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domingo - 02/08/2015 - 08:08h

O fogo de Pedra de Abelhas

Por Marcos Pinto

Felipe Guerra: virou topônimo (Foto: reprodução)

A  primeira  denominação  toponímica  do  atual  município  de  Felipe  Guerra-RN   foi  “Pedra de Abelhas”, que    deriva do fato  histórico  de  que existia,  e  ainda  existe, um  enorme  bloco  calcário  com um buraco  em  sua  estrutura, que  ao  longo  de  remoto  tempo  tem servido como  espécie  de  colmeia  natural, proporcionando  a  situação  de  grandes  enxames  de  abelhas  nativas  da  região.

Esta  pedra  está  situada  na encarpa  da serra  do  Apodi, ao  lado  da  estrada  que  dá  acesso  ao  sítio  “Brejo  de  Felipe  Guerra”, antigo  “Brejo do Apodi”.

Até  o  ano  de  1948  esta  estrada  constituía  o  caminho  de  todos  os  viajantes  e  camboeiros  que  demandavam  da  região  do  Oeste e Alto Oeste  no  rumo  de  Mossoró.  Daí que  a  antiga  cidade  denominada  de  “Pedra  de  Abelhas” surgiu  como  núcleo  estradeiro.

Com  exceção  da  família Gurgel do Amaral, oriunda  de  Aracati-CE,  todas  as  famílias  do  município  de  Felipe  Guerra  têm  origem  na  fértil “Várzea  do  Apodi”, cujas  terras  de  aluvião  tem  sido  a  força  motriz  do  progresso  e  do  desenvolvimento   do  Vale  e  do  município  do  Apodi.

Para  adentrar  no  assunto  que  dá  título  à  este  despretensioso  artigo, há que se  ressaltar  que,  desde  o  dia  em que  houve  o  rompimento  político  entre  as  famílias  Pinto e Gurgel, ocorrido  no dia  02 de Dezembro  de  1897, entre  os patriarcas Coronel  Antonio Ferreira Pinto e Coronel Francisco Gurgel de Oliveira (Bisavô materno de Laíre Rosado),nasceu  uma  predisposição  político/ belicosa  entre  o  povo de  “Pedra  de  Abelhas” e os  Apodienses.

NESTE DIA, o  Cel. Ferreira Pinto  fez  veemente  protesto  perante  os seus  pares,  na  tribuna  da Assembléia  Legislativa  potiguar (Investido  no primeiro mandato de Deputado Estadual) contra  a  injustificada  atitude  de  rompimento  político do  Coronel  Gurgel  com  o  Dr.  Pedro  Velho, responsável  pela    instalação   do  regime  republicano  no  RN  em 1889.

Ocorre  que o  patriarca  da  família  Gurgel  em  “Pedra  D’Abelhas” – O  Capitão  Tibúrcio Valeriano Gurgel do Amaral (Natural do Aracati-CE),era  tio  materno  do  Coronel  Francisco  Gurgel  de  Oliveira (Coronel  Gurgel) e, como tal, apoiou  a  tomada  de  decisão  política  do  sobrinho.

Tibúrcio  era  o  pai  de  Tilon Gurgel do Amaral.

A partir  daí, nasceu  o  espírito  de  rivalidades recíprocas  entre  os  Apodienses  e  os  “Pedrenses  de  Abelhas”, cuja  rixa  perdurou  até  o  ano  de  1963 (18.09.1963),  quando  o  então  Distrito  de  “Pedra  de  Abelhas”  foi  elevado  ao  predicamento  de  cidade  e  município, com  o  nome  de  Felipe Guerra, em  homenagem  a  um  cunhado de  Tilon  Gurgel.

Tilon Gurgel: ato extremo (Foto: reprodução)

Felipe  Guerra  era  casado  com  uma  irmã  de Tilon  Gurgel.

Faço a  observação  de  que  o  Dr. Felipe  Guerra  não  trouxe  nenhum  benefício  para  a  comuna  de  “Pedra  de  Abelhas”,  para  tutelar   a  razão  de  ter  o  seu  nome  como  patrono  toponímico  do  novel  município.

