HIERARQUIA OU COVARDIA?
Até onde vai a obediência hierárquica e onde começa a covardia? Seriam os jovens soldados alemães militares disciplinados ou monstros que sentiam prazer em matar pessoas indefesas? Seriam aqueles quase meninos que receberam lavagem cerebral heróis ou bandidos?
Sei que todos estão estarrecidos com a pergunta. Mas a que tipo de pressão eles estavam submetidos? Ninguém desconhece os métodos nazistas de controle da sociedade alemã que os seguidores de Hitler utilizavam e que tinham na propaganda e no terror os seus pontos altos.
Toda e qualquer desobediência de algum militar era considerada crime de traição e a punição não ficava restrita ao “traidor”, mas atingia toda sua família. E ser pai, mãe, irmão ou filho de um traidor significava o mergulho na miséria. E disto aqueles militares dos campos de extermínio tinham conhecimento.
Julgar e condenar é fácil. Principalmente quando analisamos os fatos sem um mínimo de cuidado. E mais fácil se torna julgar e condenar quando não nos colocamos na posição daquele a quem julgamos e invariavelmente condenamos. A história nos mostra casos e mais casos de soldados alemães que movidos pela compaixão arriscavam-se e praticavam gestos de grandeza, mesmo sabendo dos riscos que corriam.
Mas destes esquecemos e só nos lembramos de condenar os que obedeciam às ordens dos nazistas.
E nós? O que fazemos nós nos dias de hoje para vivermos em paz com nossas consciências? Procedemos de maneira a não permitir que no futuro sejamos visto como covardes?
A que tipo de pressão nos submetem quando exigem de nós a prática de atos que violam as nossas consciências? Podemos comparar estas pressões com as sofridas pelos militares alemães?
Por que diariamente pessoas inteligentes defendem corruptos? Pessoas que tem plena consciência de que estão agindo como advogados do diabo? Ou não é assim proceder defender quem saqueou a Petrobras causando desemprego e mergulhando na mais completa miséria dezenas de milhares de famílias?
Não nos ameaçam com a pena de morte. Não somos encostados contra a parede pelo que acontecerá aos nossos entes queridos se deixarmos de nos curvar aos desejos dos que manipulam toda a sociedade em que vivemos. Procedemos de maneira vil movidos apenas por baixos interesses. Muitas vezes por medo de perder posição dentro da pirâmide social nos calamos frente a grandes atrocidades. Ou não é um crime furtar a merenda de uma criança? E todos nós sabemos que isto acontece. E todos nós calamos. Como silenciamos quando à morte condenam doentes a quem negam o remédio salvador para embolsarem o dinheiro que usarão na compra de mansões e carros de luxo com que presenteiam as amantes e parentes. E tudo isto nós sabemos e nos calamos. Calamos e posamos de defensores da justiça social e dos direitos humanos com um cinismo gigantesco. E com desfaçatez incomensurável aos domingos comungamos, cantamos hinos de louvor ao Senhor e pregamos caridade.
Covardes os soldados alemães que cometeram atrocidades nos campos de concentração ou covardes nós que curvados a interesses mesquinhos causamos inveja a Pilatos?
Por que escrevi tudo isto? Não pensem que foi tentando justificar a pusilanimidade dos que praticaram monstruosidades nos campos de concentração nazistas. Escrevi para que tenhamos coragem de nos olharmos no espelho e constatarmos o quando nos afastamos dos ensinamentos de Cristo quando, por medo de ferir a hierarquia, nos calamos frente a todo tipo de patifaria.
O Padre Charles Lamartine deu o exemplo de como devemos proceder. Mostrou este jovem Padre a todos nós qual o caminho a seguir e nos deu a certeza de que, se tivermos que escolher entre a lei dos homens e a lei de Deus devemos sempre escolher a lei de Deus.
Mossoró um dia entenderá em toda a sua plenitude o gesto do Padre Charles Lamartine. Gesto que dele exigiu muita coragem, coisa que falta a quase todos nós que nos escudamos na obediência hierárquica para justificar as nossas omissões.
Parabéns, Padre Charles Lamartine, parabéns por não ter perdido o trem da história.
Inácio Augusto de Almeida
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