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domingo - 14/01/2024 - 10:24h

Passado Longino

Por Bruno Ernesto

Catedral de Santa Luzia em Mossoró (Foto: autoria não identificada/Blog de telescope)

Catedral de Santa Luzia em Mossoró (Foto: autoria não identificada/Blog Telescope)

Você já reparou que é crescente a prática de se rememorar algum acontecimento do dia?

Essa prática é especialmente adotada por uma enciclopédia digital muito conhecida, a Wikipedia, desde que iniciou as suas atividades.

Para mim, o dia 14 de julho é um dia bastante especial, pois é a data de nascimento do meu pai. Dia 14 de julho, também é a data que se comemora a queda da Bastilha, ocorrida em 1789, evento central que marcou a Revolução Francesa, ocorrida durante o reinado de Luis XVI e da famosa rainha Maria Antonieta, aquela a quem se atribui a famosa e controversa frase de que “Se não há pão, que o povo coma brioche.” A respeito de Maria Antonieta, reputo como melhor biografia a de autoria de Antonia Fraser.

Na primeira metade do Século XIX, havia em Mossoró um padre de nome Francisco Longino; nascido em Mossoró no dia 15 de março de 1802, batizado na então Capela de Santa Luzia, atual Catedral de Santa Luzia, em 04 de abril de 1802, e, depois de ordenado em novembro de 1826, exerceu o sacerdócio em Mossoró, e que, apesar de ser padre, colecionou muitas inimizades em Mossoró, em especial com a família dos Ferreira Butrago.

A situação se agravou tanto com o passar dos anos, que o padre Longino teve que arregimentar um grupo armado para não ser morto pelos seus inimigos. Chegando, inclusive, a renunciar ao mandato de vereador da cidade de Apodi, cargo a que foi eleito na época, após tantas emboscadas no trajeto de Mossoró a Apodi.

Tanto o padre Francisco Longino, quanto os Ferreira Butrago, se enfrentavam feroz e constantemente, no intuito de exterminar um a outro. Em bom vernáculo: um queria matar o outro por rixa pessoal, algo muito comum naquela época. E dessa rixa, de fato, muitos morreram na cidade de Mossoró. Tudo correu nas imediações da Catedral de Santa Luzia e do Mercado Público Municipal, no Centro da cidade.

Há um fato que ocorreu na noite do dia 14 de julho de 1841 na cidade de Mossoró, que reputo igualmente marcante. Embora pouco conhecido dos mossoroenses.

Num desses embates ocorridos entre o padre Francisco Longino e os Ferreira Butrago, o ocorrido no dia 14 de julho de 1841, foi um dos mais violentos. O fato se deu em frente à então Capela de Santa Luzia, onde se localizava a casa do padre Francisco Longino.

No intento de assassinar o padre, João Ferreira Butrago e seu grupo, por volta de catorze homens armados, na total escuridão daquela noite, deitaram-se no patamar da Capela de Santa Luzia e, de tocaia, atacaram logo que a porta de uma casa se abriu e, ao avistarem aquela pessoa, abriram fogo.

O infeliz que foi o primeiro a ser assassinado naquela noite, sangrenta, foi o sacristão da Capela de Santa Luzia, Felipe de Mendonça, que guardava o costume de orar toda noite na capela e acabou sendo confundido com o padre Francisco Longino. Estava no lugar errado e na hora errada.

Após esse primeiro assassinato, o grupo dos Ferreira Butrago avançaram em direção à casa do padre Longino, sitiando-a  e, durante a noite toda, travaram um feroz combate, trocando tiros uns contra os outros, havendo baixa de ambos os lados. Porém, o padre Francisco Longino sobreviveu ao feroz ataque.

Há registros de que a casa do padre Longino, que foi alvo daquele embate, e que anos depois passou a ser a morada do famoso Jeremias da Rocha Nogueira, fundador do primeiro jornal impresso de Mossoró, em 17 de outubro de 1872, preservava 63 marcas de tiros que foram disparados naquela noite de combate.

Decerto que muitos outros combates ocorreram após esse do dia 14 de julho de 1841, além de que o padre Francisco Longino não recuou em seus malfeitos, como a história tem registrado.

Assim, quando você estiver nos arredores da Catedral de Santa Luzia ou do Mercado Central, olhe em sua volta. Ali tem muito mais história do que você pode imaginar.

Ao que parece, nem só de fé e devoção o homem viveu na terra de Santa Luzia.

Bruno Ernesto é professor, advogado e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Odemirton Filho diz:

    Excelente resgate histórico, meu caro Bruno. Desconhecia os fatos narrados.
    Valeu!

    • Bruno Ernesto diz:

      Que bom que gostou, Odemirton! Há muita história interessante que aconteceu nos arredores da Catedral de Santa Luzia! Um forte abraço!

  2. Marcos Ferreira diz:

    Meu caro Bruno Ernesto,
    Boa tarde.
    Que maravilha de resgate! Você foi nas profundezas do passaado desenterrar esses eventos de extrema importância histórica. Além disso, sua narrativa é envolvente, inescapável. Como ignorante que sou sobre muita coisa da história mais remota de Mossoró, fiquei impressionadíssimo. Nunca ouvi nada a respeito de fatos tão importantes. Valeu muito a pena ler a sua colaboração de hoje no Blog do Carlos Santos. Uma ótima semana para você.
    Abraço.

    • Bruno Ernesto diz:

      Olá, Marcos! Que bom que gostou. De fato, há muita história interessante que ocorreu ali pelo centro de Mossoró. Vou produzir um série de textos para compartilhar. Sinta-se convidado a contribuir! Um forte abraço!

  3. Raphael Alves diz:

    Boa tarde!

    Bom texto. O que funciona hoje no local que a casa do padre Longino?

    • Bruno Ernesto diz:

      Olá, Marcos! Que bom que gostou. De fato, há muita história interessante que ocorreu ali pelo centro de Mossoró. Vou produzir um série de textos para compartilhar. Sinta-se convidado a contribuir! Um forte abraço!

    • Bruno Ernesto diz:

      Olá, Raphael. Agradeço por ter ligo e gostado do texto. Hoje
      É a praça Vigário Antônio Joaquim. Um forte abraço!

  4. Rômulo Negreiros diz:

    Trabalho sensacional Bruno, obrigado por trazer tão detalhadamente fatos do passado nessa região, agora conseguirei imaginar claramente esse acontecimento na Catedral de Santa Luzia, aguardo ansioso pelas próximas histórias.
    É um prazer te conhecer pessoalmente. Um forte abraço!

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