• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 29/12/2013 - 10:06h

O advento da cassação no “País de Mossoró”

Por Gutemberg Dias

Desde dezembro de 2012 que Mossoró pode ser considerada a cidade das incertezas políticas. A eleição de Claudia Regina ao Palácio Rodolfo Fernandes se configurou numas das epopeias políticas mais complicadas dos últimos tempos em solo potiguar e, gera, a cada dia, novos episódios que fazem qualquer um pensar se a política ainda é o caminho que pode mudar as relações de mundo.

As sucessivas cassações da prefeita mossoroense refletem o resultado da política de baixo escalão que é praticada em nossa “Terra Brasilis”, onde o povo é tratado como massa de manobra e submetido ao poder econômico dos chefes políticos da hora. O tão conhecido “curral eleitoral” não deixou de existir e, com algumas derivações, toma conta do processo político na atualidade.

O que esperar dos tantos recursos apresentados pela defesa da agora prefeita cassada Claudia Regina? Será que esse momento não seria de reflexão e autocritica? Particularmente não acredito em reversão do processo. Sei que do ponto de vista jurídico ainda existe sobrevida, mas do ponto de vista político acredito que o processo já foi consumado e o desgaste é um dos pontos cruciais ao seu retorno.

Ainda, é importante frisar que todo esse desgaste político e, sobretudo, administrativo deveria estar sendo tratado pela imprensa de forma clara e didática. Mas, o que se vê é um processo de esconde-esconde de fatos, onde quem deveria informar é quem menos informa os acontecimentos reais. Tratar de forma didática nada mais é do que mostrar os fatos e ajudar a população a entender que processos como esses na política devem ser rechaçados para que não se repitam num futuro próximo.

Os mossoroenses, em todos os cantos, ficam se perguntando qual o destino do município? Não se vê as massas articuladas defendendo a prefeita cassada quanto a sua permanência no Palácio Rodolfo Fernandes, muito menos, infladas contra esse jogo de empurra que o TRE – Tribunal Regional Eleitoral promoveu para julgar os recursos impetrados contra as decisões monocráticas. Isso, mostra claramente, que esse processo está a anos-luz de cada cidadão comum de nossa futura metrópole.

Essa apatia política é fruto e obra de todos que fazem a política virar circo. Também, é fruto de todos que tem a convicção que algo precisa mudar, mas continua insistindo em ficar de braços cruzados esperando a banda passar. Ainda, é fruto desse sistema político esgotado que não sofre mudanças significativas capazes de devolver ao povo a vontade de se fazer política. É nesse caminhar que a cada dia a grande maioria, em todos os campos, não contribui com a arte de fazer política.

É notório que esse processo eleitoral em Mossoró é uma peça que deveria servir de aprendizado para o povo, mas que ao final teremos apenas, pela primeira vez, uma prefeita cassada em Mossoró e um processo de eleição suplementar. Infelizmente é esse o resultado de todo esse estágio democrático para o povo dessa terra onde a padroeira, Santa Luzia, é a protetora daqueles que não enxergam.

Por fim, olhando para a pessoa pública de Claudia Regina imagino que ela poderia tomar uma decisão forte em sua vida ao romper com as amarras que lhe proporcionaram a ascensão e queda, dessa forma, dando um passo ao recomeço político.

É mister perguntar se a prefeita cassada tem coragem de abrir um novo flanco, de forma independente na política mossoroense, e apoiar alguém que não faça parte do ciclo vicioso da política local para substitui-la no Palácio Rodolfo Fernandes? Para mim é uma questão de coragem e de sobrevivência na vida pública. Ainda, digo, que não pode ser qualquer um, precisa ser alguém tenha vida própria e, sobretudo, seja capaz de administrar com o povo.

Essas são minhas impressões sobre esse tumultuado processo eleitoral. Mesmo, assim, acredito que o povo de Mossoró poderá sair maior e melhor após todo esse imbróglio político. O tempo é escasso, mas existe. Porém, isso depende de você, do seu vizinho, do meu amigo, de mim e da imprensa livre e democrática dessa terra.

