homem respeitado na região do Apodi, cujos domínios se efetivavam principalmente em Pedra da Abelha, hoje município de Felipe Guerra (RN).

Cearense de Pereiro, Décio Holanda possuía hábitos e valores nada louváveis, como cultivar ódio em grau exponencial, não conseguindo perdoar desafetos ou pessoas que o desagradassem. Era vingativo ao extremo, movido por verdadeira sede de revanche. 

Amigo de ex-comboieiro de nome Massilon Benevides Leite, Décio Holanda foi um dos mentores que fomentaram o aliciamento de séquito de bandidos objetivando atacar Mossoró. 

Aurora, no Ceará, um dos redutos dominados pelo poderoso “Coronel” Isaías Arruda, foi outro ponto estratégico de apoio à empreitada que resultou na tentativa audaciosa de ataque à segunda cidade potiguar, em 13 de junho de 1927.

A investida bandoleira contra Mossoró estava prevista para ser realizada no mês de maio, mas quando do início da marcha do bando de Lampião em direção ao Rio Grande do Norte, houve combate em Belém do Rio do Peixe, hoje Uiraúna (PB), resultando em sério revés para o grupo cangaceiro, quando perderam dois importantes membros, pois a torre da igreja havia sido empiquetada.

Nesse ínterim, Lampião descobriu ter sido ludibriado. A munição adquirida estava imprestável para uso.  Acatando as ordens do chefe, o bando deu meia-volta e retornou ao Ceará para se refazer do combate desastrosos em Belém do Rio do Peixe, em fazenda do “Coronel” Isaías Arruda, um dos maiores coiteiros de cangaceiros.

A junção de forças de Lampião e dos demais grupos de cangaceiros que cerraram fileiras com o “rei do cangaço”, com o bando de Massilon, estava prevista para acontecer nos primeiros dias do mês de maio, mas devido ao revés ocorrido na Paraíba, ficou absolutamente impossibilitado de acontecer o encontro dos famanazes bandoleiros das caatingas.

Seguindo instruções de Décio Holanda, Massilon e seu bando atacaram Apodi no dia cinco de Maio de 1927. O objetivo era concretizar o ódio devotado pelo irascível genro de Tylon Gurgel contra o chefe político de Apodi.   O “Coronel” Francisco Pinto era um homem que havia colecionado um rosário de inimizades, estando Décio Holanda entre os desafetos mais perigosos.

Massilon e seu pequeno bando dominaram facilmente a localidade, exigindo usual tributo e aprisionando sem mais delongas o alvo principal dos atacantes. Humilhado e conduzido como animal pelas ruas de Apodi, Chico Pinto viu a morte de perto na forma de impressionante punhal arrastado por Massilon para sangrá-lo ali mesmo, na frente de todos, talvez, agindo assim, serviria como aviso para que todos respeitassem Décio Holanda. 

A intervenção oportuna do pároco local foi providencial para evitar o martírio do chefe político apodiense. Era conhecido o respeito que os cangaceiros devotavam aos padres. Naquele dia, Padre Benedito tornou-se o grande herói do Apodi, pois os cangaceiros atenderam ao pedido e deixaram Chico Pinto vivo, não obstante no ano de 1935 ter sido assassinado por questões políticas.

O ataque do bando de Massilon a Apodi, junto com o aviso dado por Joaquim da Silveira Borges e com a carta enviada por Argemiro Liberato de Alencar, de Pombal (PB), destinada ao compadre Rodolfo Fernandes em Mossoró (RN), serviram de aviso para que a inquietude reinasse no peito do bravo chefe político mossoroense, de que a iminência de uma invasão cangaceira estava prestes a acontecer a qualquer momento.

O fato foi concretizado no mês seguinte, quando a audácia de Lampião e seus seguidores chegaram às portas da capital do oeste potiguar exigindo a exorbitante quantia de quatrocentos contos de réis para poupar a cidade de uma invasão violenta.

O resultado todos sabemos qual foi.

José Romero Araújo Cardoso é geógrafo, professor-adjunto da Uern e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

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Categoria(s): Fred Mercury

Comentários

  1. MARCOS PINTO - PTE. DA ACADEMIA APODIENSE DE LETRAS (AAPOL). diz:

    Parabenizo ao emérito historiador JOSÉ ROMERO quanto ao resgate deste fato histórico. NO entanto, o Cel. Francisco Pinto foi assasssinado no dia 02 de Maio de 1934, às 20:30 Hs. pela mão mercenária(Pistoleiro Roldão Maia) adrede alugada/paga pelos invejosos TILON GURGEL e LUIZ FERREIRA LEITE (LUís Leite). Tilon Gurgel e Luiz Leite nutriam visível inveja ao Cel. Fco. Pinto. Tilon tinha a proteção do cunhado Desembargador Felipe Guerra, tanto é que sequer foi indiciado nos autos que o apontavam claramente como um dos mentores do assasssinato do CVel. Chico Pinto. Ocorre que, por ocasião do pleito de 03 de Outubro de 1933 o PARTIDO POPULAR,ao qual Chico Pinto era filiado triunfou naquele ano quanto ao Senado e aos Deputados Federais. Em 1934 reralizar-se-ia o pleito para eleição dos Srs. Deputados Estaduais, que por sua vez, candidatos pelo situacionismo ligado ao Mário Câmara (Partido Liberal ou aliancista,conhecidos como PELABUCHOS) e os candidatos ligados aos grandes líderes Drs. JOSÉ AUGUSTO E JUVENAL LAMARTINE. O partido que elegesse o maior número de Deputados elegeria,de forma indireta,o futuro governador do Estado. Como os Srs. Luiz Leite e Tilon Gurgel tinham notória inveja da performance do Cel. Francisco Pinto,e já cientes da iminente vitória do Partido Popular quanto aos assentos à Assembléia Legislativa, e consequentemente na iminente eleição indireta de CHICO PINTO ao governo do Estado, contrataram o pistoleiro ROLDÃO MAIA para ceifar a vida de Chico Pinto, o que aconteceu a 02.05.1934. Apuradas as urnas deste ano, o PARTIDO POPULAR elegeu 14 Deputados Estaduais contra 11 Deputados situacionistas. Com o assassianto de Chico Pinto, importaram o então Deputado Federal Rafael Fernandes para substituir o antes candidato Cel. Fco. Pinto,assassinado pela inveja de Luiz Leite e Tilon Gurgel, que cortaram o vôo do ilustre Apodiense rumo ao executivo Estadual. A inveja e o descabido ódio tirou um ilustre Apodiense da galeria dos governadores do RN.

  2. Nurim de Bugue diz:

    Tanto o artigo esclarecedor do geógrafo Romero como o comentário do elogiavel historiador Marcos Pinto nos traz fatos que poucos apodienses tem conhecimentos. SUGIRO ao conterrâneo de família tradicional da Lagoa de Apodi nos deixar uma obra escrita sobre a política apodiense, sua familia no comando e a os fatos trágicos, tais como estes citados. Parabéns aos escritores.

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