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segunda-feira - 08/08/2016 - 08:02h
Reportagem especial

“Sindicato do Crime” desafia Governo do RN e o PCC

Do jornal O Estado de São Paulo

A facção que levou insegurança ao Rio Grande do Norte e fez com que homens do Exército e da Marinha ocupassem a capital, Natal, nasceu há três anos. O Sindicato RN faz parte de um novo fenômeno que autoridades do Norte e Nordeste vêm enfrentando: criminosos que se uniram como uma resistência ao crescimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) de São Paulo em seus Estados.

Em pouco mais de uma semana, o grupo fez 108 ataques, em 38 cidades, contra a instalação de bloqueadores de celular em penitenciárias do Estado. Ônibus deixaram de circular e o turismo foi afetado, em uma região conhecida por suas praias, dunas e outras belezas naturais.

Detentos fizeram motim em penitenciária de Parnamirim contra bloqueadores (Foto: reprodução)

As autoridades estimam em pelo menos mil os integrantes da facção. Ela surgiu na Penitenciária Alcaçuz, a maior do Estado, localizada em Nísia Floresta, e no Presídio Estadual de Parnamirim, na Grande Natal. “Começamos a ter notícia do Sindicato ao mesmo tempo nos dois presídios”, diz o juiz de execuções penais Henrique Baltazar.

PCC no RN

O magistrado conta que o PCC já tinha operações nos presídios do Estado desde 2010. Por meio de escutas telefônicas o Ministério Público Estadual estimava que a facção paulista tinha entre 200 e 300 integrantes nos presídios — para uma população carcerária de cerca de 8 mil detentos.

“Havia criminosos daqui que não gostavam do PCC, das normas rígidas de seu estatuto, e decidiram se organizar para fazer frente a eles. Mas não era nada levado muito a sério. Era, como se diz, um bando de ‘nóias’, drogados”, continua o juiz.

A coisa mudou em 2015, a medida em que traficantes e ladrões de banco mais organizados foram se juntando ao grupo. Em março, os integrantes do Sindicato organizaram uma rebelião nos dois presídios.

Mossoró

O motim se espalhou por outras cadeias do Estado e só se encerrou após uma negociação que incluiu mais respeito aos familiares dos presos nas visitas. Atrás das grades — que, aliás, já não existem no interior das cadeias, segundo o juiz –, o grupo passou a ser visto como vitorioso, e cresceu.

Na mesma rebelião, os potiguares do PCC se amotinaram no presídio de Mossoró, onde estavam concentrados. “Aconteceu que Mossoró foi o único em que o governo entrou na cadeia e acabou com a rebelião. Rapidamente. Eles ficaram desmoralizados”, diz o juiz.

Henrique vê avanço do "Sindicato" (Foto Ana Amaral)

O crescimento do Sindicato está relacionado, também, com suas associações. A facção precisou buscar outros fornecedores de drogas para alimentar seus negócios. E se associou, em uma espécie de cooperativa do crime, com outras facções regionais que surgiam como resposta ao domínio dos paulistas.

“Eles antes faziam negócios com o PCC no Paraná. Chegamos a interceptar teleconferências, feitas entre presos de três cadeias diferentes”, continua Baltazar. “Aí eles se associaram a outros grupos muito parecidos com eles, de outros Estados. Com os Amigos da Amazônia, com a Al-Qaeda, de Alagoas, e com o Comando Vermelho do Ceará. É assim que eles têm comprado drogas para abastecer o Estado”, afirma.

Mortes

O juiz faz as contas: diz que em 2014 havia 300 integrantes do PCC nas cadeias e 200 do Sindicato. Após a rebelião de 2015, o PCC terminou com 200 membros e o Sindicato, 1 mil. “Nesse crescimento, teve muito ‘suicídio’. Houve uns 30 casos de suicídio nas cadeias, que acompanhamos. Na verdade, o cara ‘era suicidado’ pelos companheiros.”

O secretário da Segurança Pública do Estado, general do Exército Ronaldo Cavalcanti Lundgreen, também afirma que a situação nos presídios foi uma das agravantes para a crise. Ele diz que somente com a abertura de mais vagas nos presídios é que as facções perderão forças. “A instalação dos bloqueadores foi só o fósforo riscado.”

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Categoria(s): Segurança Pública/Polícia

Comentários

  1. Amorim diz:

    Mais uma vez cara pálida, pergunto eu: pra que bloqueadores de celular se nos presídios não é permitida a entrada dos mesmos?

  2. carlos Albuquerque diz:

    A dez anos sem concurso para a pm e com 700 já convocados e aguardando somente o curso de formação o governo e a justiça entende que não é necessário a contratação deste pessoal! Ato criminoso não? Os homicídios continuarão no Estado certamente.

  3. Marcos Pinto. diz:

    Aqui no RN está precisando de um Coronel denodado para fazer a mesma varredura feita no Presídio do Carandiru.

  4. João Claudio diz:

    Resposta ao Amorim, se me permite.

    No brasil, tudo que é proibido é permitido. O ”jeitinho brasileiro” está presente em tudo.

    Para 99,99% da população, se acabarem o”jeitinho” o país se torna sério e, passando a ser sério, estraga tudo, não presta, perde a graça, fica sem sentido.

    Isso não é fato. É ”fatérrimo”.

    Esclarecimento ao Carlos Albuquerque:

    O problema não esta no números de policiais. O grande e único problema estão nas leis. No momento em que fizerem leis duras contra bandidos, a coisa muda.

    Lembrando que, na Grã-Bretanha, na Irlanda, na Islândia, na Noruega, na Nova Zelândia e em uma série de nações doo Pacífico os policiais patrulham desarmados, e não se vê por lá a violência que se vê por cá.

    Lá, e em quase todos os países do mundo, a população é consciente de que o crime não compensa, enquanto que cá, KKKK.

  5. carlos Albuquerque diz:

    João essa mudança nas leis meu avô já questionava nos anos 80.É necessário sim a oxigenação da polícia militar! Viva o Ceará, paraíba e Pernambuco.

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