Gutemberg Dias é presidente do PCdoB em Mossoró

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. K Carvalho diz:

    Texto muito interessante !

  2. Igor Ramon diz:

    Muito bom o texto do amigo Gutemberg. Só houve uma pequena confusão no que toca a sede do Executivo, que é o Palácio da Resistência e não o Rodolfo Fernandes (sede do Legislativo Municipal)

  3. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    faço minhas as palavras do nosso Gutemberg Dias, acrescentado que no país de Mossoró, infelizmente os avanços, se é que eles existem e (ou) poderão ter continuidade, os mesmos se fazem claramente a passo de formiga.

    É desoladora e triste a constatação, porem, não há outra que se fazer em um quadro político, econômico e social, onde a manipulação, o desserviço, a omissão de uma minoria que há décadas constroem sob o signo do patrimonialismo, um incontestável circulo vicioso direcionado manifestamente a um contexto de imobilismo social.

    Como dito, na terra que tem como Padroeira Santa Luzia àquela que, segundo a crença popular, recupera e dá luz e visão aos simples mortais, mortais esses absolutamente incapazes de enxergarem a manifesta e preclara ignomínia, a veleidade, a soberba e o autoritarismo com que são administradas as instituições ditas republicanas.

    Mossoró de uns poucos, inobstante seja uma cidade polo agregadora de um sem número de potencialidades, sofre há décadas, obstaculizadas e encalacrada sob o obscurantismo, egocentrismo e manifesta negação prática da verdadeira política por parte daquela meia dúzia, cuja investidura no poder, envergonha, enlameia, vicia, aliena e contamina de desalento parte considerável da sua população.

    Caro Gutemberg DIAS, a dinâmica e a forma peculiar, modorenta e aparentemente imutável da realidade política e social, mormente em suas intituições legislativas, executivas e judiciárias do país de Mossoró, nos remete inarredavelmente a autores clássicos como ROUSSEAU, TORQUEVILLE e Etienne De La Boétie, dos quais, ouso transcrever algumas de suas considerações.

    Como dito, temos de fato, um Estado patrimonialista de viés funcional eminentemente privatizado, claro está que esse tipo de Estado favorece a busca de metas pessoais e bens materiais para todos, mas na base da concorrência, chega-se a um ponto em que aos indivíduos “o exercício de seus deveres políticos lhe parece um contratempo incomodo que os afasta dos seus negócios; não têm tempo para eleger seus representantes, para apoiar a autoridade, tratar em comum os assuntos públicos”.

    Dessa maneira, eles deixam de lado o principal, ser donos de seu próprio destino, porque se colocam nas mãos do primeiro déspota que se apresente para garantir a ordem, e se dispõem a renunciar à liberdade, que Toqueville identifica basicamente com o auto-governo.

    A segunda causa está na corrupção das instituições, provocada pela vontade particular dos governantes ou grupos de indivíduos, movidos pela ambição. São geralmente os mais poderosos que se unem e se apóiam no povo mais abjeto, que prefere o pão à liberdade. Teoricamente, nada disso poderia acontecer, porque os magistrados deve riam obedecer à lei que afinal lhe garante uma autoridade e um prestígio. Mas evidentemente isso não é suficiente, e a vontade particular que busca privilégios e primazias, fala mais alto.

    O abuso de poder é feito inicialmente em prejuízo dos fracos, porque é sem freio e sem limite. Numa primeira etapa, o efeito é a paralisia e a impotência do corpo político. A vontade geral ainda existe, mas não tem como se realizar, porque o governo é indiferente ou hostil.

    Depois, o desfecho é o despotismo, no qual paradoxalmente, no ponto extremo da desigualdade, os homens
    em casa”). Chegado este momento, é inútil “querer governar um povo corrompido pelas mesmas leis que convêm a um povo bom” ROUSSEAU, J-J. Cartas escritas da montanha,

    Assim , de certa maneira, tanto os eleitos quanto os eleitores, tornam-se todos iguais, na servidão e na dependência mútua, cristalizando um circulo vicioso e uma operosa, viciada e contaminada máquina política, onde manifestamente resulta no corpo social uma escravidão mútua .

