Por Josivan Barbosa
Nessa última semana, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) divulgou os números do que ela tem denominado de “lucro social”.O impacto da adoção das inovações da Embrapa gerou um “lucro social” de R$ R$ 61,85 bilhões em 2020. O número leva em conta o uso de 152 soluções tecnológicas e 220 cultivares desenvolvidas pelos pesquisadores. Como a receita líquida da estatal foi de quase R$ 3,5 bilhões no ano passado, o balanço apresentado durante a semana mostrou que para cada R$ 1 aplicado a empresa consegue devolver R$ 17,77 em benefícios para a sociedade.
A Embrapa tem trabalhado para ampliar a integração com o setor privado, que financia hoje 20% dos projetos de pesquisa e responde por 35% dos investimentos feitos na estatal – a meta é chegar a 40% do portfólio em 2023.
Somente a fixação biológica de nitrogênio, tecnologia lançada em 1993, gerou economia de R$ 28 bilhões no ano passado ao Brasil ao evitar a importação de adubos nitrogenados.
A Embrapa tem um quadro de pesquisadores acima de 2.500 doutores e é referência mundial em pesquisa agropecuária.
Bioinsumo
A Embrapa aproveitou o momento de comemoração da divulgação do seu lucro social de 2020 para anunciar uma inovação tecnológica para o semiárido: o bioinsumo, que é produzido a partir de bactérias encontradas no mandacaru, espécie de cacto comum no Nordeste brasileiro, e promove “uma parceria com a raiz” para resistir ao estresse hídrico.
Esse é o primeiro produto biológico registrado no Brasil para essa finalidade. Durante uma década, os pesquisadores observaram a planta do mandacaru e a relação com as bactérias existentes no solo, que foram selecionadas para a criação do insumo.
A tecnologia vai chegar ao mercado por meio de uma parceria público-privada com uma empresa do setor e será indicada, inicialmente, para a cultura do milho, para uso com as variedades resistentes à seca desenvolvidas pela estatal. A expectativa é que o bioinsumo possa ser aplicado também na segunda safra do cereal no Centro-Oeste, mais suscetível a desajustes no clima, e também em outras culturas.
A ideia é que o bioproduto funcione na planta do milho da mesma maneira que funciona no mandacaru. Ela estabelece essa relação quase que simbiótica e faz com que a planta consiga conviver com essa baixa disponibilidade de água.
Embrapa em Mossoró
Os números e a qualidade dos produtos tecnológicos acima justificam porque temos defendido muito neste espaço que a Universidade do Semiárido, a Prefeitura de Mossoró, o Governo do RN e os nossos representantes em Brasília avancem na gestão política para a instalação no nosso RN Sem Sorte de uma unidade da Embrapa. Iniciamos essa luta em 2005, ainda no Governo de Wilma de Faria, uma entusiasta do projeto e grande aliada do setor produtivo da agricultura irrigada e da agricultura familiar.
O Rio Grande do Norte e o Espírito Santo são as duas unidades da federação que ainda não possuem um centro nacional da Embrapa. O nosso vizinho Ceará há várias décadas já possui duas unidades dessa natureza. Uma em Sobral que trabalha com tecnologias para a ovinocaprinocultura e uma na capital que trabalha com agroindústria tropical.
A questão climática mais próxima
Uma situação que aparentemente poderia apenas interferir na nossa exportação de commodities, o grosso do negócio rural do país, poderá também ser uma preocupação para a agricultura irrigada do Semiárido, principal negócio rural responsável pela exportação de frutas. Estamos falando da questão climática e de seus impactos sobre a exportação de produtos do negócio rural.
O ritmo de devastação da Amazônia levará as principais nações do mundo, atentas à questão climática, a promoverem sanções contra as exportações brasileiras no médio ou longo prazo.
Lembremos que o Brasil tem como principais parceiros na exportação de frutos tropicais a União Europeia e os Estados Unidos, ambos, muito emblemáticos na questão climática.
Um dos grandes vilões ambientais da exportação de frutos ultramar é o consumo de combustíveis fósseis pela frota de navios, o que pode mudar com novas tecnologias de energia renovável e com o uso de contêineres marítimos mais eficientes no consumo de energia. Como o transporte marítimo é um negócio na mão de poucas empresas, a adoção de novas tecnologias ambientalmente sustentáveis não seria complexa.
Temas prioritários
Após mais de um ano de pandemia, as nossas instituições públicas deslizam sobre os temas que seriam prioridade e não conseguem apresentar resultados. O que as nossas universidades públicas, o Estado do RN e a PMM têm a mostrar em temas como: saúde, educação; diversidade e inclusão; meio ambiente e mobilidade; inovação e empreendedorismo?
Nestes tempos de lives (aproveitando para adicionar ao vocabulário), estas instituições precisam se apresentar para a sociedade e mostrar resultados mensuráveis, sem contornos. Infelizmente, alguns gestores aproveitam o cargo para mera exibição e esquecem do principal, mas, mesmo assim, fazem o jogo do marketing e assim seja.
Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF)
O governo federal publicou durante a semana um decreto que altera as definições para acesso dos agricultores familiares às políticas públicas. O novo decreto cria o conceito de Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF) que vai substituir a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), documento atual que comprova o enquadramento dos produtores nessa categoria.
O decreto muda os conceitos de empreendimento familiar rural, cooperativa singular da agricultura familiar, cooperativa central da agricultura familiar e associação da agricultura familiar. Ele também altera os percentuais mínimos exigidos para a configuração das figuras associativas. Ao invés de estabelecer que 60% dos cooperados ou associados sejam comprovadamente agricultores familiares, a nova redação exige comprovação para 50% no caso das cooperativas e mais da metade (50% mais um) para as associações.
Além disso, para que se configure uma Unidade Familiar de Produção Agrária (UFPA), a exigência passa de “no mínimo, metade da força de trabalho familiar” para “predominantemente, mão de obra familiar”.
Cimento
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RN (SEDEC)poderia se antecipar e buscar parceria com a CSN Cimentos, pois a empresa pretende ampliar o seu parque fabril no Norte e Nordeste.
Depois da bem-sucedida abertura de capital do negócio de mineração de ferro, em janeiro, a CSN vai concentrar esforços na oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da CSN Cimentos, outro negócio para o qual a companhia enxerga amplas oportunidades de crescimento. Tanto por novas fábricas quanto por fusões e aquisições de ativos (M&A, no jargão do mercado financeiro).
Um dos planos para o futuro é diversificar geograficamente a atuação da Cimentos, hoje concentrada no Sudeste, em Arcos (MG) e Volta Redonda (RJ). A empresa tem cinco projetos em desenvolvimento, sendo um deles “brownfield”, que prevê aumento de 30% do volume de produção de Arcos. Outros quatro são “greenfields” (novos) e envolvem sites no Paraná, Sergipe, Ceará e Pará.
Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa)
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