• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
quinta-feira - 26/07/2012 - 09:55h
A real discussão

O fosso entre o teto e o mínimo no Brasil desigual

O ponto principal em torno da celeuma sobre altíssimos salários de muitos servidores públicos – no Brasil – tem sido ignorado: é a distância estelar desses ganhos para a renda mínima do trabalhador.

Não é o teto que importa ou deveria despertar nossa maior atenção, mas sua relação com o piso.

Em nenhuma parte do mundo moderno, de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) satisfatório, existe esse hiato abissal entre o mínimo e o máximo. É algo do Brasil das desigualdades.

O IDH do Brasil apareceu em 70º lugar em 2011 (0,807). O país melhor colocado, a Islândia, obteve 0,968. É quase um paraíso terrestre em termos de qualidade de vida. Pior é o Brasil ficar atrás de países como Panamá, Albânia e Costa Rica.

A mim não é agressivo um magistrado ganhar num único mês mais de R$ 156 mil. Injusto mesmo é que na mesma repartição alguém limpe o chão em que ele passeia, com seus sapatos italianos, para receber pouco mais de R$ 600/mês (brutos). É humilhante.

No campo político, por exemplo, o Brasil alcança o topo dos maiores salários para seus parlamentares. Acima do que ganham congêneres em países ricos como Estados Unidos, Japão, Inglaterra, Canadá e Alemanha. Enquanto um congressista nativo pode abocanhar de forma registrada e direta algo em torno de R$ 400 mil/ano, na Inglaterra não passa de R$ 180 mil.

Quando levamos os números para um parâmetro medido pelo “Coeficiente de Gini” (calcula desigualdade de renda), o Brasil tem o mais degradante índice do planeta. Os cidadãos que faturam mais estão a milhões de anos-luz de quem recebe menos. O índice chega a 56,7. Enquanto isso, na riquíssima Alemanha, é de apenas 27.

O que insulta, portanto, não é o máximo, mas é uma multidão famélica bancar a vida boa de uma minoria “iluminada”, tudo “dentro da lei”. Para justificar esse fosso não existe nenhum argumento plausível, por maior que seja o contorcionismo retórico do beneficiado. Tudo é sofisma.

Este país ainda vai cumprir seu ideal.

Nota do Blog:

* O IDH é calculado levando em conta a expectativa de vida, a educação e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita (por pessoa). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país.

* O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, e publicada no documento “Variabilidade e mutabilidade”, em 1912. É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda, mas pode ser usada para qualquer distribuição. Quanto maior o valor, mais desigual é o país.

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Categoria(s): Administração Pública / Opinião da Coluna do Herzog

Comentários

  1. Carlos Andre diz:

    Bom dia Carlos Santos.

    Mais um argumento que justifica o fato de eu ter náuseas do PT, recebi ontem do portal JUSBRASIL, o link é este: //anajus.jusbrasil.com.br/noticias/3200385/o-pt-mostra-sua-face-decreto-permite-substituir-servidores-federais-grevistas.
    Eis o titulo da noticia: “O PT mostra sua face Decreto permite substituir servidores federais grevistas”, resumindo “GREVE SÓ É LEGAL SE FOR CONTRA GOVERNOS DA OPOSIÇÃO”, se for contra o PT, “PAU NA GALERA” e é para ficarem calados.
    QUANTA HIPOCRISIA DO PARTIDO MAIS HONESTO DO BRASIL!

  2. Rafhael Levino Dantas diz:

    Carlos, acho engraçado quando o Poder Judiciário saca o argumento de que as remunerações exorbitam, pontualmente, em razão do pagamento de vantagens eventuais, como é o caso da famigeradíssima PAE. Hein? E vamos parar por aí? E não vamos discutir essa aberração que é o pagamento retroativo de auxílio-moradia a quem menos precisa de auxílio-moradia nesse país? Parlamentares, na década de 90, começam a receber o dito auxílio-moradia e o que faz o Poder Judiciário? Se insurge, de alguma forma, contra a imoralidade? Não, pede EQUIPARAÇÃO! De fato, este país ainda vai cumprir seu ideal. Parabéns pela lucidez de sempre!