    Na sétima das Cartas escritas da montanha , Rousseau detalha o processo de corrupção numa república. Inicialmente, “o povo soberano quer por si mesmo, e por si mesmo faz o que quer. Logo, as dificuldades desse concurso de todos para todas as coisas força o povo soberano a encarregar alguns de seus membros de executar suas vontades. Esses oficiais, após terem cumprido suas tarefas, prestam conta delas e voltam para a igualdade comum. Pouco a pouco, estas tarefas tornam-se freqüentes e, enfim, permanentes. Forma-se, insensivelmente, um corpo que age sempre. Um corpo que age sempre não pode prestar conta de cada ato e, logo, não prestará de nenhum.”.

    O legislativo fica inativo, a vontade geral enfraquecida, permitindo que a vontade do poder executivo se torne independente e que o governo atue pela força da qual dispõe. Mas “onde apenas a força reina, o Estado está dissolvido. Eis, senhores, como perecem ao final todos os Estados democráticos”.

    Segue-se a impossibilidade de reencontrar a liberdade, e a adaptação definitiva à servidão: “os povos, uma vez acostumados a possuírem senhores , não conseguem viver sem eles. Se tentarem sacudir o jugo, distanciam-se a tal ponto da liberdade que, tomando por ela uma licença desenfreada que lhe é oposta, as suas revoluções quase sempre os entregam a sedutores que só fazem agravar suas cadeias”.

    O pensamento sobre a adaptação à servidão estava presente, além de Maquiavel, num escritor contemporâneo desse último, Etienne De La Boétie. Esse pensador considerou “inacreditável como o povo, desde que se sujeita, caia tão subitamente em tal e tão profundo esquecimento da liberdade, que não é possível despertá-lo para retomá-la, servindo tão livremente e com tanta vontade, que se pode dizer,
    ao vê-lo, que não perdeu a liberdade, mas ganhou a servidão”.

    Não é possível se iludir, porque o Estado é uma obra humana, portanto artificial, não pode durar para
    sempre. Entretanto, isso não deve impedir a tentativa de salvá-lo e melhorá-lo. A observação de não tentar o impossível, de não buscar a perfeição, é coerente, é mais uma demonstração que o pensamento Rousseauniano está calçado na realidade, talvez mais que os iluministas do seu tempo. Conseqüentemente, ele deixa de recomendar a resistência, porque um povo que permitiu esse desfecho não terá condição de recuperar a liberdade política e moral perdida, não tem mais a vontade, já se acostumou à servidão, apenas trocará de senhor. O povo continua existindo, mas não mais a república, nem o corpo político, que morreu pelo despotismo, pela conquista ou pela revolução, em uma palavra, pela perda da moralidade republicana.

    Claro está, que não é mera coincidência com a realidade do corpo e da dinâmica social e política das instituições mossoroenses.

    Meu caro Gutemberg, meus Caros Web-leitores-Eleitores, torçamos para que ROUSSEAU esteja equivocado.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  4. Adriana Araujo diz:

    Texto perfeito e muito interessante . Parabéns Gutemberg pela clara visão e expor para nos eleitores entendermos mais o que se passa na querida mossoró.

  5. Inácio Augusto de Almeida diz:

    O Presidente do PC do B tem uma boa rede?
    Se tiver pode nela se deitar para esperar que algum dia a prefeita cassada rompa “com as amarras que lhe proporcionaram a ascensão e queda, dessa forma, dando um passo ao recomeço político” e “apoiar alguém que não faça parte do ciclo vicioso da política local para substituí-la no Palácio Rodolfo Fernandes”.
    Isto ela nunca fará.
    Falta a prefeita cassada coragem.
    Coragem que faltou para, ao assumir a Prefeitura Municipal de Mossoró, escancarar as contas a fim de que todos soubessem a verdadeira realidade das finanças municipais.
    Coragem que também faltou à prefeita cassada para romper os contratos de locação de veículos, propaganda, gastos com festas, doações e tudo o mais que terminaram por transformar a sua administração na mais desastrada de todas que Mossoró já teve.
    Faltou coragem para mandar embora a empresa de resultados que lhe foi enfiada goela abaixo, sei lá por quem, e que num desrespeito total chegou a afirmar que a NORTEAVA, como se ela fosse uma areada qualquer a necessitar de orientação.
    Coragem foi tudo o que faltou à prefeita cassada.
    Então, meu caro, nem sonhe com a prefeita cassada arredar pé de onde está.
    Você já viu alguma criança com medo largar a mão da mãe?
    Siga em frente na sua luta sabendo estar preparando o caminho para 2020.
    Com a disputa para prefeito em dois turnos, todos que fazem oposição de verdade em torno de um nome que tenha o respeito e a admiração dos mossorenses, a vitória acontecerá.
    E 2020 será o marco de uma nova era.
    Não desanimar, seguir em frente, sempre em frente.
    Logo ali está 2020.
    /////
    O MUNDO NÃO TEM NENHUMA COMPLACÊNCIA COM OS FRACOS.
    Inácio Augusto de Almeida