Apesar  de  liames  familiares  existentes  entre  os  Coronéis  Ferreira Pinto e Gurgel –  o  primeiro  tinha  a  avó paterna  como  irmã  do  pai  do  segundo, ou seja, dona  Joaquina Mariana de Jesus era  irmã  do  Tenente-Coronel  Antonio  Francisco  de  Oliveira  –  pai  do  Coronel  Francisco  Gurgel  de  Oliveira (Coronel  Gurgel),  a  indisposição  política  foi  se  acirrando  entre  essas  duas  famílias  tradicionais.

No  ano  de  1913  houve  uma  ligeira  trégua, com  os  casamentos  de  dois componentes da  família  Pinto  com  duas moças  da  família Gurgel:   Dr. Vicente  Ferreira  Pinto, Promotor  Público, filho  do  Coronel Ferreira Pinto, com  a  senhorita Filomena Gurgel, irmã  de  Tilon  Gurgel , e  o  agropecuarista  Francisco Diógenes Filho (Sêo  Diógenes – pai  de  Zé  Diógenes) casou  com  Caetana Gurgel Filha (Dona  Caetaninha) também  irmã  de  Tilon  Gurgel.

Sêo  Diógenes  era  sobrinho  materno   do  Dr. Vicente  Pinto.

Em  1919  reacendeu  a  intriga  familiar  e  política  entre  estas famílias, originada  no  fato  de  que  dois  componentes  da  família  Pinto  abriram  dissidência  política  –  Os  Srs. Sebastião Paulo Ferreira Pinto  e  seu  primo  João de Deus Ferreira Pinto, que  se  aliaram  à  cerrada  oposição  à  família  Pinto, liderada  por  Tilon  Gurgel.

A  partir  deste  ano  de  1919  o  município  de  Apodi  e  seu  povo  passaram  a  ser  teatro  de  correrias  e  tropelias  protagonizadas  por  jagunços  componentes  da  milícia  particular  comandada  por  Décio Holanda, cearense  do  Pereiro, onde  em  1927  “acoitou” o bandido  Lampião  e  seu  bando, na  sua  fazenda  de  nome  “Bálsamo”.

Coronel Francisco Ferreira Pinto: morte (Foto: reprodução)

Neste mesmo  ano  de  1913,  o  Coronel  Francisco Ferreira Pinto  casou  com  sua  prima Maria Salomé Diógenes Pinto (Irmã  de  Sêo  Diógenes), que  fora  adotada  em  criança  pelo  Coronel  João Jázimo de OliveiraPinto  e  esposa  Isabel Sabina de Oliveira Filha (Bebela  de  João  Jázimo).

Aqui, cabe  fazer  uma  explicação  de  cunho  genealógico:  João  Jázimo  casou  com  uma parente  e  enteada  do  seu  genitor.  Bebela  era  irmã  de  Francisco  Diógenes  Paes  Botão, que  casou  com  Antonia (Toinha – Filha do Coronel  Ferreira  Pinto  e  de  Claudina  Pinto)  e foram  pais  de  Salomé  Pinto  e  Sêo  Diógenes.

Salomé  era, ao  mesmo  tempo, sobrinha  materna  de seus pais  adotivos João  Jázimo  e sobrinha  materna  da  mulher  de  João  Jázimo  – no  caso  Bebela.

Sêo  Diógenes  passou  por  uma  situação de  extremo  vexame  em  02  de  Maio  de  1934,  quando  o  Coronel  Francisco  Pinto  foi  assassinado  em Apodi, tendo  como  mandante o  seu  cunhado  Tilon  Gurgel, mancomunado  com  o  não  menos  truculento  Luiz  Leite.

Sêo  Diógenes  era, ao  mesmo  tempo, cunhado  do  Coronel  Francisco  Pinto (Casado com sua  irmã  Salomé) e  de  Tilon  Gurgel (irmão de  sua  esposa  Caetaninha).

Marcos Pinto é advogado e escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. naide maria rosado de souza diz:

    Sobre o nome de Pedra de Abelhas…lindo. Lastimo não ter continuado e por um motivo tão fraco.
    Não ganha de “Caiçara do Rio dos Ventos”, ainda mais bonito.
    O mundo é pequeno. Fui colega de Faculdade de um Gurgel Valente, sim, um Gurgel da estirpe de seu Artigo, Marcos Pinto.

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