  3. ana lucia diz:

    e pensar que no meio do caminho tem um professor, tem um professor no meio do caminho, coitado do professor, sempre no meio do caminho!

  4. Honório de Medeiros diz:

    Perfeito, Velho Patriarca!

  5. CALIBRE 50 diz:

    Vou repetir o que foi dito por um grande analista político,digo por ter grandes afinidades com os partidos de esquerda,se é que essas definições DIREITA/ESQUERDA ainda estão em voga,se comportando como estão se comportando podem no futuro servir de adubo para a direita e que os partidos que têm o Socialismo como doutrina,tomem cuidado com as alianças,vocês podem sumir de vez se não tomarem cuidado com o discurso,estão no poder por tanto não brinquem com a sorte,a direitona é monolítica,ela é um bloco uníssono,enquanto vocês são fragmentados em correntes e siglas e ao meus olhos isso não é bom,então o que quero afirmar é:Governo que tem o socialismo como bandeira não pode fazer beicinho para o setor mais organizado que são os Professores,mesmo sendo um governo do PT não pode intransigir com um setor tão importante que é o da EDUCAÇÃO,por favor não dêem munição aos DEMOTUCANOS,2014 se aproxima e ainda quero ver DILMA Presidente de novo.É SÓ!

  6. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO diz:

    Infelizmente o senso comum que reflete os dito populares, ratifica condescendentemente esse tipo de imoralidade espelhada na desigualdade que grassa em terras tupiniquins, seja ela salarial ou não.

    É bastante comum as pessoas se “INDIGNAREM” quando um preto, um pobre e (ou) uma prostituta comete qualquer delito, seja esse delito qual for, normalmente se exige em alto e bom som, penas exemplares e comumente silencia-se diante das torturas de que cotidianamente são vítimas os famoso três PÊS..PPP ora nominados.

    Já quando o “grande” empresário, fraudador, político, inicia sua carreira de delinqüência e, quando em pouco tempo galga um certo status social, tornando-se rico e influente. No mais das vezes essa mesma população brada aos quatro ventos que o mui digno empresário, político e (ou) fraudador é esperto, inteligente e articulado.

    Mais ainda, quando eventualmente figuras tais e quais são investigadas e presas nem que seja por algumas horas, meio mundo, sobretudo a imprensa saem em defesa incondicional dessas figuras manifestamente nocivas e deletérias ao conjunto da sociedade.

    Ou seja, temos no cerne da nossa cultura, cultura essa do jeitinho, do autoritarismo, da canalhice e da calhordice manifestada na cotidiana e infatigável lei de Gérson. A manifesta impunidade, impunidade essa concreta, espelhada e revelada nos tribunais quando de suas sentenças, em seus habeas corpus exarados nas madrugadas insones, por aqueles, que, na prática, pensam, ensejam e trabalham prá que de fato, tudo continue como dantes no quartel de Abrantes.

    Dito isso, e, prá possamos refeltir um pouco que seja, aí vai um pouco de Bertolt Brecht, dramaturgo alemão, que trilhou caminho profissional e pessoal, pautado em filosofia de vida bem distinta desse pensar torto, deletério e manifestamente o maior obstáculo prá que sejamos um povo e uma nação respeitada.

    O que tem fome e te rouba
    O último pedaço de pão, chama-o teu inimigo
    Mas não saltas ao pescoço
    Do teu ladrão que nunca teve fome.
    Bertolt Brecht

    Para quem tem uma boa posição social, / falar de comida é coisa baixa. / É compreensível: eles já comeram.
    Bertolt Brecht

    “Quando o delito se multiplica, ninguém quer vê-lo.” [ Bertold Brecht ]

    “O que é assaltar um banco, comparado com fundar um banco ?”
    [ Bertold Brecht ]

    Um Abraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

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