• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 05/07/2015 - 09:18h

Pandemia da intolerância

Por François Silveste

A barbárie que modelou o processo de expansão do domínio europeu sobre povos internos e distantes, conquistas e colonizações, marcou a ferro o lombo da História.

No Oriente, não foi diferente. Mesmo assim pode-se dizer que a intolerância daí decorrente demarcava-se em espaços limitados e em tempos distintos.

E tudo se configurando num quatro de conquistadores oprimindo conquistados. Portanto, intolerância endêmica. Aquela que se limita por fronteiras claras.

“Evoluímos” para a epidemia, rompendo fronteiras e expandindo a intolerância. Evolução de domínio, involução de caráter.

Hoje, a epidemia já produz saudade. A intolerância virou pandemia. Não respeita mais qualquer limitação, nem fronteiras.

As guerras, com toda a força de estupidez que comportam, servem-se de todos os pretextos. Até as denominações religiosas, que sempre foram disfarces de interesses econômicos, agora elevaram o nível da intolerância à beira do céu. Onde vendem lotes às almas ingênuas, prometendo entrega após depositarem na terra os seus corpos mortos.

É um mercado macabro, cuja enganação agrega ao pacote a intolerância sem limite.

Ortega y Gasset dizia que o “homem não possui natureza, possui história”. Isto é, a natureza no homem é tão somente orgânica, não social; diferentemente dos irracionais, que possuem sociabilidade por natureza e não pela história.

A pandemia da intolerância, que vai da praça ao quintal, do continente ao município, do mar ao poço, do front da guerra ao campo de futebol, da igreja ao oratório, do parlamento ao bar, do tribunal ao cartório, do jornal ao fuxico, do bate-papo à internet, da arte à depressão.

E não é mais preciso uma diferença ideológica, política ou religiosa. Não. Basta discordar de qualquer bobagem para furar o fato e derramar as tripas.

Os veículos de comunicação viraram palanques. Cada um com a copidescagem pré-montada. Não importa informar ou questionar. “Meu lado é o bom e o resto não presta”. Nenhum espaço à tolerância.

A internet é uma praça de guerra. E no meio da luta fratricida, não há lugar para ponderações.

As revistas semanais e os grandes jornais do Sudeste promovem a regressão mental do jornalismo, para prover a “notícia” de facção. Informar com isenção deixou de ser um princípio. E é esse princípio que legitima a liberdade de imprensa.

Uma coisa é discordar. Outra é transformar a discordância em inimizade. E essa inimizade nasce fundamentada apenas na intolerância, sem que os contendores precisem de qualquer covivência pessoal ou relações sócias.

Conviver apenas com quem tem opinião convergente é facílimo. E muitas vezes chatíssimo. É o cansaço da concordância, não raramente fruto da preguiça de pensar.

O difícil e belo é conviver com a divergência. No respeito ao contrário. Na beleza do contraditório.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Carlos Andre diz:

    François Silvestre quem patrocinou pelo menos nos últimos doze anos essa divisão na sociedade foi o governo petista, o lance é o seguinte: NÓIS CONTRA ELES, a famosa frase do LULA, quem não comunga das ideologias do PT é para ser combatido e expurgado, então não pode hj querer culpar esses ou aqueles segmentos sociais quanto a intolerância, a militância aguerrida que existe no país é os “de esquerda”, foram eles que primeiro pegaram em lanças contra tudo e todos que pensassem contra eles, os mesmos só não esperavam que fossem encontrar do outro lado um povo obstinado e firme em seus princípios, “os de esquerda” acharam que eram os únicos que tinham convicção em seus dogmas, quebraram a cara pois hj o Brasil vive uma guerra.
    E só uma coisa posso afirmar por mim, “aos de esquerda”, PODEM VIR QUENTE QUE EU ESTOU FERVENDO!!!!!!!!!

  2. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Caro François Silvestre, oportunizando seu conciso, lúcido e belo texto. Sobre o assunto em pauta assisti há poucos dias via internet, uma aula do professor, historiador e filósofo Leandro Karnal sobre a cordialidade brasileira, onde num mixto de análise histórica e filosófica, o professor nos dá a verdadeira dimensão, e, mais ainda a realista e pouco lisonjeira face dessa cordialidade e desse mito tão propagado.

    Para o professor Leandro Karnal, temos uma característica ímpar de odiarmos com o coração e não com a razão, quando no dia-a-dia utilizamos dessa pretensa cordialidade.