  6. JOSUÉ MOREIRA diz:

    Parabéns amigo Gutemberg Dias pelo texto claro, objetivo e cheio de esperança. É bom refletirmos sobre a política e os políticos que Mossoró precisa para o presente e as futuras gerações! Abraço!

  7. roldolfo linhares diz:

    coitadinho, doido pra ta la, coitadinho tava doidin pra chegar la, qundo se canidatou, coitadinho doido pra ta comendo uma pedaçinho tambem………kkkkkkkkk

  8. raimundo nonato sobrinho diz:

    Eu não sei falar bonito mais falo o idioma que todo leigo político entende. Este rapaz do PC do B vive zanzando a procura de uma escora, de um pau de sebo, e agora vem querer falar bonito pensando que todo mundo é trouxa. Recentemente ele deu uma entrevista na TCM e disse em bom tom que o PC do B estava disposto a fazer alianças com diversos partidos, a maioria metidos em corrupção até os cabelos, e quem fala assim pode precisar de textos mirabolantes que possa impressionar, mais não vai enganar a todos.

  9. raimundo nonato sobrinho diz:

    Quem tiver rabo de palha não sai nem na foto. pegue seu banquinho e sai de mansinho.

    • Inácio Augusto de Almeida diz:

      “Quem tiver rabo de palha não sai nem na foto. pegue seu banquinho e sai de mansinho.”
      Isto disse Cinquentinha.
      Digo eu:
      Ou então que vá comandar reunião de oposicionistas no Hotel VilaOeste.
      Comandar e impedir representante de partido de oposição de falar.
      Ou não foi isto que aconteceu, quando OPOSICIONISTAS DE ARAQUE ficaram quase meia hora esperando pelo prefeito interino para que ele assumisse a direção dos trabalhos?
      Se eu soubesse naquela noite que este indíviduo que está prefeito se encontra indiciado em dois artigos do Código Penal pela POLÍCIA FEDERAL teria me retirado antes.
      Um dia você entenderão o que é ser OPOSIÇÃO.
      Um dia vocês entenderão que mais importante do que qualquer cargo é lutar por mudanças.
      Um dia vocês entenderão o sacrifício de São João Batista.
      Mas para entender é preciso ler.
      Pois somente através da leitura virá o conhecimento.
      Mossoró em 2020 conhecerá o seu líder.
      Certamente aqui não estarei, mas de onde estiver meu coração se alegrará ao saber que participei para que o sonho de todos se transformasse em realidade.
      Que Deus nos proteja.
      ///
      UM HOMEM TOTALMENTE PRAGMÁTICO PERDE A AGUDEZA.
      Inácio Augusto de Almeida

  10. Jailson Nogueira Galdino diz:

    Não gosto da política de Mossoró
    Não gosto da forma que muitos administram
    Não gostos dos estrelismos da política
    Não gosto dos falsos sorrisos e apertos de mãos de maneira mesquinha
    Não gosto desta política ennojada da corrupção
    Um dia ele vão prestar contas a Deus
    Por Roubar e deixar de maos amarradas o povo que sofre , por falta de demandas sociais

  11. paulo sergio martins diz:

    Como combinar “imprensa livre e democrática” numa terra que se destaca por seu “jornalismo desejoso”? Há editores em Mossoró que beiram o ridículo pelo notório exercício de proselitismo panfletário. E esse “equilíbrio distante”, registre-se, não ocorre apenas na imprensa mossoroense. Coisa bem típica da Terra Brasilis. Esse lamentável cenário obriga todo leitor mais experiente a “construir a biografia” dos que escrevem para consumo próprio. “Quem disse isso? Ah, é fulano, já conheço suas ligações”. Triste ouvir isso, mas é a pura verdade. E não é de agora, todos sabem. Forçoso admitir a impressão de estamos sob a égide de uma máfia midiática.

