Por Marcos Pinto
A retentiva do tempo me induz e conduz para uma antológica reflexão do parente e amigo e consagrado escritor potiguar Manoel Onofre Júnior, que consiste na incisiva e peremptória afirmativa de que “a vida é uma grande reflexão sobre essa luta entre o tempo e a memória. A memória tentando recuperar o tempo e o tempo apagando coisas”.
Diante toda essa atual violência predominante, há como que uma compulsão em fugir para o passados em desabalada carreira. É nesse instigante pretérito de natureza íntima que encontro refúgio para a gula da alma em transes transcendentais. Não tenho dúvidas de que é no meridiano das minudências espirituais onde todas as verdades se insultam e se insinuam.
É também, aí, onde adentra o desiderato do poeta notívago, recomendando de forma sôfrega e ansiosa, que é chegado o momento de escondermos os estilingues e virarmos beija-flores, sem deixarmos lacunas para inoportunas e indesejáveis e repulsantes pilantragens.
Nessa azáfama toda, há necessidade premente de definição das minudências, após tanto tempo distante do ego, alertando para o considerável desafio do vácuo das realizações. Os bastidores do espírito entram em transe desgastante.
Vivemos a modernidade sob a predominância pungente de comportamentos erráticos em sincronia com uma insana desconexão com a verdade – o que é um perigo à harmonia com as coisas da alma. Somos, hoje, mais zumbis que gente. Somos uma legião de fantasmas mais assustados que assustadores.
Há mais de 80 anos o grande poeta e escritor potiguar Eloy de Souza, irmão da poetisa Alta de Souza, afirmou que “pior do que caminhar 40 anos no deserto é chegar à terra da promissão e sentir saudades do deserto”.
É exatamente nos segmentos sociais mais humildes, onde a pobreza franciscana faz morada, que nos deparamos com a incontestável certeza de que um dos únicos bens que a miséria não extingue é a solidariedade. E não me venham os materialistas dialéticos dizerem que isso é um diapasão sentimental por demais piegas.
Nada mais enleante do que o conhecimento das histórias daqueles que, sob o signo da humildade material galgam os mais elevados patamares da pirâmide social. Vemos nos olhos desses heróis anônimos o desfilar de palavras que denotam que os mesmos conhecem o gosto da glória sob a batuta e a ingente sinfonia do sacrifício.
Foi inserido nesse contexto de verdades e magníficas e emblemáticas realizações pessoais, que o famoso poeta pernambucano Antônio Marinho cunhou uma definidora frase, observando que “a morte é devoradora e a todos nós amedronta. A vida é quem bate o prego e a morte é quem vira a ponta”.
Compunge-nos a certeza de que todos mecanismos e dispositivos de relacionamentos sociais como Facebook, WhatsApp, Instagram e outros congêneres tem sopitado os nobres sentimentos da alma.
Cada um na sua e ninguém na de ninguém. A doentia e insana diferença chega ao cúmulo de nos levar a presenciar cenas deprimentes de pessoas sucumbindo à fome, morrendo à míngua, sem que ninguém estique a mão para dar um pão para saciá-los. É quando o coração se torna um túmulo sem epitáfio, escondendo um morto anônimo e possibilidades fraternais enterradas.
Que me denominem de piegas de marca maior, mas só gosto de falar de coisas que “só batem nos que conjugam a metáfora do peso dos anos”.
Tento esquecer a certeza de que a atual vida pública nacional é uma mistura de hipocrisia, conchavos e acobertamentos estratégicos protagonizados pelos que compõem o Congresso nacional, sob o olhar cúmplice da Suprema Corte Federal. Pior ainda é essa gestão federal que nos governa e asfixia com medidas penalizantes aos direitos sociais conquistados nos últimos 13 anos.
Quando a solidão se me faz companheira irredutível, sou cobrado por amigos que reclamam minha prolongada ausência dos eventos sociais. Nesse momento me socorro e me valho da lição de vida esposada na frase do saudoso e memorável amigo historiador Raimundo Nonato da Silva, que sentencia:
“É preciso ter acompanhado a trajetória do tempo para compreender as distâncias – geográfica e social – que separam os grupos e isolam as pessoas em certas latitudes da vida”.
Inté!
Marcos Pinto é advogado e escritor
Onde se lê Repulsastes pilantragens LEIA-SE Repulsantes pilantragens. Onde se lê Alta de Souza leia-se Auta de Souza. Onde se lê “…nada mais enleante leia-se nada mais enlevante. Obrigadoooo.
NOTA DO BLOG – Feito o reparo, Marcos. Bom domingo e abraços.
Mais um Artigo de luxo assim posso dizer, escrito por essa pessoa a qual admiro muito pela sua capacidade de raciocínio…existem as pessoas estudiosas e as inteligentes, Marcos Pinto é inteligentíssimo…imaginem escrever um Artigo dentro de poucas horas não é para qualquer um.