• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
quinta-feira - 27/12/2012 - 23:56h

Pensando bem…

“Porque não basta ter espírito bom, o principal é aplicá-lo bem.”

Descartes, Discurso do Método.

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Categoria(s): Pensando bem...

Comentários

  1. Gilmar diz:

    Se não aplicá-lo não é BOM! O amor é conativo! O resto é filodoxia para aqueles que são atraídos pelas aparências sensíveis – como essas “belas” crônicas que acidentalmente vejo webafora. Pura verborreia!

  2. Inácio Augusto de Almeida diz:

    NINGUÉM CHOROU POR TI
    Faz tanto tempo. Eu não era nem nascido. Crupe é o nome da doença que te levou. Hoje uma coisa boba. Mas naqueles dias antibiótico era difícil. Difícil e caro, principalmente para o nosso pai que trabalhava numa mina de carvão no interior de Santa Catarina. Vê, Geraldo, nem mesmo o nome da cidade eu me lembro mais. Para ti, irmão, faltou um comprimido de penicilina. E o homem da mercearia que sempre te via brincando nos fins de tarde só soube da tua morte dias depois do teu enterro. A preta velha que te rezou, fez de coração, mas, coitada, rezava sozinha, sem nenhuma corrente formada para ajudá-la.
    Eu, apesar de não te ter conhecido, sempre me lembro de ti. Papai sempre me falava dos teus cabelos pretos, encaracolados, seus olhos castanhos, vivos, de uma vivacidade que denotava uma inteligência muito acima do normal. Sempre me disseram que te fostes porque Deus quis.
    Sei não, irmãozinho, sei não.
    Ou será que se tu tivesses naquela noite uma equipe médica à tua cabeceira, com todos os medicamentos possíveis e imagináveis; e muitas, muitas pessoas a pedir por ti, será que o Criador não teria um pouco mais de paciência e deixaria para te levar só muitos anos depois?
    Fostes um nordestino que morreu como morrem milhões e milhões de irmãos nossos. Sem um comprimido sequer. E o que é pior, irmãozinho, sem que ninguém derramasse uma lágrima sequer. Porque sobre ti e sobre os teus coleguinhas de desgraça não se cria nenhum clima emocional. Não se dramatiza sobre os Zés da vida. E são tantos, Geraldo. Tantos que me causa espanto quando vejo gente tão insensível à fome e à miséria destes pequeninos chorando nas ruas por um doente que eles não conhecem e nunca viram.
    E era dos pequeninos, Geraldo, que o Senhor mais gostava. Ou não foi Ele que disse: “ai de quem tocar em um dos meus pequeninos…”
    Sabes Geraldo, ainda hoje morrem pequeninos de Crupe. Não, irmãozinho, não. Existem antibióticos, sim. Bastam alguns comprimidos e pronto. A doença que te matou é hoje fácil de curar. Como uma simples gripe. Mas os garotinhos do nordeste continuam morrendo de Crupe. Por quê? Ora, nenhum destes que choram e oram por um doente que não conhecem, que nunca viram, é capaz de mandar para um pequenino uma pílula.
    E elas custam tão pouco! Menos do que uma cerveja. Que sensibilidade é a desta gente? Não, não me pergunte irmãozinho, eu também não consigo entender. Se alguém consegue? Às vezes eu também tenho vontade de rir.
    De rir e de chorar.
    Tu te foste, irmão querido. Não tinhas sequer cinco aninhos. Eu não te vi, mas em mim ficaram as imagens de ti através do meu pai, Mário Cavalcanti de Almeida, que como nordestino, não podia chorar por ti.
    Nem ele nem ninguém chorou por ti.
    E hoje, ninguém chora, reza ou faz promessas pelas milhares e milhares de crianças que, como tu, morreram e morrem sem a menor assistência.
    Ninguém chora por elas, ninguém, como ninguém chorou por ti.
    Inácio A. Almeida

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