  12. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Estás corretíssimo meu Caro Paulo Sérgio Martins, a dita imprensa de Mossoró ousa parecer qualquer coisa quando do seu exercício diário, menos exercer minimamente o papel e o dever democrático dever institucional de bem informar.

    Não é a toa que os meios de comunicação de massa de Mossoró, como de resto em grande parte do nosso país, estão nas mãos de meia dúzia de famílias já bem conhecidas de todos nós.

    Com isso, denotasse claramente que o conteúdo informacional do que verdadeiramente a grande massa tem como informação, é desde sempre sempre objeto de manipulação de toda ordem. A manchete do jornal e (ou) do telejornal, atende preambularmente a desejoso e interesses, que de fato, passa ao largo do dever constitucional de bem informar.

    A esse respeito, oportuno transcrever artigo do Blog de ALTAMIRO BORGES, versando sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão do Poder Legislativo que tramita no SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL a respeito dos oligopólios midiáticos que desde tempos antanhos, atravanca, e obstaculiza o dever e o direito a informação em “Terra Brasilis”, vejamos:

    sábado, 26 de junho de 2010
    Ação no STF contra monopólio da mídia

    Reproduzo o segundo artigo do Bia Barbosa, publicado no sítio Carta Maior:

    “Não podemos ficar nessas lamúrias constantes e cruzar os braços. Temos que agir”. Assim Fábio Konder Comparato, professor emérito da Faculdade de Direito da USP e fundador da Escola de Governo, chamou para a luta os presentes ao lançamento do novo livro do jornalista e sociólogo Venício A. de Lima, “Liberdade de Expressão X Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia”, na última segunda-feira (21/06), em São Paulo.

    No debate realizado em parceria pela Publisher Brasil e o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que contou com a presença de Mino Carta, Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim, Comparato criticou duramente a concentração da propriedade dos meios de comunicação de massa e os abusos praticados cotidianamente pelos conglomerados de mídia, e apresentou uma proposta ousada aos presentes: ingressar com uma ação contra o Congresso Nacional pela falta de regulamentação dos artigos que tratam da comunicação na Constituição Federal.

    A proposta de Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão do Poder Legislativo, a ser encaminhada ao Supremo Tribunal Federal, já foi enviada ao Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, que teria prerrogativa para este tipo de ação. O documento, no entanto, segundo Comparato, está parado em alguma gaveta da OAB.

    “Até hoje, 22 anos depois da promulgação da Constituição Federal, os artigos 220 e 221 não foram regulamentados porque o oligopólio exerce controle sobre o Congresso”, disse o professor da USP. “Estamos numa fase em que a concentração da propriedade e do controle dos meios de comunicação de massa sobre a sociedade atingiu seu grau máximo. E qual o objetivo do oligopólio empresarial? A defesa do sistema capitalista. Para eles imprensa é um negócio. É preciso fazer algo neste sentido”, afirmou.

    Os demais debatedores do evento concordaram. A avaliação é a de que é preciso unir forças e superar pequenas diferenças para garantir a consolidação de uma imprensa contra-hegemônica no país. E que parte desta estratégia deve passar, sim, por mudanças e avanços na regulamentação atual. “Aqui se monta a resistência contra os persas que avançam”, brincou Mino Carta.