    O fato concreto e´que, além das conhecidas causas estruturais que em parte explicam o nosso atraso e a nossa condição de profunda ignorância sobre nós mesmos. Somo um povo, uma sociedade e uma nação que se esconde atrás de mitos e paradigmas que manifestamente servem de vetores para propagação de valores e desacertos que só aos outros têm insertos os erros, equívocos e a a responsabilidade sobre os mesmos.

    Quando sabemos com um mínimo de racionalidade empregado à análise, que as soluções dos nossos problemas e, sobretudo da corrupção tão cinicamente alardeada, passa necessariamente por uma transformação de nós como cidadãos, como povo e como sociedade, e consequentemente uma profunda atitude de autocrítica sobre nossos atávicos e arraigados valores autoritários.

    à meu ver, assim como o alarido que atualmente se faz e alardeia sobre a nossa corrupção, todos esses problemas e sintomas que evidenciam endemias e patologias sociais que efetivamente nos dão a dimensão do quão profundamente estamos doentes social e culturalmente. De concreto, temos que, sempre e sempre existiram, ocorre que, com advento da comunicação em tempo real e sua universalização, temos um fato novo e absolutamente ainda não analisado e explicado pelos especialistas, mesmo porque ainda em plena evolução..ou seria involução…!!!??? Qual seja, atualmente qualquer ignorante de plantão, tem as mesmas possibilidades que antes, só era disponibilizada à alguns poucos mortais no que tange a verbalizar e disseminar e fazer pública, suas opiniões, análises e vises de mundo, fossem ela quais fossem.

    Diante desse quadro,e, infelizmente da profunda ignorância política que ainda grassa em terras tupiniquins, há muita gente que por exemplo, acredita piamente que corrupção aparentemente desenfreada, é apenas e tão somente, obra de um partido e de um grupo de Petistas que efetivamente descobriram a razão de ser e do lucro dessa patologia social em sua condição humana.

    Ou seja, na verdade essas pessoas em sua preclara condição de ignorantes e alienados políticos, efetivamente são felizes, pois acreditam, também, em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa. Acreditam igualmente que a obra de obra de shakespeare hamlet, sequer chega aos pés da obra de Paulo Coelho, e que retirando os endemoniados, comunistas e bolivarianos Petistas do poder, todos os males da corrupção e das mazelas inerentes a esse processo, serão de imediato resolvidos e, por via consequencial, passaremos a viver em um paraíso onde todos serão honestos trabalhadores, benquistos e felizes.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.

    OAB/RN. 7318.

  3. Francisco Alves Filho diz:

    Parabéns ao escritor. Foi conciso em mostrar a tolerância democrática que deveremos trilhar. Não é atirando pedra no PT ou PSDB ou qualquer outro partido que resolveremos os entraves do Brasil.
    Não podemos esquecer que o Brasil gasta com seu serviço da Dívida Pública cerca de 1,1 trilhão de reais todo ano – 46% do Orçamento Federal (LOA-2014).

    Este dinheiro arrecadado dos impostos é pago direto sem retorno ao povo – (capital amortizado+juros). Mas mesmo assim, não podemos olvidar que o restante desta cifra, cerca de 20%, talvez, seja desviada com a corrupção nas três esferas de todos os governos que existiram e estão em vigor.
    Precisamos canalizar o sentido de melhorar este processo democrático pelos canais existentes no ordenamento jurídico brasileiro. Utilizar a Mídia ou qualquer outro médio falacioso tende a caminharmos para um retrocesso político-social.

  4. Francisco Alves Filho diz:

    Parabéns ao escritor. Foi conciso em mostrar a tolerância democrática que deveremos trilhar. Não é atirando pedra no PT ou PSDB ou qualquer outro partido que resolveremos os entraves do Brasil.
    Não podemos esquecer que o Brasil gasta com seu serviço da Dívida Pública cerca de 1,1 trilhão de reais todo ano – 46% do Orçamento Federal (LOA-2014).

    Este dinheiro arrecadado dos impostos é pago direto sem retorno ao povo – (capital amortizado+juros). Mas mesmo assim, não podemos olvidar que o restante desta cifra, cerca de 20%, talvez, seja desviada com a corrupção nas três esferas de todos os governos que existiram e estão em vigor.
    Precisamos canalizar o sentido de melhorar este processo democrático pelos canais existentes no ordenamento jurídico brasileiro. Utilizar a Mídia ou qualquer outro meio falacioso tende a caminharmos para um retrocesso político-social.

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