    “Deveríamos ter um Congresso Nacional capaz de introduzir leis habilitadas a impedir, por exemplo, que um só patrão seja dono de TV, jornal e revista. Até a Argentina tem um jornalismo mais diversificado do que o nosso, que manifesta ideias com maior pluralidade. Aqui não. Estão todos compactos num lado só, unidos numa frente única. E isso deve nos preocupar. As pessoas repetem as frases dos editoriais do Estadão, dos colunistas da Folha, das matérias da VEJA. Essas publicações tem um efeito devastador, sobretudo aqui no estado de SP, o mais reacionário do país”, acrescentou.

    Protagonismo no jogo político

    Na avaliação do jornalista Luis Nassif, os anos 2000 tiveram início com a imprensa como principal protagonista do jogo político pós redemocratização – o que teria gerado, inclusive, um conflito entre Parlamento e mídia sobre quem representa a opinião pública. Ao mesmo tempo, os grandes grupos de comunicação enfrentavam dificuldades econômicas e, depois de décadas como o setor com menos competição na economia, sofriam as ameaças da concorrência das novas mídias, financiadas inclusive pelo capital internacional.

    “A mídia então entra em pânico e pequenas divergências que podiam existir entre as empresas desaparecem. Eles achavam que, com a crise do mensalão, seria possível derrubar Lula e voltar aos tempos glórios pós-impeachment de Collor”, analisa Nassif. “Começou então um jogo de guerra e de manipulação absoluta, que não comportava o pouco de autocrítica dos anos 90. Qualquer método era válido”, afirma.

    Num cenário marcado pelo oligopólio e pela ausência de uma regulamentação eficaz do setor, esta lógica, na opinião dos debatedores, segue vigorando até hoje, apoiada na apropriação e distorção pela imprensa do conceito de liberdade de expressão.

    A diferença está naquilo que Paulo Salvador, da Rede Brasil Atual e do Sindicato dos Bancários, definiu como “fim da ingenuidade. “Várias pessoas que hoje estão no governo achavam que a relação da esquerda com a mídia mudaria quando chegássemos ao poder. Na verdade mudou, mas para pior. Por outro lado, aumentou em vários setores, inclusive no movimento sindical, a consciência de que a comunicação é estratégica. Por isso, estamos lutando para o fortalecimento da mídia contra-hegemônica”, relatou.

    Com o crescimento do acesso à internet e da possibilidade de distribuição de uma maior pluralidade de informações e opiniões, o impacto do poder da grande mídia também diminuiu. Otimista, Luis Nassif acredita, por exemplo, que os grandes jornalões perderam sua relevância eleitoral. “Não há mais condutor de povos. Acabou a mediação dos jornais sobre a notícia e o monopólio da informação. Com a internet, estamos todos na mesma plataforma. O exercício da opinião que hoje dá poder deixa de ser exclusivo do jornalista”, acredita.

    A tarefa, no entanto, não será simples como alguns imaginam. No próprio debate de lançamento do livro de Venício Lima foram citados inúmeros exemplos das barreiras que esta nova comunicação precisa enfrentar – e que também dependerão de vitórias na Justiça, como a ação direta de inconstitucionalidade por omissão de Comparato apresentada à OAB. Entre elas, os processos que começam a ser movidos contra blogueiros que desagradam, com suas opiniões, o poder político, econômico e midiático do país.

    “A elite comunicativa se apropriou da liberdade de expressão e o passo seguinte é nos calar pelo bolso através da Justiça. É uma etapa tipicamente capitalista do ataque desses grupos”, afirmou Paulo Henrique Amorim. O contra-ataque, que inclui a possibilidade de criação de fundos de defesa na Justiça para blogueiros independentes, começará a ser desenhado em âmbito nacional nos dias 20, 21 e 22 de agosto, em Brasília, quando acontece o 1º Encontro Nacional de Blogueiros progressistas e será escrito mais um capítulo desta história.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  13. Raimundo Nonato Sobrinho diz:

    fransuêldo vieira de Araújo; membro da OAB, faz parte de alguma comissão?. Com tantas comissões formadas, ainda não entendo porque a OAB não tem candidato a presidente da república. Ainda não identifiquei com quem o escritor votou em 2012, fiquei curioso. Me perdoe.

  14. Raimundo Nonato Sobrinho diz:

    Aqui em Mossoró é assim político identificado não é difícil atestar: Corrupto. SIM OU NÃO.

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